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Aldir Blanc e seus parceiros

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“…E nuvens lá no mata-borrão do céu/ Chupavam manchas torturadas/ Que sufoco…” Neste trecho da letra de O bêbado e a equilibrista, samba que fez com João Bosco, Aldir Blanc, de forma poética, denunciava as agruras vividas por muitos brasileiros nos sombrios anos de chumbo da ditadura militar.

Carioca, nascido no bairro do Estácio, em 2 de setembro de 1946, Aldir Blanc – morto na madrugada de segunda-feira (4/5), vítima da Covid-19 – era letrista desde 1968. Em 1970 compôs, em parceria com Sílvio Silva Júnior, Amigo é para essas coisas, que, defendida pelo MPB-4, classificou-se em segundo lugar no 3º Festival Universitário da Música Popular Brasileira, promovido pela extinta TV Tupi. O samba viria a ser o primeiro sucesso de sua longa trajetória artística.

Aldir foi o parceiro mais frequente de João Bosco. A primeira música da dupla foi Agnus sei, em 1972, registrada no compacto lançado pela Editora Codecri, do Pasquim, com produção de Sérgio Ricardo. A canção marcou a estreia de João Bosco em disco. Juntos, eles são autores de, algo em torno, de 500 composições, entre as quais clássicos como De frente pro crime; Dois pra lá, dois pra cá; Incompatibilidade de gênios, Linha de passe e Nação.

Além de João Bosco e Sílvio Silva Júnior, Aldir tem parceria com Guinga, Moacyr Luz e Cristovão Bastos, entre outros. Com Cristovão ele assinou a consagrada Resposta ao tempo, que interpretada de forma primorosa por Nana Caymmi, foi tema de abertura da série Hilda Furacão, da TV Globo. “Com Aldir, compus por volta de 80 músicas. Para se ter ideia, Leila Pinheiro gravou um disco inteiro, o Catavento e Girassol, só com músicas nossas. Além de parceiro fomos amigos de longa data”, lembra Guinga, com emoção à flor da pele. “A música brasileira perdeu um dos seus mais exponenciais letristas, que morreu pobre, porque vivia de direitos autorais”, acrescenta.

Para Moacyr Luz, Aldir foi “um poeta atento à realidade do país, do Rio de Janeiro, em especial do subúrbio desta cidade tão maltratada por quem a administra”. Com um vocabulário exclusivo e riquíssimo, era como, certa vez disse Dorival Caymmi, ‘um ourives das palavras’. “Durante muitos anos fomos vizinhos na Tijuca. Ele foi uma das pessoas que mais me incentivaram e me influenciaram a seguir a carreira musical. Somos parceiros em 60 músicas e algumas delas foram gravadas no meu CD mais recente, que focaliza o Samba do Trabalhador, projeto que mantenho no Andaraí, às segundas-feiras”, complementa.