Bolsonaro terá um longo caminho a percorrer para reduzir a desconfiança

Publicado em Economia

Presidente eleito do Brasil, Jair Bolsonaro, do PSL, assumiu, em seu primeiro pronunciamento oficial, compromisso com a Constituição. Prometeu “recuperar” o país e recolocá-lo entre as grandes nações do mundo. Procurou passar esperança, sobretudo aos jovens, e se comprometeu a pacificar o país, perigosamente mergulhado em um clima de radicalização.

 

Mesmo com os quase 58 milhões de votos que recebeu no segundo turno das eleições, Bolsonaro é uma grande incógnita, principalmente diante dos problemas que o Brasil enfrenta. Há uma crise ética sem precedentes. Uma desconfiança enorme em relação aos políticos. E uma interminável crise econômica.

 

É na economia, porém, que o presidente eleito terá que centrar fogo. Por mais que os brasileiros que votaram nele tenham elegido o combate à corrupção como prioridade, se ele não conseguir retirar o país do atoleiro, da recessão profunda iniciada em 2014, dificilmente conseguirá atender às expectativas.

 

Os brasileiros, daqui por diante, vão cobrar uma reação forte da atividade econômica. Há quase 13 milhões de desempregados. Outros 14 milhões dizem que não ganham o suficiente para fechar as contas do mês. São os subempregados. Mais de 4,5 milhões de brasileiros simplesmente desistiram de procurar trabalho. São os desalentados.

 

O problema se agrava porque o governo não tem condições de promover políticas para incentivar a economia, pois está com as contas públicas em frangalhos. Entre 2008 e 2009, o então presidente Lula conseguiu enfrentar, com sucesso, o terremoto provocado pelo estouro da bolha imobiliária norte-americana justamente usando a folga de caixa para fazer o que os especialistas chamam de política anticíclica.

 

Bolsonaro terá que lidar com um deficit público monstruoso. Quando tomar posse, já terá que enfrentar um rombo previsto de R$ 139 bilhões. Além disso, há o risco de o governo descumprir a tal regra de ouro, que impede o governo de se endividar para pagar gastos correntes, como salários de servidores e aposentadorias e pensões. Para não descumprir a regra de ouro, terá que arrumar mais de R$ 250 bilhões.

 

A gravidade da situação fiscal está, inclusive, na base da desconfiança que atormenta o país. Sem perspectiva de melhora nas contas públicas, os investidores, que poderiam ampliar seus negócios para ofertar empregos, mantêm o pé no freio. Na melhor das hipóteses, as contas só voltarão ao azul em 2025.

 

O ponto crucial para a melhora das contas públicas é a reforma da Previdência. Sobre esse quesito, o capitão reformado do Exército mudou o discurso várias vezes. Primeiro, defendeu as mudanças e jogou a culpa pelo deficit do sistema previdenciário no colo dos servidores públicos, chamados por ele de “marajás”. Depois, disse que a reforma não era tão urgente. Agora, já cogita encampar o projeto que o presidente Michel Temer enviou ao Congresso.

 

Ou seja, a euforia que se viu entre os eleitores depois da confirmação da vitória de Bolsonaro sobre Fernando Haddad (PT) aos poucos se transformará em desconfiança se as tão propaladas mudanças não vierem no ritmo da ansiedade do país. Por esse prisma, o presidente eleito ainda é uma grande incógnita. Assim, quanto mais rápido divulgar sua equipe econômica e explicitar que caminho seguirá na economia, menor será a chance de errar.

 

Brasília, 23h10min