Processo de seleção de vices não blinda Caixa de ingerências políticas

Publicado em Economia

POR ANTONIO TEMÓTEO

 

Sem alarde, a Caixa Econômica Federal abriu o processo seletivo para escolha de quatro vice-presidentes. As vagas são para a Vice-Presidência Corporativa, para a Vice-Presidência de Fundos de Governo e Loterias,  para a Vice-Presidência de Governo e para a Vice-Presidência de Habitação. Os interessados poderão se inscrever até 20 de agosto. A seleção é organizada pelo Comitê de Indicação e Remuneração do banco público e será conduzido pela empresa Russell Reynolds.

 

Quem for selecionado receberá a bagatela de R$ 653.122,86 de remuneração anual, incluindo décimo terceiro, remuneração variável de até R$ 286.369,25, além de R$ 109.295,16 em benefícios. Após as inscrições, será realizada uma pré-seleção entre os dias 20 e 31 agosto, seguida de uma avaliação de perfil entre 3 e 14 de setembro. As entrevistas finais serão realizadas em 17 de setembro. Podem participar do processo empregados com 10 anos de serviço na Caixa e cargos de chefia, servidores públicos e trabalhadores do setor privado. 

 

Estão vedados aqueles que possuem vinculação partidária, assim como previsto na lei das estatais. Além disso, é necessário a comprovação de nível superior. Na etapa de avaliação de perfil serão selecionados até 12 candidatos por vaga e na de entrevistas até seis. “Ao final da seleção, caso o conselho de administração entenda que um candidato possui perfil compatível para vaga em outra Vice-Presidência, poderá consultá-lo acerca do interesse de exercer o cargo em área diversa da inicialmente indicada”.

 

O processo seletivo é uma iniciativa interessante, mas ainda traz inúmeras brechas para indicações políticas já que não foram detalhados quais serão os critérios usados, apenas os pré-requisitos. Nada impede que um partido político negocie com o Executivo um nome que atenda a todas as exigências. Para candidatos sem vinculação com o banco público e com o poder público, basta comprovar que tinha um cargo de direção de assessoramento (DAS) 4. Além disso, os escolhidos precisam do aval do conselho de administração da Caixa, um órgão político. 

 

Esse processo seletivo é um desdobramento da Força Tarefa Greenfield, do Ministério Público Federal, que investiga fraudes em bancos públicos e fundos de pensão de estatais. Em 15 de dezembro de 2017, osprocuradores da República que integram a força-tarefa recomendaram ao então presidente da Caixa, Gilberto Occhi, e ao ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha (PMDB-RS), que substituíssem todos os vice-presidentes do banco público.

 

O documento, assinado pelos procuradores Anlsemo Lopes, Frederico Ferreira, Paulo Gomes e Sara Leite apontou que vários dos vice-presidentes da Caixa eram investigados pelo MPF, eram apadrinhos por políticos e não tinham comprometimento em zelar pelos interesses da estatal. Apenas quatro deles foram afastados e demitidos.

 

Além disso, os procuradores recomendaram que a indicação de vice-presidentes seja feito por meio de processo seletivo conduzido por head hunter, contratados por meio de processos licitários. Alem disso, recomendam que pareceres da Corregedoria e da área Jurídica do banco sejam oferecidos ao conselho de administração antes de que os candidatos sejam escolhidos. Nenhuma dessas recomendações do MPF, entretanto, foi levada em conta pela Caixa na hora de definir o processo seletivo para escolha dos quatro vice-presidentes.