Absorvendo o tabu Crédito: Netflix/Divulgação

Crítica do documentário Absorvendo o tabu

Publicado em Documentário

Vencedor do Oscar de 2019, o curta-metragem Absorvendo o tabu está disponível na Netflix. Confira o que achamos do filme que trata da menstruação, que ainda é um tabu na sociedade

É louvável a ideia da cineasta Rayka Zehtabchi de abordar a menstruação no contexto das mulheres indianas no filme Absorvendo o tabu (Period. End of sentence, em língua original), que foi o vencedor do Oscar de melhor documentário curta-metragem deste ano. A diretora presta um serviço ao mostrar que um dos assuntos que deveria ser considerado natural e normal é visto como doença e até motivo de segregação na Índia.

Na produção, de apenas 26 minutos e que está disponível na Netflix, ela revela a história de uma população em que a maioria dos homens sequer sabe do que se trata direito a menstruação — ou finge não saber — e em que as mulheres sofrem preconceito por conta do período, chegando a perder o emprego, largar os estudos, serem impedidas de entrar em templos, por serem consideradas “sujas” e ainda por uma situação muito mais delicada.

Boa parte da população indiana não usa absorventes higiênicos. E não pense que isso é uma tendência sustentável como vem acontecendo no Brasil, em que as mulheres estão optando pelo coletor menstrual, por absorventes de pano ou até calcinhas preparadas para o período. Segundo o documentário, apenas 10% das mulheres na Índia tem acesso aos absorventes.

Na Índia isso é um problema de falta de acesso. O que faz com que as mulheres utilizem qualquer pano — até sem higienização — ou simplesmente deixem de ir até os locais públicos por mancharem as roupas de sangue.

Crédito: Netflix/Divulgação

Absorvendo o tabu é um filme bom para mostrar o quanto ainda há privilégios no mundo. Mas está longe de ser um documentário perfeito. O curta perde muito tempo de tela com depoimentos repetitivos mostrando que a população tem dificuldade de abordar o assunto. Dá para entender que a ideia é martelar na cabeça do espectador essa realidade que soa até “infantil”.

Porém, acho que ao focar mais tempo nisso, a produção perde a oportunidade de dar mais espaço a questão de saúde pública, que envolve tudo isso, e até de mostrar mais a rotina das mulheres que são impactadas com a chegada de uma máquina que produz absorventes. O projeto dá as indianas dois tipos de independência: financeira e social (dando até a autoestima). Isso valia muito mais!