Ator Edu Coutinho, o Felipe de Bom Sucesso
edu1 Foto: Ricardo Borges/Divulgação. Edu Coutinho estreia na tevê entrando no meio de Bom Sucesso: desafio dos grandes Ator Edu Coutinho, o Felipe de Bom Sucesso

Edu Coutinho chegou para ficar como Fábio em Bom Sucesso

Publicado em Entrevista

O personagem confere ar de mistério à trama de Bom Sucesso. Leia entrevista com Edu Coutinho, ator que estreia na televisão vivendo o Fábio da novela das 19h.

A trama de Bom Sucesso tem se destacado por um lado lírico, que trata da morte de maneira delicada e traz a literatura como pano de fundo. Mas uma outra face da novela das 19h: o mistério em torno do assassinato de Felipe (Arthur Sales). É aí que entra Edu Coutinho, ator que faz sua estreia na televisão como Fábio, irmão que fará de tudo para esclarecer a morte de Felipe.

É curioso que o público já sabe que Diogo (Armando Babaioff) está por trás disso, mas os personagens não fazem a menor ideia. “Essa é realmente uma investigação cujo desfecho o público já prevê, porque sabe de cada fato que aconteceu. Mas a novela é escrita com tantas reviravoltas que, quando os personagens chegam perto de descobrir o culpado, algo acontece, e isso é também interessante para nós, atores, porque nos ajuda a manter um frescor”, afirma Edu, em entrevista ao Próximo Capítulo.

A atmosfera de suspense não é bem uma novidade na vida de Edu. Desde criança, ele e a irmã espiavam a mãe assistir a filmes policiais. “Na minha adolescência eu gostava muito de livros e filmes policiais. Esse foi um hábito que acabei pegando da minha mãe. A gente brinca lá em casa dizendo que fomos apresentados a esse gênero cedo demais… Minha mãe assistia muito e, como a TV ficava na sala de casa, eu e minha irmã, mesmo pequenos, acabávamos dando uma espiada”, lembra.

Por outro lado, estar na televisão é uma novidade para esse baiano que tem experiência como ator e assistente de direção nos palcos. Ser visto — e de certa forma avaliado — por milhares de pessoas ao mesmo tempo “assusta muito. Principalmente quando eu entendi que iria ter que aprender a fazer errando, e errando na frente de milhões de pessoas. O tempo da TV é outro. São muitas cenas gravadas num mesmo dia, uma atrás da outra.”

Quer saber mais sobre Edu Coutinho? Na entrevista a seguir, o ator fala sobre novela, teatro, política cultural e muitos outros assuntos. Confira!

Entrevista // Edu Coutinho

Ator Edu Coutinho, o Felipe de Bom Sucesso
Foto: Ricardo Borges/Divulgação. Edu Coutinho leva mistério a Bom Sucesso

Entrar numa novela em andamento é um desafio maior?
Sem dúvidas. O elenco e a equipe já estão entrosados, eles já vêm de meses de preparação e de gravação, já têm um ritmo, já têm os personagens bem construídos, já existe uma relação estabelecida inclusive com o público. E, no meu caso, a esse desafio de pegar o bonde andando se soma o fato de nunca ter feito nada em televisão. Estou aprendendo a atuar desse outro jeito, pois é tudo muito diferente. Apesar dessas dificuldades, Bom Sucesso tem um clima de trabalho muito bom e toda a equipe tem sido muito acolhedora. Isso torna as coisas mais leves, com certeza.

O Fábio fica até o fim de Bom Sucesso?
Tudo indica que sim. O Fábio está envolvido em tramas importantes para o desfecho da história. Podemos dizer que ele é parte do núcleo “investigativo” da novela. Então tem muita coisa para acontecer ainda.

O Fábio entra na novela sob uma atmosfera de suspense. Você gosta de tramas policiais?
Na minha adolescência eu gostava muito de livros e filmes policiais. Esse foi um hábito que acabei pegando da minha mãe. A gente brinca lá em casa dizendo que fomos apresentados a esse gênero cedo demais… Minha mãe assistia muito e, como a TV ficava na sala de casa, eu e minha irmã, mesmo pequenos, acabávamos dando uma espiada. Dali para sentar no sofá, ao lado dela, e opinar sobre os desfechos das histórias, foi um pulo. Tem também um livro que me marcou muito, O gênio do crime, de João Carlos Marinho, que é um clássico da literatura infantojuvenil. É uma espécie de policial para crianças. Narra a história de quatro crianças que investigam uma máfia envolvendo uma fábrica de figurinhas clandestinas. Foi a primeira coisa que li na vida.

Você se arriscaria para investigar a morte de um parente como o Fábio está fazendo?
É difícil afirmar com tanta certeza, pois o que o Fábio está fazendo é muito arriscado. Mas ele é um personagem desapegado, que vive pelo mundo sozinho, e que de alguma forma está acostumado a diferentes tipos de risco. É como se ele não tivesse nada a perder. Eu sou um pouco diferente disso, mas o que enxergo em mim de parecido com o Fábio é o valor que ele dá à justiça. É a justiça que o move. E a justiça é também pra mim um valor inegociável.

Embora o Fábio e os personagens não saibam o que aconteceu, o público acompanha tudo. Como segurar o ar de suspense da trama desse jeito?
Essa é realmente uma investigação cujo desfecho o público já prevê, porque sabe de cada fato que aconteceu. Mas a novela é escrita com tantas reviravoltas que, quando os personagens chegam perto de descobrir o culpado, algo acontece, e isso é também interessante para nós, atores, porque nos ajuda a manter um frescor. É um exercício constante: entrar no estúdio, fingir que aquilo não é uma novela, fingir que eu sou mesmo o Fábio, que não faço ideia do que aconteceu, e tentar ser surpreendido por aquelas situações que surgem na cena. Tudo isso cercado por uma equipe técnica gigantesca, por câmeras, refletores. Pra mim tem sido um desafio e um treino enorme, pois é a primeira vez que faço televisão. E é muito diferente de tudo o que já fiz.

No teatro você tem, se comparado à televisão, poucos espectadores por noite e uma sessão pode ser melhorada com relação à anterior. Na televisão isso não acontece. Assusta estar na casa de milhares de pessoas ao mesmo tempo?
Assusta muito. Principalmente quando eu entendi que iria ter que aprender a fazer errando, e errando na frente de milhões de pessoas. O tempo da TV é outro. São muitas cenas gravadas num mesmo dia, uma atrás da outra. Você tem que chegar de alguma forma pronto, pois não dá pra experimentar, testar, repetir, mas ao mesmo tempo tem que entregar algo vivo, fresco, verdadeiro, ou seja, algo que não pareça pronto. Não é mais fácil ou mais difícil que o teatro, é diferente. E, por ser o meu primeiro trabalho na televisão, eu estou aprendendo esse novo jeito de fazer. A primeira semana inteira em que apareci na novela foi gravada no meu primeiro dia de estúdio, e era um dia em que eu estava quase uma múmia de tensão. Os dias seguintes foram mais leves, mais tranquilos, mas até hoje, com um mês de gravação, cada nova cena que gravo é um desafio enorme. Mas um desafio gostoso. Estou adorando aprender. E estou cercado por uma equipe muito acolhedora, isso ajuda muito.

Você se mudou para o Rio de Janeiro. A gente costuma ver a Bahia como um estado onde, proporcionalmente, a arte é incentivada. Mesmo assim ainda é preciso ir para o eixo Rio-São Paulo para despontar nacionalmente?
O dinheiro ainda fica muito concentrado no eixo Rio-São Paulo. Então essa já é uma barreira muito grande para, por exemplo, conseguir patrocínio para projetos culturais na Bahia. Existem os mecanismos de incentivo estaduais, e municipais, mas eles atendem a uma parcela de produção muito pequena. E estamos, agora, em um momento ainda mais crítico nesse sentido, com as políticas públicas federais ameaçadas, com cada vez menos recursos e cada vez mais ataques à cultura. A Bahia é um estado que produz muito, e que tem uma produção artística de altíssima qualidade, que não deve nada a nenhum outro estado, nas mais diversas linguagens. Falando especificamente do campo de trabalho para atores e atrizes no audiovisual, eu noto um esforço cada vez maior dos diretores, autores e produtores de elenco de descentralizar, buscar artistas de fora do eixo Rio-São Paulo. Mas acredito que ainda há um caminho longo para que haja igualdade de oportunidades.

Isso deixa uma certa mágoa?
Não sei se mágoa. Na verdade, eu tenho tido muito cuidado para lidar com esse momento de fazer uma novela como mais uma experiência, e não como uma experiência que define o meu futuro, ou que me garante qualquer outra coisa. A profissão do ator é muito instável, muito imprevisível, mesmo para quem já emplacou trabalhos na televisão. Fazer Bom Sucesso é, antes de qualquer coisa, uma oportunidade maravilhosa de trabalhar com profissionais que eu admiro muito, de aprender com artistas que já me inspiravam desde muito antes, e de fazer um trabalho no qual eu acredito. Eu já assistia à novela antes de imaginar que pudesse entrar no elenco, já admirava a forma poética como ela fala da vida e da morte, a forma como celebra e apresenta a literatura, o jeito sutil e ao mesmo tempo contundente que ela trata de muitos temas sociais. Tenho concentrado muito no agora. Sei que é uma oportunidade valiosa, mas tenho focado em como aproveitá-la no presente, em como aprender a fazer. Para o ator não tem nada garantido. É tudo um grande risco. Essa é a única certeza da nossa profissão.

Você é assistente de direção em Embarque imediato. Qual é a importância de celebrar mestres como Antonio Pitanga?
Antônio Pitanga é um ícone do cinema e do teatro brasileiro. É uma escola viva. E está celebrando os seus 80 anos em cima do palco, com uma força e uma vitalidade que dão inveja a qualquer jovem ator, como eu. Assistir ao Pitanga em cena é uma aula. Assim como foi uma aula maravilhosa fazer a assistência de direção de Embarque imediato, em que pude também voltar a trabalhar com o diretor Marcio Meirelles, que é uma figura muito importante na minha formação como artista. Embarque imediato é um texto forte, necessário, escrito pelo dramaturgo Aldri Anunciação, que fala de identidade, memória, que reflete sobre a diáspora africana e os seus mais diversos efeitos no momento presente. E é um projeto que também nos confirma que precisamos celebrar e homenagear os nossos mestres e mestras em vida, reconhecer publicamente as suas contribuições enquanto eles ainda estão aqui para nos ensinar. O Brasil tem uma história marcada por muitas injustiças e muitos silenciamentos. Estamos no momento de reparar isso.

A direção é um caminho natural para você?
Acredito que sim. A minha primeira experiência como assistente de direção foi em 2013, na peça Destinatário desconhecido, meu primeiro trabalho ao lado de Zeca de Abreu, que além de uma grande amiga é uma diretora que me ensinou e me ensina muito. Foi um espetáculo bonito, forte, que nos rendeu muitos frutos e nos orgulhou muito. Foi ali que eu fiquei encantado por esse lugar da direção. Depois vieram outros trabalhos como assistente de Zeca, veio o Embarque imediato ao lado de Marcio Meirelles… Eu me pego muitas vezes assistindo a uma peça e observando as escolhas de encenação… Acho que é essa vontade que eu guardo de trabalhar também como diretor. Essa hora vai chegar.

Como o ator e o jornalista convivem? Eles “ficam juntos” ou você deixa um “descansando” para o outro entrar em cena?
Eu me formei como jornalista e como ator simultaneamente, e depois trabalhei ao mesmo tempo como ator e como coordenador de comunicação de um teatro, o Teatro Vila Velha, que, aliás, é um lugar fundamental na minha trajetória. Por muito tempo o Edu “jornalista” e o Edu “ator” brigaram muito, pois às vezes eu entrava no ensaio, como ator, pensando nas estratégias de divulgação da peça. Cheguei até a entrar em cena uma vez e, nos 10 ou 15 minutos de entrada de público, em que nós, atores, ficávamos parados no palco, começar a contar quantas pessoas estavam ali, e a estimar quanto tinha entrado de bilheteria, e a pensar nas despesas de produção, e nas estratégias de comunicação para contornar aquele problema de falta de público… Era uma loucura. Hoje tenho tido a oportunidade de deixar o jornalista e o produtor descansando. Tenho “apenas” entrado em cena com o Edu ator.

O que você aprendeu com o Lusófonos? Pode falar um pouco sobre esse projeto?
O Lusófonos surgiu do meu trabalho de conclusão de curso em jornalismo. Pouco tempo antes de me formar eu fiz um intercâmbio na Espanha, lá conheci muitos estudantes portugueses e percebi que eles consumiam muito da música brasileira. E que eu, brasileiro, não conhecia quase nada da música portuguesa, e menos ainda dos demais países que falam português. Então resolvi produzir um programa que apresentasse artistas musicais de Angola, Moçambique, Portugal, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Timor Leste… O resultado foi muito legal e acabei sendo convidado pela coordenadora da Rádio Educadora, que era uma das avaliadoras do meu TCC, para tocar o projeto lá. É uma forma de compartilhar com os outros uma pesquisa que faço muito intuitivamente… O programa se sustenta porque é feito de um jeito leve, sem muita pretensão, e, obviamente, porque o universo musical dos países lusófonos é riquíssimo. O Lusófonos me ensina a abrir a escuta. A ouvir outros sons, outras vozes e outras línguas – porque, apesar de oficialmente falarem português, todos esses lugares (inclusive o Brasil) são marcados por uma grande diversidade de idiomas, que resistiram bravamente a todo um histórico de opressão colonial.

Lusófonos é transmitido numa rádio educadora da Bahia. Qual é a importância desse tipo de veículo, que vem sendo perseguido pelo governo ultimamente?
Esses veículos, justamente porque independem da lógica comercial, são responsáveis pela difusão de novos artistas, pela valorização das culturas tradicionais, pelo debate sobre questões sociais, pelo resgate das nossas memórias, pela valorização da nossa cultura, de modo geral. O atual governo federal quer matar tudo que existe de belo, de inteligente, quer destruir tudo o que educa, tudo o que faz pensar, refletir, questionar.

Em seu mestrado você une Bertolt Brecht e o Olodum. Como o erudito e o popular podem andar juntos?
o meu mestrado eu vou até os escritos de Brecht e, a partir do que ele escreveu sobre o trabalho de ator/atriz, eu traço conexões com o trabalho do Bando de Teatro Olodum. Mesmo separados por grandes distâncias no espaço e no tempo, são artistas que pensam e realizam o teatro como uma ferramenta de luta e de transformação social. Na verdade, Brecht, apesar de ser um autor clássico, é extremamente popular. E esse também é outro ponto de diálogo com o Bando. Esses dois teatros são engraçados, divertidos, tem uma presença forte da música e uma comunicação muito direta com o público. Existe uma tendência comum de colocar os autores clássicos nas prateleiras mais elevadas, restringindo o seu acesso a supostos estudiosos/acadêmicos/intelectuais, reforçando aquela ideia preconceituosa e muito cafona de “alta cultura”. Fazem isso com Brecht, Shakespeare, Sófocles, Eurípedes… Mas todos esses eram autores populares, que escreviam e encenavam para multidões. Pra mim, não faz sentido pensar o teatro em um lugar de erudição, se for nesse sentido excludente. Se é teatro, é popular. Ou deveria ser.