Carta ao Banco Mundial contra indicação de Weintraub recebe 270 assinaturas

Publicado em Economia

ROSANA HESSEL

 

Uma carta enviada ao Banco Mundial (Bird) contra a indicação do ex-ministro da Educação Abraham Weintraub para assumir uma das 25 cadeiras Conselho de Diretores Executivos do organismo multilateral recebeu 270 assinaturas de entidades civis e de personalidades, de acordo com dados dos organizadores.

 

O texto teve apoio de  empresários, economistas, professores, ex-ministros e artistas. Entre os signatários, destacam-se o diplomata e ex-ministro da Fazenda Rubens Ricupero, um dos idealizadores da carta, e cuja iniciativa foi 100% da Conectas Direitos Humanos. O empresário Philip Yang, do Instituto Urbem, também ajudou na coleta das assinaturas.

 

Também assinaram o documento o cantor Chico Buarque, a ex-ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira, o ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) José Pio Borges e o deputado federal Alessandro Molon (PSB-RJ). A Conecta, o Instituto Urbem  e  o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) estão entre as 15 entidades que assinaram o documento.

 

A carta afirma que Weintraub não possui as “mínimas qualificações éticas, profissionais e morais para ocupar o posto na 15ª diretoria-executiva do Banco Mundial”. A missiva ainda chama a atenção para o fato de que a nomeação do ex-ministro para esta posição “pode causar danos irreparáveis ao posicionamento de seus países no Banco Mundial”e destaca que o ministro não cumpre vários requisitos e princípios do Código de Conduta para os membros do Conselho.

 

Fontes próximas ao Banco Mundial informaram ao Blog que funcionários do organismo também estavam se articulando para barrar a indicação de Weintraub.

 

O documento com as 270 assinaturas foi enviado, nesta sexta-feira (19/06), para a Diretoria Executiva do Banco Mundial e para a as embaixadas dos oitos países que devem apreciar a indicação do ex-ministro ao cargo: Colômbia, Equador, Trinidad & Tobago, Filipinas, Suriname, Haiti, República Dominicana e Panamá. A tendência é que a indicação seja aprovada para o mandato-tampão até 31 de outubro, quando deverá haver uma nova eleição para a cadeira.

 

O mandato é de dois anos, mas o posto está vago desde outubro do ano passado quando o economista Fábio Kanckzuk, indicado pelo ex-presidente Michel Temer, retornou ao Brasil para assumir uma das diretorias do Banco Central. Economistas de renome, como Pedro Malan e Otaviano Canuto, já ocuparam a cadeira brasileira que poderá ser do polêmico Weintraub.

 

De acordo com carta,  o comportamento Weintraub representa a “antítese de tudo o que o Banco Mundial procura representar em política de desenvolvimento e multilateralismo”, como ideologia sobre política baseada em evidências e conduta incompatível com os padrões da integridade ética e profissional.

 

O ex-ministro anunciou ontem em um vídeo que deixou a pasta para assumir a diretoria executiva do Banco Mundial, por escolha do presidente Jair Bolsonaro. Hoje, mais cedo, escrevem em seu perfil nas redes sociais que estará saindo do Brasil “o mais rápido possível (poucos dias)”. “Não quero brigar! Quero ficar quieto, me deixem em paz, porém, não me provoquem!”, acrescentou.

 

Tradicionalmente, a indicação para a cadeira da Diretoria Executiva do Conselho do Banco Mundial, conhecido como Board, não era um problema para o Brasil, porque o país tem mais de 50% das cotas de participação do grupo que ele integra. Como houve uma queima de etapas no processo, pois o nome foi anunciado antes da consulta aos demais países prévia à votação, se houver rejeição de algum membro, o constrangimento será grande para o Brasil, que vem se apequenando na diplomacia internacional.

 

De acordo com Ricupero, a indicação de Weintraub para o Banco Mundial é “mais um atentado ao pouquíssimo que restava da credibilidade externa do Brasil”.  O especialista em relações internacionais Wagner Parente, CEO da BMJ Consultores, lamentou que a indicação por si já virou piada internacional.

 

“O que pesa nesses organismos multilaterais é a diplomacia e convém consultar antes de anunciar o nome para evitar rejeição”, destacou Parente. Ele lembrou que, como o Banco Mundial ainda está fechado por conta da pandemia de covid-19, é provável que essa indicação fique em banho-maria até as próximas eleições.

 

 

Veja a íntegra da carta e a lista de assinaturas:

 

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