A importância do Congresso para a retomada da economia

Publicado em Economia

ROBERTO PADOVANI*

A sociedade brasileira saiu tensa e assustada do processo eleitoral. Nesse ambiente, os discursos populistas das eleições ainda reverberam e fazem com que, apesar da euforia de empresários e investidores, haja cautela, ceticismo e ansiedade entre analistas.

 

Mas o que já podemos ver de concreto? A principal novidade está na política. A estratégia de se distanciar das práticas tradicionais das indicações, nomeando uma equipe mais técnica, reforçou a popularidade do governo. De fato, as primeiras pesquisas mostraram uma popularidade quase tão elevada quanto à dos inícios dos mandatos de Collor e Lula. Um bom desempenho, considerando-se a fragilidade vista nos últimos cinco anos e o contexto global de frustração com o sistema político. Ao mesmo tempo, o alinhamento ideológico com o Congresso e o apoio das bancadas apontam para um bom começo.

 

Crédito: Minervino Junior/CB/D.A Press. Mesa Diretora da Câmara dos Deputados, no Congresso Nacional.

Contudo, se a avaliação do presidente e a governabilidade são uma boa surpresa, os diversos ruídos na comunicação contribuíram para um começo mais confuso que o esperado. Na prática, o que se viu foi um governo tendo que rapidamente aprender a governar. Escândalos envolvendo o núcleo familiar, idas e vindas nos anúncios de medidas e polêmicas em torno da política externa e das questões do meio ambiente, educação e família geraram os primeiros desgastes. Como mostra nossa curta vida democrática, a lua de mel, mais uma vez, deverá ser rápida.

 

“A estratégia atual de se distanciar de lideranças e partidos tradicionais pode fazer sentido eleitoral, mas não parece promissora na administração do governo ao longo do mandato”

 

Na economia, há menos surpresas. A herança recebida do governo anterior é positiva e a economia está relativamente ajustada para uma retomada cíclica. A manutenção de parte da equipe e da agenda é ótimo sinal, e os tropeços iniciais ajudaram a coordenar a comunicação, alinharam a estratégia econômica e colocaram pressão adicional para o encaminhamento das reformas.

 

Mais importante, apesar de suas ideologias, o governo parece flexível e pragmático, como demonstrou a primeira experiência internacional em Davos, na Suíça. Os discursos mais populistas foram suavizados e se colocou ênfase na agenda econômica. Lentamente, os sinais em torno da reforma da Previdência foram sendo afinados.

 

Como resultado, as críticas em relação à falta de um programa econômico claro estão se dissipando. Como sempre acontece, a agenda está sendo definida a partir das demandas econômicas e políticas do momento, ao mesmo tempo em que os nomes e o perfil da equipe reforçam o foco na reforma do Estado e na infraestrutura.

 

Não por outro motivo, o mundo dos negócios está confiante. A confiança de empresários e consumidores voltou a crescer, refletindo a euforia com o país. A Bolsa de Valores alcança recordes contínuos, os juros nos mercados futuros se mantêm em níveis historicamente baixos e o risco soberano recuou rapidamente para os patamares observados quando o país era grau de investimento.

 

Diante deste começo, restam duas dúvidas principais. A primeira é sobre a capacidade de construção e manutenção de uma maioria legislativa. A estratégia atual de se distanciar de lideranças e partidos tradicionais pode fazer sentido eleitoral, mas não parece promissora na administração do governo ao longo do mandato. É preciso saber como será feita a coordenação política do Planalto caso o sistema de presidencialismo de coalisão seja efetivamente abandonado.

 

O resultado são as incertezas em relação ao avanço da ambiciosa agenda econômica e, portanto, sobre a capacidade da economia de crescer ao longo dos próximos anos. Neste contexto, os investidores externos, apreensivos com os riscos globais, ajudam pouco e a economia brasileira continua relativamente estagnada. A euforia demostrada nos mercados financeiros locais e na confiança ainda não se traduziram em um crescimento econômico robusto.

 

Seja como for, o que aprendemos no primeiro mês é que o populismo eleitoral vai lentamente cedendo lugar a um maior pragmatismo. Entre boas notícias, sustos e dúvidas, o Brasil vai mostrando que um novo ciclo na economia e na política já teve início. É aguardar e torcer para que as coisas caminhem bem.

 

(*) Economista-chefe do Banco Votorantim

 

Brasília, 09h10min