Coluna no Correio: O preço do plenário

Publicado em Economia

LEONARDO CAVALCANTI

O mundo político de Brasília cria determinadas verdades difíceis de serem comprovadas. A última lenda é a de que os deputados, ao voltarem para Brasília depois do recesso, estarão incensados com a insatisfação dos eleitores e, assim, complicarão a vida do presidente Michel Temer. Sim, doutor e doutora, pode até ser, afinal tudo parece caber nas análises nos últimos tempos. Mas é quase impossível prever tal coisa, afinal há uma clara discrição da população sobre a rejeição ao peemedebista, algo comprovado pelas pesquisas, mas distante das ruas. E a pressão nas redes sociais pode ser feita em qualquer tempo ou local, com o parlamentar em Brasília ou no estado de origem.

 

O argumento do “contato com as bases” foi usado por opositores do Planalto e acabou colando. Mas a verdade é que os governistas estão pouco preocupados com isso atualmente. A dificuldade do Planalto hoje é outra: contabilizar o preço da sobrevivência no plenário. Apenas na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) o governo desembolsou R$ 1,9 bilhão em emendas parlamentares que estavam contingenciadas. Na prática, a liberação dos recursos com a troca dos integrantes da CCJ garantiram a vitória de Temer. O problema é a incerteza de que isso possa se repetir no plenário.

 

O governo não admite a relação entre a liberação de emendas e o apoio na CCJ, afinal o dinheiro já estava previsto anteriormente. O problema é que a própria equipe econômica era contrária à liberação. Tudo piora quando o repasse aos parlamentares é comparado às restrições orçamentárias em áreas essenciais como saúde, educação e segurança. Assim, resta saber qual será o preço cobrado pelos deputados em agosto — e se o governo vai conseguir pagar de novo.