Dad Squarisi

Publicado em Crônicas
Credito: Minervino Junior/ CB. Dad Squarisi no Correio em oficina para o Enem
Severino Francisco
          As colunas que Dad Squarisi publica no Correio são minicursos inteligentes, ilustrados, bem-humorados e leves. Você aprende e se diverte. Não há método pedagógico mais eficiente. Ela contribuiu para alfabetizar, desasnar e lapidar várias gerações de brasilienses no trato com a língua portuguesa. Se tenho alguma dúvida insanável, ligo para a Dad e ela resolve sempre da maneira mais gentil. Dad é elegante no vestir, no escrever e no viver.
            Sou um repórter distraído, preciso me concentrar para não cometer incorreções. Costumo editar as colunas da Dad e, confesso, sinto uma ponta de alegria quando encontro um erro, pois, na minha cabeça, ela nunca se engana. Mas Dad sorri e não tem nenhuma dificuldade em admitir que também comete deslizes e desatenções. O erro a humaniza.
Crédito: Ed Alves/CB/D.A Press. Dad ensina temas áridos com humor e leveza
Tenho uma teoria sobre a cabeleira desagulhada da Dad, uma de suas marcas registradas. Sempre imaginei que ela ostentava os cabelos arrepiados de tanto se espantar com os solecismos, as incongruências, as declinações capengas, as vírgulas indevidas e outros equívocos crassos que lê ou ouve. A cada erro, o cabelo dela foi se espetando até forjar o estilo Dad de madeixas rebeldes, tão original e que lhe cai tão bem.
      Dad é uma das poucas celebridades do jornalismo impresso. Certa vez, ela passou por uma blitz do Detran, um policial a identificou, entabulou uma consulta sobre dúvidas gramaticais pra lá de Marrakeshi, que provocou um engarrafamento de trânsito. Em outra ocasião, uma excelência flagrada em deslize contra a norma culta ficou brava e chamou Dad de arrogante. Só faltou alegar ter foro privilegiado. A pendência gramatical quase foi parar no STF. Dad permaneceu inarredável no senso de humor.
Crédito: Inbook Editora/Reprodução. Imagem do livro Desafios: relatos de celebração à vida, tirada na época em que Dad fez transplante de medula óssea.
             Todavia, a gente só conhece mesmo uma pessoa de verdade em uma situação extrema, em uma situação-limite. Além dos ensinamentos sobre a língua portuguesa, a maior lição que Dad nos deu foi de vida.  Em 2016, descobriu que estava com câncer na medula. Dad não se abalou, submeteu-se a uma cirurgia delicada para implantação de transplante e permaneceu internada durante oito meses no Hospital Albert Einstein, em São Paulo.
           Enfrentou tudo com uma coragem, serenidade, humildade e dignidade comovedoras. Em vez de lamuriar-se, escreveu um livro sobre língua portuguesa, dois livros infantis e organizou outro sobre a história do Hospital Albert Einstein. A doença não a impediu de viver plenamente a vida e de exercer a vocação com prazer. A fé de Dad é capaz de mover montanhas.
Crédito: Valerio Ayres/CB/D.A Press. Dad: professores salvam o futuro

 

Ela publicou uma mensagem nas redes sociais na qual compara o ofício do médico ao do professor. Ambos não desistem mesmo diante de uma sentença de morte decretada nos exames ou de fracasso inapelável no boletim das notas. Se os fatos desmentem a sua fé, pior para os fatos:“Os médicos e os professores têm dois denominadores comuns. O primeiro: eles salvam vidas;nós salvamos o futuro.O segundo: eles não desistem nem diante das evidências; nós também não desistimos nunca.  Graças a nosso esforço, jovens ocuparão lugares de destaque, em vez de celas desumanas, superlotadas e sem saída”.

         Dad venceu a fase mais dura da travessia e voltou a trabalhar para nossa alegria. Hoje, ela faz aniversário e eu gostaria de brindar a sua presença delicada, firme, competente, elegante e terna.

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