Caminhoneiros desdenham de propostas do governo e já falam em greve

Publicado em Economia

RODOLFO COSTA

As medidas anunciadas pelo governo para solucionar a vida dos caminhoneiros não colou com a categoria. Para eles, medidas como a liberação de linhas de financiamento do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a construção de pontos de parada e de descanso nas rodovias em regime de concessão, obras em estradas e até a fiscalização do piso mínimo de frete não convenceram. Em grupos de WhatsApp, alguns já falam em promover uma greve. Os mais indignados comentam em uma nova paralisação, como em 2018, sugerindo a obstrução de rodovias. Os mais radicais falam em greve em 21 de maio.

O Blog obteve acesso a protestos de caminhoneiros em dois grupos de WhatsApp. O Comando Nacional do Transporte, que conta com 188 participantes de norte a sul do país, e a Transporte Rodoviário de Carga (TRC), que tem 197 membros. São vários líderes dentro dos dois grupos que, por sua vez, representam outros transportadores autônomos nas respectivas regiões ou nos estados.

Dois grupos

O processo de paralisação é definido basicamente nesses dois grupos atualmente, onde estão as principais lideranças. A possibilidade real de greve ainda não existe. Por ora, o que tem são murmúrios, pondera o caminhoneiro Ivar Schmidt, líder do Comando Nacional de Transporte. Entretanto, admite que, após as medidas anunciadas pelo governo, uma nova greve pode ocorrer este ano. “Não irei incentivar jamais, mas, enquanto não houver o cumprimento da fiscalização da jornada de trabalho, paralisações podem ser deflagradas a qualquer momento, por qualquer motivo”, ponderou.

A argumentação do governo para cumprir com a jornada de trabalho da categoria, de 8h mais 2h extras diárias, não convence a categoria. O ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, afirmou que serão construídos pontos de parada e descanso nas rodovias concedidas. “Já estamos aumentando a fiscalização e vai aumentar ainda mais. A Lei do Descanso a gente tem que atuar na provisão de infraestrutura para que haja o descanso. Tem que haver o descanso, mas onde vai parar o caminhoneiro? Não tem segurança, local de parada adequada. Muitas vezes o local não permite que tenha um banho e é quase impelido a seguir em jornada quase suicida para chegar ao seu destino o mais rápido possível”, explicou.

Justificativa

A justificativa não convence a categoria. A construção de pontos é avaliado por eles como garantia de segurança, e não como uma medida que fortalece a categoria. Como o Correio revelou em matéria publicada nesta terça-feira (16/4), o cumprimento da jornada de trabalho é uma medida mais eficaz para equilibrar o excesso da oferta com a demanda no setor do que o próprio piso mínimo de frete. “Pontos de parada não vai resolver o problema da jornada, que se resolve com fiscalização. PRF tem que parar caminhões e punir quem não cumpre com a jornada de trabalho, como é feito em países de primeiro mundo”, destacou o caminhoneiro Aldacir Cadore, líder de caminhoneiros do entorno do Distrito Federal.

As lideranças evitam falar em greve, mas a leitura dos líderes é que está mais difícil conter os ânimos. “A paralisação tem efeito dominó. Basta um autônomo tomar a iniciativa em uma região e aí é questão de horas ela se alastrar em todo o país. Não tem data nem horário para começar, nem terminar. Sou totalmente contra uma nova greve, mas é o desenho que vejo hoje nos grupos por medidas erradas do governo e a falta de representatividade certa da categoria”, advertiu Cadore.

Qualidade

A avaliação feita por caminhoneiros é de que as medidas anunciadas pelo governo não dão garantias concretas para melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores. “Isso aí não é nada, nada. Não tem com o que se apegar. Não temos garantia de nada.  Ou o governo está muito mal assessorado ou quem conversa com o governo por nós está passando as coisas erradas”, criticou um caminhoneiro.

Outro diz que é preciso parar as grandes transportadoras. “Temos que saber a força que nós temos e fazer eles parar na marra. O governo está morrendo de medo de nós pararmos de novo. É só anunciar que vamos parar que, daqui a uma semana e vocês vão ver o que acontece. Estão analisando nós, ensaboando nós e estamos ficando quietinhos. Simplesmente não dá mais. Temos que chegar e ser unidos. Temos união. É só unir todo mundo. Temos que parar mesmo”, comentou outro.

Brasília, 14h11min