A AUTODESTRUIÇÃO DE UMA PRESIDENTE

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Logo após ser eleito presidente do Brasil em 2002, o petista Luiz Inácio Lula da Silva usou e abusou do termo herança maldita, cunhado por seus marqueteiros de campanha, para colar em Fernando Henrique Cardoso, então chefe do Executivo, a pecha de incompetente. Em alto e bom som, pregava que, ao assumir o governo, o tucano lhe entregaria um fardo de problemas que levariam anos para ser superados. Lula se posicionava como o salvador da pátria, embalado na promessa de esperança de um país melhor.

 

Tão logo, porém, chegou ao Palácio do Planalto, Lula não só manteve a política econômica do tucano, como a reforçou. Animal político, o petista acatou todos os conselhos dos bons economistas que o cercavam. Conseguiu derrubar a inflação, impulsionou o crescimento econômico e pôde levar adiante um admirável programa social. Foi um presidente altamente popular. Tanto que, se as eleições fossem hoje, teria grandes chances de voltar ao Palácio do Planalto, mesmo com todas as acusações de corrupção que pesam sobre ele.

 

Quando escolheu Dilma Rousseff para sucedê-lo, Lula acreditava que a eficiente ministra da Casa Civil seria um trunfo para consolidar o projeto de poder do PT, que tantas vezes havia sido derrotado. Mulher, torturada pela ditadura, fiel e com fama de ótima gerente, Dilma pavimentaria o caminho para que seu criador voltasse aos braços do povo quando 2018 chegasse. As urnas sancionaram os planos do líder petista.

 

O que se vê hoje, porém, é o fim antecipado da era PT. Dois anos e meio antes do previsto para o encerramento de seu mandato, a presidente Dilma deverá ser afastada de forma melancólica do poder pelo Senado.

 

Porta dos fundos

 

Dilma já garantiu seu lugar na história, não apenas por ser a segunda chefe de governo a sofrer impeachment em apenas 24 anos. Pela herança maldita que construiu desde 2011, quando tomou posse, liderará, com folga, a lista dos piores presidentes do período republicano. Ao descer a rampa do Planalto — ou mesmo ao sair pela porta dos fundos —, a petista deixará a seu sucessor, Michel Temer, um país arrasado, mergulhado em uma gravíssima recessão, com inflação de quase 10%, mais de 11 milhões de desempregados, dívida pública encostando nos 70% do Produto Interno Bruto (PIB) e rombo de pelo menos R$ 100 bilhões nas contas federais somente neste ano.

 

Até o último instante da sessão de hoje do Senado que definirá seu afastamento, Dilma dirá que é inocente e que não cometeu nenhum crime que justifique uma punição tão severa, como a perda de um mandato garantido por mais de 54 milhões de votos. Mas foi ela própria quem definiu o destino que agora refuta. A presidente se mostrou incapaz para o cargo. Alimentada pela arrogância e pela empáfia, foi desconstruindo todas as qualidades que o país acreditava que ela tinha. A gerentona era, na verdade, incapaz de comandar equipes, de definir projetos e prioridades. Era incapaz de ouvir.

 

A mulher intolerante com malfeitos se cercou de pessoas cujo único intuito era tirar proveito dos cargos que ocupavam. Não por acaso, boa parte delas está na mira da polícia. A faxina ética que executou nos primeiros meses de mandato não passou de campanha de marketing. Foi, porém, na economia, que Dilma cometeu seus maiores pecados. Dona da verdade, obrigou o Banco Central a cortar juros mesmo com o custo de vida em alta. Mandou a Petrobras segurar os preços dos combustíveis e determinou às empresas de energia que reduzissem a conta de luz para dar uma falsa sensação de bem-estar à população. Usou e abusou do caixa do Tesouro Nacional para bancar suas excentricidades e pedalou com os bancos públicos.

 

A presidente que se gaba de ser honesta tripudiou a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) e fechou os olhos para a organização criminosa comandada por seu partido, que saqueou a Petrobras. Tanto fez para proteger colegas petistas e empreiteiros corruptos que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) abertura de inquérito para investigá-la por suposta obstrução à Justiça, ao tentar atrapalhar as investigações da Lava-Jato.

 

Feridas expostas

 

Apesar do desastre que Dilma provocou no país, que culminou com uma crise política sem precedentes, ninguém está feliz por ver mais um presidente da República ser apeado do poder. Será um trauma que deixará cicatrizes profundas. Mas não há outro caminho. Dilma perdeu a capacidade de governar. Esse foi o verdadeiro golpe dado no país. A economia está parada. Uma em cada três fábricas deixou de produzir. Mais de 1,8 milhão de empresas fecharam as portas apenas em 2015. A perspectiva é de que o número de desempregados chegue a 14 milhões até o fim do ano. Tudo isso mostra, na avaliação do economista Carlos Thadeu Filho, sócio da Consultoria MacroAgro, que o Brasil regrediu pelo menos 10 anos e comprometeu o futuro de gerações.

 

Estudos de integrantes da equipe econômica apontam que, com Dilma no poder até o dezembro de 2018, o país mergulharia numa profunda depressão econômica. A destruição da confiança entre os agentes produtivos foi tão forte que mesmo que Michel Temer reúna o melhor time do mundo — o que está descartado —, levará anos para se reconstruir os pilares da estabilidade. O Brasil, infelizmente, ainda sofrerá muito até curar todas as feridas. Tomara que, mais à frente, todo o flagelo seja compensado. Mas, por enquanto, o que temos no horizonte são apenas promessas. Nada mais que isso.

 

Brasília, 08h01min