Coluna no Correio: O que pensa Ciro Gomes

Publicado em Economia

POR ANTONIO TEMÓTEO

De olho em preencher o vácuo caso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se torne inelegível, o ex-ministro e ex-governador Ciro Gomes (PDT-CE) tenta pavimentar uma candidatura ao Palácio do Planalto como um líder de centro-esquerda. Mas o discurso do político cearense contrário às medidas tomadas pela equipe econômica de Michel Temer causa pavor entre analistas e banqueiros. Queridinhos do mercado, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e o presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn, são considerados por Gomes como gestores de quinta categoria. A crítica, segundo ele, se estende ao ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira. Seu posicionamento se embasa nos principais indicadores econômicos do país.

 

O que confirma essa situação, aponta ele, é o fato de o país estar com deficit fiscal primário próximo de 150 bilhões, a receita pública em trajetória declinante, o desemprego no maior nível da história e a quantidade recorde de empresas em recuperação judicial. Além disso, o nível de provisionamento dos bancos está no maior volume já registrado e a inadimplência também é recorde. “A parte da nossa elite que vive do rentismo pirou”, alerta.

 

O político e pré-candidato à presidência da República também não poupa críticas ao trabalho realizado pela equipe de Ilan Goldfajn. Conforme ele, não há explicação para que os juros básicos da economia estejam em 10,25% ao ano diante de um processo tão forte de queda de preços. “Você tem uma chance de ouro de trazer a taxa de juros para um patamar razoavelmente civilizado e estamos com ela em 10,25%. O maior juro do mundo, sem explicação nenhuma”, diz.

 

Para ele, a política monetária piora a trajetória de crescimento da dívida pública, que deve terminar o ano em 75% do Produto Interno Bruto (PIB). “Nós estamos nos desindustrializando a ponto de o setor representar oito míseros por cento do PIB. Alguém vai elogiar esse trabalho?”, questiona. A reforma trabalhista aprovada pelo Congresso Nacional, destaca Ciro, é uma aberração que leva o país de volta ao século 19. Ele ressalta que nenhuma nação séria no mundo trata o trabalho com esse tipo de indignidade, nem cria insegurança jurídica e econômica.

 

Advogado formado pela Universidade Federal do Ceará (UFCE), ele explica que colocar o negociado acima das leis é uma prática inexistente na literatura jurídica. “No Brasil, o que estamos assistindo é a um tatcherismo mal lido, mofado e que já foi desmoralizado no mundo inteiro. Como será a negociação? O empresário, com uma fila de desempregados na porta, negociará com uma parte fragilizada”, afirma.

 

Ações

 

O remédio para a crise econômica, avalia Ciro, passa por um projeto de centro-esquerda, que fala para quem produz e para quem trabalha. “Acho que é possível construir um grande consenso nacional pragmático em relação a isso. Temos 17 estados que dependem grave e vitalmente da União. Imagine um projeto de consolidação dessas coisas, trazendo todo mundo para conversar sobre o processo de industrialização do país. Isso é comovente. Você cria uma onda que dá organicidade a um projeto”, diz.

 

Apesar de indicar que está disposto a dialogar com diversas siglas, Ciro decretou que não dividiria o palanque com o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ). “Em hipótese alguma isso aconteceria. Ele votou em mim para presidente da República, mas o que ele representa hoje é uma coisa absolutamente intolerável para um país como o nosso, em que o povo está tão exasperado e machucado”, sacramenta. Além disso, Ciro crítica a polaridade entre o PT, o PSDB e o fato de o PMDB ser o fiel da balança de qualquer governo. “Está na hora de o PT, o PSDB e o PMDB darem um tempo. Esses partidos precisam sair um pouco de cena e deixar o país experimentar outro projeto”, diz.

 

Outro problema, avalia o político cearense, é que a candidatura de Lula ao Planalto em 2018 seria um desserviço, já que o Brasil precisa “desesperadamente” discutir o futuro. Apesar das divergências com o petista, ele não vê problemas em ter o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT-SP) como eventual vice-presidente em sua chapa presidencial. “O PT é o que todos os partidos são. Tem coisas boas e ruins. Não é partido que está condenado. Não pretendo ser ditador do Brasil. Se um dia for candidato a presidente eu quero presidir o país. E quero fazê-lo em diálogo com todas as forças organizadas do país. E o PT é uma força organizada importante”, destacou.

 

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» Ciro Gomes apareceu entre os assuntos mais comentados no Twitter ontem. Entretanto, essa popularidade não tem sido capturada nas pesquisas realizadas com diversos nomes que podem concorrer ao Palácio do Planalto. Sobre o assunto, ele fez piada. “Pouco, né? A gente precisa ter mais percentual de votos. Pesquisa não revela nada, senão o momento atual”, diz.