Brasil é o emergente mais endividado do mundo, diz Tony Volpon

Publicado em Economia

ROSANA HESSEL

 

Ao comparar a dívida pública de economias em desenvolvimento, o economista-chefe do banco suíço UBS, Tony Volpon não tem dúvidas em afirmar que o Brasil é o emergente mais endividado do mundo, “disparado”.  Ele fez essa observação durante o lançamento do livro “Pragmatismo sob coação – Petismo e economia em um mundo de crises”, nesta quinta-feira (03/10), em palestra na Universidade de Brasília (UnB). Para o ex-diretor do Banco Central, a interferência crescente do mercado financeiro na condução da política macroeconômica do governo é resultado desse endividamento elevado.

 

A dívida pública bruta nacional está perto de 80% do Produto Interno Bruto (PIB) pelas projeções do BC. “O Brasil é, disparado, o emergente mais endividado. E essa dívida está na mão de investidores locais”, destacou Volpon, lembrando que, pelo fato de a maior parte dessa dívida ser interna, o mercado acaba interferindo mais quando o governo erra a mão no ajuste fiscal.  Ao citar a Argentina, que depende do endividamento externo, a saída acaba passando por mais inflação ou calote. 

 

“Tem pessoas que acham ruim essa interferência, mas o mercado não fica quieto quando é ele quem financia o governo. É assim que funciona quando o endividamento público é tão elevado. Se não quer criar essa dependência do mercado, o país não deve se endividar tanto”, pontuou Volpon, ao lado do ex-ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, e professor da UnB.

 

Na avaliação do economista-chefe do UBS, o mercado, atualmente, está permitindo que o governo de Jair Bolsonaro faça um ajuste fiscal mais gradual, algo que não foi permitido durante o período em que o ex-ministro da Fazenda, Joaquim Levy, estava tentando fazer ajustes durante o segundo mandato de Dilma Rousseff.  

 

“Naquela época, não se permitia nada diferente do que um ajuste fiscal mais duro. Hoje, o mercado permite fazer um ajuste extremamente gradual. Vamos ficar 10 anos para conseguir voltar a ter um superavit primário (economia para o pagamento dos juros da dívida pública)”, afirmou Volpon. “Mas o mercado permite que isso seja feito com as menores taxas de juros da história”, ressaltou ele, lembrando que o processo de ajuste teve início no governo Dilma e “continua até hoje”.

 

Barbosa fez questão de lembrar que o governo Dilma, do qual ele fez parte no primeiro mandato, saiu em 2013, mas retornou em 2015, tinha propostas de reformas da Previdência, tributária e administrativa, mas que acabaram não tendo o apoio esperado, como foi o caso da tentativa frustrada de ressuscitar a CPMF, de forma temporária. O ex-ministro ressaltou que a primeira fase da Operação Lava Jato ocorreu em 2014 e isso acabou afetando a economia com o colapso das empreiteiras, contribuindo para que o país entrasse em recessão nos dois anos seguintes. “É ingenuidade falar que a economia desacelerou só por conta da contração fiscal. O Orçamento foi um dos mais inchados da história”, pontuou.

 

Volpon e Barbosa reconheceram que a China teve um importante papel no crescimento global, e, principalmente, do Brasil, durante os dois mandatos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pois isso contribuiu para a forte alta nos preços das commodities. O economista do UBS ressaltou que a entrada do país asiático na Organização Mundial de Comércio (OMC), em 2001, foi crucial nesse processo. Essa adesão, que teve contribuição forte dos Estados Unidos, colaborou para que Produto Interno Bruto (PIB) chinês tivesse um crescimento forte, puxando o crescimento econômico global, ao ser então reconhecido como economia de mercado.

 

“O evento mais importante do milênio é a entrada da China no ambiente econômico global”, afirmou o ex-diretor do BC. “O governo dos EUA, de fato, ajudou a China a entrar na OMC sem imaginar que o país se tornaria um concorrente. Somente agora, que os EUA acordaram para essa realidade”, destacou.

 

Pelas projeções do UBS, o Brasil deverá crescer 0,8%, neste ano, e 1,5%, em 2020, abaixo das estimativas do BC, de 0,9% e de 1,8%, respectivamente. Com esse desempenho,, o país deve encerrar a década com a pior média de expansão da história, de 0,6%, segundo Volpon.