Previdência preocupa militares

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Pagamento de benefícios aos cerca de 150 mil inativos e aos 220 mil pensionistas das Forças Armadas gerou um rombo de R$ 32,2 bilhões aos cofres públicos, em 2015. Debate sobre mudanças das normas que regulam a passagem para a inatividade gera inquietação na caserna. Representante da Forças Armas pedem cautela ao governo no encaminhamento da reforma do sistema previdenciário. Eles alegam que a carreira tem características específicas e não pode ser submetida às mesmas regras dos servidores civis

CELIA PERRONE

Na primeira reunião com o secretário de Previdência do Ministério da Fazenda, Marcelo Caetano, para discutir a reforma do sistema previdenciário, representantes dos militares pediram cautela ao governo no encaminhamento das mudanças. O governo pretende criar um regime único que englobe trabalhadores da iniciativa privada, militares, servidores públicos civis, professores e policiais. A expectativa das Forças Armadas é de que as alterações sejam as menores possíveis, não afetem as conquistas da classe e garantam, na aposentadoria, remuneração condizente com a atividade.

Na caserna, há mais de uma semana não se fala em outra coisa que não seja a proposta de reforma da previdência. No encontro, que durou cerca de duas horas, Marcelo Caetano garantiu que tudo será discutido amplamente, assegurou que não há motivo para alarde e disse que, por enquanto, há apenas sugestões sobre a mesa, mas nenhuma proposta definida.

Outras conversas devem ser agendadas. Os militares alegam que não podem ter o mesmo tratamento dos servidores civis, dadas as especificidades da categoria. O governo afirma que não há como manter tudo do jeito que está, uma vez que o pagamento de benefícios aos cerca de 150 mil inativos e aos 220 mil pensionistas das Forças Armadas gerou um rombo de R$ 32,2 bilhões em 2015.

O valor representa quase a metade do deficit do sistema de previdência do setor público federal, que está ao redor de R$ 70 bilhões por ano para 4 milhões de beneficiários. A estimativa do buraco do INSS, que tem 32 milhões de aposentados e pensionistas, é de R$ 149 bilhões neste ano. Juntando os setores público e privado, o rombo será de cerca de R$ 220 bilhões em 2016.

Debate duríssimo

Leonardo Rolim, consultor de Orçamento da Câmara dos Deputados, que foi secretário de Política de Previdência no Ministério da Previdência Social até 2014, destaca que o debate será duríssimo. “A Marinha tem um diálogo mais construtivo, mas o Exército é radicalmente contra qualquer reforma. Eles alegam baixos salários, mas dá para compensar problemas de carreira com prêmios na Previdência”, disse ele. “Uma das ideias é criar um regime de capitalização para os entrantes, que eles ainda vão formar e gerir, para não ficar com o pires na mão, dependendo do Tesouro”, considerou.

Em 2003, houve uma tentativa de reforma do sistema de benefícios de militares, com negociações entre os ministérios da Previdência e da Defesa pelo fim definitivo das pensões vitalícias para as filhas de militares. Acabaria ainda a contagem do período de academia militar como tempo de contribuição. Outra mudança prevista era o aumento de 30 para 35 anos de serviço para entrar na reserva. A proposta tinha respaldo do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.

A ideia era de que as regras ficassem iguais às aplicadas aos demais servidores e aos trabalhadores da iniciativa privada: filhos teriam pensão somente até os 21 anos. A Previdência, na época, ainda queria igualar as contribuições de civis e militares. Os integrantes das Forças Armadas passariam a recolher 11,5%, e não 7,5% como acontece até hoje. As mudanças, porém, não aconteceram e o regime dos militares manteve-se inalterado em todas as reformas da Previdência por que o país passou.