BRASIL CRIOU MENOS DE 400 MIL EMPREGOS EM 2014, DIZ MINISTRO

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>> ANTONIO TEMÓTEO E BÁRBARA NASCIMENTO

O ministro do Trabalho, Manoel Dias, admite que o estoque de empregados com carteira assinada cresceu menos de 1% em 2014. A pequena expansão indica que foram abertas menos de 400 mil vagas no ano passado, o pior resultado desde 1999. Naquele ano, o saldo entre admissões e desligamentos foi negativo em 196 mil postos. O número oficial do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) será divulgado hoje.Em relação a 2013, a criação de vagas encolheu mais de 64%. O número ruim se confirmou porque, em dezembro, foram fechados 538 mil postos com carteira assinada. Mesmo com a piora do mercado de trabalho, Dias avalia que as medidas tomadas pelo governo, que implicaram alta de juros, de impostos e de preços de energia elétrica, colocarão o país de volta aos trilhos do crescimento econômico.Dias destaca ainda que as mudanças nas regras de concessão de seguro-desemprego e abono-salarial serão importantes para reduzir a rotatividade do mercado sem retirar direitos dos trabalhadores. Confira abaixo os principais trechos da entrevista exclusiva que o ministro concedeu ao Correio.

O ano passado foi ruim para o mercado de trabalho. O ministério projetou a criação de 1 milhão de empregos em 2014, mas a meta não foi atingida. O que ocorreu?O ano de 2014 foi atípico. Primeiro, tivemos a Copa do Mundo, em que se empreendeu uma campanha negativa de que o evento não aconteceria. Além disso, a produção nacional e as vendas encolheram com menos dias úteis. Nas cidades sedes, foram vários os feriados e todos estavam ligados no futebol. Isso afetou o mercado de trababalho. Em seguida, tivemos as eleições, com um debate muito efervescente. Aqueles que perderam o pleito mantiveram uma oposição rígida e continuaram uma campanha de afirmação de que o Brasil estava em crise. Tudo isso influenciou negativamente a atividade econômica, os planos de investimento e a expansão de empresas. Mas nem por isso o Brasil deixou de criar empregos.

Como foi a geração de vagas em dezembro?Dezembro é um mês em que, historicamente, são extintos milhares de postos de trabalhos. Vamos ter, como nos outros anos, um número expressivo de redução. Mas, ainda assim, o estoque de empregados cresceu 1% ao longo do ano. A geração total de empregos foi maior que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).

O ministro da Fazenda, Joaquim Levy , admitiu a possibilidade de contração da atividade econômica no primeiro trimestre de 2015. Nesse contexto, o que ocorrerá com o mercado de trabalho?Passamos por um momento de medidas corretivas para adequar a economia à nova realidade. Existem setores com previsão de investimento para segurar a criação de empregos. Foram concedidos mais de 4 mil quilômetros de rodovias que precisarão de trabalhadores. Os investimentos em portos ultrapassarão R$ 17 bilhões. O setor de petróleo e gás prevê que serão investidos R$ 50 bilhões e haverá abertura de vagas. O investimento estrangeiro também ultrapassará US$ 60 bilhões em 2015. Então, podemos esperar um resultado positivo para o ano.

Como o governo convencerá as centrais  de que as mudanças no seguro-desemprego e  no abono salarial são importantes para o ajuste das contas públicas?Eu e os ministros da Previdência Social, do Planejamento e da Secretaria-Geral da Presidência da República estivemos em São Paulo para apresentar às centrais as medidas enviadas ao Congresso. Expusemos os objetivos dos ajustes nas concessões. As centrais ouviram e colocaram as suas preocupações. É natural que estejam permanentemente preocupadas com a manutenção dos direitos trabalhistas, com a geração de emprego e com o aumento real do salário mínimo. Amanhã (hoje, sexta-feira), elas nos apresentarão propostas e nós devemos ter uma nova reunião em 3 de fevereiro para continuar o diálogo. O governo já sinalizou que está sempre disposto a conversar.

O governo pretende voltar atrás em alguma medida?Não se trata de voltar atrás; trata-se de dialogar. A partir da proposta das centrais vamos estabelecer o diálogo e aí faremos nossas avaliações.

As centrais prometeram ir à Justiça contra as medidas e dificultar a tramitação no Congresso. O senhor teme que o texto não seja aprovado?No Congresso, também teremos um amplo debate, como é da natureza do Legislativo. Lá é o campo político de discussão e aprovação dessas medidas. Devemos participar, prestar todos os esclarecimentos necessários, e o resultado será democrático.

As mudanças na concessão de benefícios são um retrocesso?A presidente Dilma já reafirmou que não haverá retrocesso. A proposta do governo pretende adequar problemas identificados. Nós temos discutido há mais de um ano, no Conselho Deliberativo do FAT (Codefat), a saúde financeira do fundo. Nós, como gestores, temos a responsabilidade de gerir o FAT com competência para que ele não acumule prejuízos que impliquem perda dos direitos do trabalhador. Vivemos um momento de alta rotatividade no mercado que é anormal. Mas também dobramos o número de trabalhadores com carteira assinada.

Outras mudanças estão em discussão?Não creio. Mas haverá mudanças no sentido de criar mecanismos para combater a rotatividade.

Brasília, 12h59min