Crédito: Thiago Mauricio/Divulgação. Ator Maurício Destri. Crédito: Thiago Mauricio/Divulgação. Ator Maurício Destri.

Maurício Destri: “Sinto que estou nesse caminho de entender como é o meu jeito (de atuar)”

Publicado em Entrevista, Novela

Em seu sétimo trabalho na tevê, Maurício Destri, o Camilo de Orgulho e paixão, diz que agora está se encontrando como ator

Catarinense de Criciúma, Maurício Destri, 26 anos, começou a carreira de ator nos palcos do teatro, mas, desde 2011, conheceu outra paixão: o amor pela televisão. Ele estreou na telinha na novela Cordel encantado, em que viveu o Infante Dom Inácio, e, a partir daí, não parou mais.

Engatou um trabalho no outro — Malhação conectados (2012), Sangue bom (2013), I love Paraisópolis (2015), A lei do amor (2016) e Os dias eram assim (2017) — até chegar ao mocinho Camilo, de Orgulho e paixão, que interpreta atualmente. “É uma sorte grande sair de um trabalho com a possibilidade de estar em outro”, classifica.

A entrada na novela das 18h da Globo foi logo após terminar a supersérie Os dias eram assim, em que deu vida a Leon. “Em boa parte do trabalho ainda sobraram coisas (dos outros personagens). No início, o Camilo tinha algo do Leon. A gente acaba usando e emprestando um pouquinho um do outro”, explica.

Para Maurício, foi apenas no capítulo 105 em que se sentiu realmente à vontade como Camilo. “Demora mesmo até você conseguir ter o total domínio desses personagens, o que é muito interessante e te dá possibilidades de experimentar várias vezes. Agora no capítulo 105, fui gravar um dia inteiro de estúdio e sai de lá falando: “acho que agora eu comecei a entender esse cara”, revela.

Ao Próximo Capítulo, o ator falou sobre o aprendizado em Orgulho e paixão, em que contracena com nomes como Thiago Lacerda e Gabriela Duarte, a trajetória nas artes cênicas e projetos futuros.

Ponto a ponto // Maurício Destri

Crédito: João Miguel Júnior/Divulgação
Crédito: João Miguel Júnior/Divulgação

Camilo de Orgulho e paixão
É um personagem bastante rico. Vejo que as possibilidades que os autores trazem para esse cara são de muitas variáveis. O Camilo é um personagem que, mais uma vez, me tira da zona de conforto, me dá possibilidade de trazer coisas novas. Acho que estou revisitando um personagem que eu já tinha tido no começo da minha carreira, que tem esse percurso e narrativa de herói, do mocinho, do cara que tem uma redenção. Ele passa por uns momentos difíceis e se transforma em alguém melhor. Essa coisa do personagem ter lutado, ter mostrado uma força física… Agora também tem um caminho mais palpável, mais seguro. Ele passou por tudo isso para chegar no momento em que ele realmente se torna essa pessoa, que é o que ele vem para fazer nessa vida: cuidar do café, ter a própria empresa, já que a novela está se encaminhando para o final.

Trajetória do personagem
É uma surpresa em cada bloco que chega. Eu não sei a história dele. Sei o começo, mas não sei para onde vai. Isso depende do feedback do público. Mas esse personagem conseguiu me colocar em lugares que eu não tinha frequentado. Uma das coisas mais legais desse trabalho foi uma cena que fiz com o Thiago (Lacerda), uma cena no quarto em que eu choro, me abro e falo que errei (sobre uma briga com Jane, personagem de Pâmela Tomé). Eu tinha essa coisa de ou chorar demais ou de não chorar. E nesse momento eu entendi, fazendo a cena, que eu quase que me via de fora visitando esse lugar da emoção, do choro. O trabalho vem para, cada vez mais, a gente se entender. Estou extremamente feliz.

Amizade com Thiago Lacerda
O Thiago é muito generoso, uma referência. Tem essa figura importante de líder e costuma trazer essa liderança de uma maneira muito sutil, então é bom estar com pessoas assim. Aprendo diariamente com ele. O Thiago consegue criar um tipo de relação em que os atores se sentem confortáveis de conversar. Nossa amizade vem lá de trás, fazendo meu pai em Cordel encantado. Depois, em A lei do amor, fiz o mesmo personagem que ele só que na primeira fase, tendo que quase imitar, pegar trejeitos. A gente já se encontrou em outros momentos e teve uma facilidade maior por esse convívio.

Contracenar com Gabriela Duarte
A gente tinha feito algo em A lei do amor e agora ela faz minha mãe. Temos uma troca grande. Tenho um respeito e é sempre muito prazeroso estar com essa galera. A Gabriela é filha da Regina Duarte, então tem uma coisa de geração de mãe e atriz e uma maneira de se comportar. Vendo essas pessoas, tento achar a minha maneira, o meu jeito. Sinto que estou nesse caminho de entender como é o meu jeito (de atuar), o meu tempo, a minha relação com o set. Acho que cada ator tem o seu jeito. Sou um cara extremamente observador, é da minha personalidade, prefiro ficar mais calado, do que falando. Observo muito mais do que faço alguma coisa. Estou aprendendo muito olhando essas pessoas e com essa troca.

Crédito: Raquel Cunha/Divulgação. Julieta (Gabriela Duarte) assiste luta de Camilo (Maurício Destri) com Olegário (Joaquim lopes)e vê o filho levando uma surra
Crédito: Raquel Cunha/Divulgação. Julieta (Gabriela Duarte) assiste luta de Camilo (Maurício Destri) com Olegário (Joaquim lopes)e vê o filho levando uma surra

Debates contemporâneos
Na minha opinião é muito mais interessante revisitar uma época trazendo um quadro de uma situação mais próxima do contemporâneo, você consegue trazer o público. A minha sensação quando você vai fazer realmente o que aconteceu na época, empobrece um pouco. Aquela época já passou, não faz mais parte. Nessa novela você mostra um casal gay, uma personagem feminista… Então ter essa liberdade de trazer coisas contemporâneas aproxima de maneira mais rápida e não fica cansativo. É uma novela que fala de amor, de romances e acho que isso falta. Todo mundo quer viver isso. Está tudo tão feio, tão pesado, tanta violência, então quando você traz uma novela assim fica mais fácil parar 40 minutos e dar uma relaxada. A novela aconteceu e as pessoas se identificaram, isso é o que a gente espera do trabalho.

Relação com teatro
A vontade de montar coisas de teatro é muito grande, mas é difícil porque as nossas leis de incentivo são difíceis. Tem uma série de questões que vão impossibilitando e te levando a não fazer. Os convites aparecem, mas muitas vezes não batem com o que você quer falar. Acho que o teatro me deu a base de tudo, foi a minha morada durante muito tempo. Está sendo prazeroso fazer televisão, por mais que seja um estresse. Mas você acaba ficando viciado em televisão, com essa rapidez que vai te dando uma segurança. Tenho muita vontade de voltar para o teatro.

Projetos futuros
Estou pensando em fazer um projeto com o Silvio Guindane (o Januário, de Orgulho e paixão) e com o Walter Lima Jr., que é o Perfume de mulher. Eles fizeram uma adaptação para o teatro e estão querendo fazer. Estou começando a me preparar para fazer uma temporada no Rio e em São Paulo e depois uma em 15 dias em Portugal. Tenho um carinho, sou do teatro, mas é algo que depende de muita gente, de muita coisa, dos teatros estarem disponíveis, de atores estarem disponíveis também. Mas acho que o caminho depois da novela é fazer esse projeto de Perfume de mulher.

Início da carreira
Minha família sempre falou que eu dizia que eles iam me ver na televisão. Eu não me lembro disso. A minha vontade, antes de começar a fazer teatro e estudar arte, era ser cardiologista. Só que eu não posso ver sangue, sou meio traumatizado com essa coisa. Já fiz tratamento, hoje o que me salva é a meditação. Eu morava em Santa Catarina e sempre passava as minhas férias em São José dos Campos, no interior de São Paulo. E lá minhas primas sempre estudaram em colégio particular e tinham aula de teatro e eu sempre me envolvia, até que eu dia vi que era isso e falei que queria fazer teatro. Pedi para minha tia pagar uma escola de teatro e comecei a fazer na minha cidade mesmo.