A INFLAÇÃO DE LEVY

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O choque de realidade que o governo está dando nos brasileiros terá a primeira medição na sexta-feira, quando o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgará o IPCA-15, a prévia do índice oficial de inflação. As apostas são de que a taxa ficará entre 0,9% e 1%, números que não se vê para meses de janeiro em mais de três anos.

O IPCA-15 já incorporará os reajustes das passagens de ônibus nas principais capitais do país e parte dos aumentos das tarifas de energia elétrica. O índice fechado do mês será, porém, bem maior, acredita o economista-chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira. Pelas contas dele, o primeiro IPCA de Joaquim Levy à frente do Ministério da Fazenda chegará a 1,2%. Com isso, a inflação acumulada em 12 meses ficará muito próxima dos 7%.

“Não há dúvidas de que o custo de vida em janeiro será muito elevado, puxado, sobretudo, pelas tarifas públicas. E não será diferente em fevereiro, quando o IPCA será influenciado pelo grupo educação e, claro, pelos combustíveis”, ressalta Oliveira. “Com isso, apenas nos dois primeiros meses de 2015 teremos inflação superior a 2%, ou seja, quase a metade do centro da meta, de 4,5%, definida pelo governo para todo o ano”, acrescenta.

A carestia é reflexo da arrumação de casa que o governo Dilma Rousseff está sendo obrigado a fazer para tentar reconstruir a confiança de investidores e empresários. Sem a retomada dos investimentos produtivos, não há como o país sair do atoleiro em que se encontra. São grandes as chances de o Brasil mergulhar na recessão nos próximos meses. Mas a aposta de Levy é de que, à medida que os resultados do ajuste fiscal forem aparecendo, o humor dos donos do dinheiro mudará.

Nos cálculos do Banco Santander, mesmo que o governo entregue o que prometeu em termos de meta de superavit primário — 1,2% do PIB —, a retomada do Produto Interno Bruto (PIB) será muito lenta. A aposta da instituição espanhola é de que o crescimento deste ano, não considerando a hipótese de racionamento de energia elétrica, ficará em apenas 0,3%. Em 2016, quando Levy e o Banco Central esperam ver a inflação caminhando para o centro da meta, será possível a economia cravar alta de 1,3%.

Ninguém descarta, contudo, a possibilidade de o país registrar três anos perdidos em termos de crescimento — 2014, 2015 e 2016. Será uma sequência de taxas de expansão próximas de zero sem precedentes nos últimos 30 anos. “A ordem dentro do governo é para mantermos o otimismo. Não é possível que, depois de anunciarmos tantas medidas impopulares, como o aumento da energia elétrica e as restrições a benefícios sociais, a credibilidade da política econômica continue no chão. Investidores e empresários vão se render ao pragmatismo do governo, cedo ou tarde”, diz um ministro com bom trânsito no Palácio do Planalto.

Dilma aprende a ouvir

Apesar do silêncio estratégico sobre a economia — desde que tomou posse, não emitiu uma palavra em público —, Dilma Rousseff vem acompanhando todas as repercussões das medidas anunciadas pelo governo. Nada tem escapado do seu crivo. A chefe do Executivo tem conversado sistematicamente com integrantes da equipe econômica em busca de retorno de empresários e investidores. E, para espanto de muitos, ao contrário dos últimos quatro anos, ela vem mostrando mais disposição para ouvir.

Lula teme aloprados

» A interlocutores mais próximos, o ex-presidente Lula tem se mostrado radiante com a brusca mudança de Dilma Rousseff. Acredita que, enfim, a petista admitiu os erros cometidos no primeiro mandato. Lula ressalva, porém, que será preciso esperar um pouco mais para ver até onde vai o pragmatismo da sucessora. Não se pode esquecer, porém, que ela está cercada de aloprados.

Confiança de Tombini

» O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, transmitiu tranquilidade para a presidente Dilma em relação à inflação. Garantiu que, neste primeiro momento, realmente o custo de vida dará um salto, estimulando reações fortes contra o governo. Mas garantiu que, passado o impacto dos ajustes, o IPCA começará a convergir para o centro da meta e os críticos vão se calar.

Aval do mercado

» Investidores mais otimistas ajudaram a derrubar as taxas de juros nos mercados futuros. Todos os contratos com vencimento mais longos apresentaram queda, indicando que, com o ajuste fiscal anunciado por Joaquim Levy, o Banco Central terá mais facilidade para retomar o controle da inflação. Há, inclusive, quem já aposte em corte na taxa básica (Selic) ao longo de 2016.

Copom mais contido

» O economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, acredita que o Comitê de Política Monetária (Copom) surpreenderá o mercado hoje e aumentará os juros em apenas 0,25 ponto percentual, para 12% ao ano. Essa taxa, diz ele, será mantida inalterada até o fim de 2015.

Divergência do racionamento

» Técnicos do Ministério de Minas e Energia acreditam ser exagerada a projeção de que um possível racionamento possa tirar entre 1% e 2% do PIB. Para eles, mesmo que o governo opte por “racionalizar energia”, o impacto negativo na economia será entre 0,5% e 0,8%, na pior das hipóteses.

Sequência de bobagens

» É inacreditável a incapacidade do governo de lidar com a crise energética. A cada vez que o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, e o diretor-geral do Operador Nacional do Sistema (ONS), Hermes Chipp, abrem a boca, as dúvidas sobre a real situação do setor elétrico só aumentam. Pobres brasileiros.

Brasília,00h04min