Atriz Bella Piero
O Outro Lado do Paraíso Bella Piero. Crédito: TV Globo/Divulgação

Bella Piero rouba a cena em O outro lado do paraíso; Leia entrevista com a atriz

Publicado em Entrevista, Novela

A personagem de Bella Piero, a jovem Laura, ganhou mais destaque na novela O outro lado do paraíso ao debater o assédio sexual

A jovem Bella Piero, 22 anos, começou na televisão na trama Boogie oogie. Mas foi em O outro lado do paraíso, novela de Walcyr Carrasco, que a atriz conseguiu um verdadeiro destaque na televisão. O bom momento tem a ver com a profundidade da personagem: Laura foi abusada sexualmente pelo padrasto Vinícius, papel de Flávio Tolezani, e traz o debate do assunto para o folhetim. “Torço para que a história da Laura dê voz para muitas garotas que precisam dessa força e apoio”, afirma.

Em entrevista, Bella Piero fala sobre o destaque na novela (que foi alvo de polêmica nesta semana ao colocar uma coach para ajudar Laura), o debate em torno de assédio e violência sexual na tevê, como se preparou para a personagem e ainda lembra o início da carreira. “Fiz muitos cursos, peças e comecei a estudar audiovisual, além da faculdade. Na televisão, meu primeiro papel foi em Boogie oogie, depois vieram Verdades secretas e A lei do amor. Este é o meu quarto trabalho. E, no cinema, minha estreia foi ano passado, com o filme Ninguém entra, ninguém sai”, conta.

Leia entrevista com Bella Piero, a Laura de O outro lado do paraíso

Você já havia trabalhado com o Walcyr Carrasco em Verdades secretas. Como surgiu a oportunidade de trabalhar novamente com ele na novela O outro lado do paraíso?
Eu fiz o teste para O outro lado do paraíso, Maurinho e Walcyr me aprovaram para a personagem. É um prazer poder dar vida novamente a uma personagem do Walcyr. São sempre personagens muito densos e misteriosos, o que permite construir uma composição detalhista e desafiadora, além de ser um autor muito generoso e sempre dar espaço para que todas as tramas cresçam. É um homem muito inteligente, que dialoga bem com o público, mas que continua defendendo suas ideias.

Como você se preparou para viver a Laura?
A preparação para O outro lado do paraíso começou em junho. Fizemos oficinas com o Eduardo Milewicz, preparador de elenco, em duas etapas, para a primeira e a segunda fase da novela. Eu participei de ambas. Também tive encontros com os diretores e o próprio Walcyr. Construo a Laura diariamente, com base em muita leitura, referências de filmes e histórias reais. Infelizmente, o material de pesquisa sobre violência contra a mulher, que é o tema central da novela, é muito vasto. Tive muitas fontes e continuo colhendo informações e perspectivas.

Laura (Bella Piero), Lorena (Sandra Corveloni) e Vinícius (Flavio Tolezani). Crédito: TV Globo/Divulgação
Laura (Bella Piero), Lorena (Sandra Corveloni) e Vinícius (Flavio Tolezani). Crédito: TV Globo/Divulgação

Quais foram as suas inspirações para construir a personagem?
As maiores referências são Catherine Deneuve em Repulsa ao sexo, filme do Polanski – é chocante que, mesmo realizando esse filme e dando vida a uma personagem que foi abusada psicologicamente e fisicamente, ela tenha preferido se posicionar de forma tão superficial e leviana sobre uma questão tão presente e séria como está sendo o manifesto contra abusos atualmente (a atriz se refere a carta escrita por Catherine sobre a defesa ao flerte) – e Antonia Campbell, em 3096 dias de cárcere.

A sua personagem em O outro lado do paraíso está envolvida em temáticas importantes, como a pedofilia e o abuso sexual. Qual é a importância da novela debater esses temas?
É a necessidade de acordar uma sociedade ainda omissa e cega, que continua propiciando diariamente uma cultura machista e de estupro. Acho que estamos em um momento muito favorável para expor e debater esse assunto. Meu maior compromisso é o de contar essa história da forma mais real possível, para que chegue até as famílias que precisem entrar em contato com isso e além de acolher, possa encorajar. Encorajar as vítimas a não se sentirem mais culpadas, muito menos envergonhadas, e entenderem de uma vez por todas que a culpa nunca é da vítima, mas da cabeça doente do abusador, que é um produto de toda uma educação e cultura machistas. Torço para que a história da Laura dê voz para muitas garotas que precisam dessa força e apoio.

Rafael (Igor Angelkorte) e Laura (Bella Piero). Crédito: TV Globo/Divulgação
Rafael (Igor Angelkorte) e Laura (Bella Piero). Crédito: TV Globo/Divulgação

O que pode contar sobre os próximos enredos envolvendo a Laura?
A Laura está se envolvendo com o Rafael, interpretado pelo Igor Angelkorte. Nós dois estamos trabalhando para construir uma relação transparente, delicada e madura entre os personagens, para que o Rafael consiga ganhar a confiança da Laura e ela possa entender que ele é um homem diferente desses do universo bruto e machista que a novela retrata. O casamento, a princípio, vai ser uma fuga, uma forma de a Laura escapar daquele ambiente opressor da casa em que vive, mas o Rafael se mostra um homem sensível, generoso e paciente. Os problemas dela vão se revelar e ele está fazendo de tudo para compreendê-la e ajuda-la, e assim ele a está conquistando aos poucos. Torcemos para que ela consiga superar seus traumas e viver essa relação sem tantos medos. Agora também já estamos acompanhando a aproximação da Clara, que vai começar a remexer esse passado misterioso da Laura e da família dela. Será uma aliada.

Quando e como você começou a trabalhar como atriz? Antes da televisão, teve experiência em outros meios, como teatro e cinema?
Eu sempre quis fazer arte. Aos três anos, brincava de chorar, minha mãe ficava assustada (Risos). Depois de eu insistir muito, minha mãe me matriculou no teatro aos sete anos, na Cal. Meu primeiro papel foi o de bobo da corte! (Risos). Depois disso, não consegui mais sair dos palcos. Fiz muitos cursos, peças e comecei a estudar audiovisual, além da faculdade. Na televisão, meu primeiro papel foi em Boogie oogie, depois vieram Verdades secretas e A lei do amor. Este é o meu quarto trabalho. E, no cinema, minha estreia foi ano passado, com o filme Ninguém entra, ninguém sai.

A segunda fase de O outro lado do paraíso tem sido bem recebida pelo público. A que atribui o atual sucesso da novela?
O sucesso nunca é construído sozinho! É fruto de muito suor, amor, dedicação e vontade de fazer acontecer de toda uma equipe – dos câmeras, das camareiras, dos diretores, dos figurinistas, maquiadores, contrarregras, faxineiros, caracterizadores, atores, preparadores, equipe de som, da fotografia, do autor e, principalmente, do público. Além de acreditar sempre que o Walcyr traz uma história muito real, com uma trama muito crível e recheada de assuntos importantes que, aliada ao olhar do nosso time de direção, comandado pelo Maurinho, faz a beleza dessa história acontecer e encantar. É um prazer enorme fazer parte dessa equipe!

O elenco de O outro lado do paraíso é composto por diversos atores de renome e com extenso currículo. Como tem sido atuar lado a lado com essas estrelas?
Está sendo maravilhoso, a realização de grandes objetivos. É quase uma faculdade completa (Risos). Muitos dos grandes atores que cresci admirando agora estão ao meu lado. Aprendo diariamente com eles, seja contracenando ou apenas observando e conversando. A Sandra Corveloni, que interpreta a minha mãe na novela, já foi premiada em Cannes, por exemplo. É um privilégio estar tão próxima dela e de nomes como Marieta Severo, Laura Cardoso, Natália Timberg, Lima Duarte, Fernanda Montenegro, Glória Pires, Ana Lucia Torre, Juca de Oliveira que, além de profissionais incríveis, são pessoas generosas e amorosas.

Você tem planos ou trabalhos atuais fora da tevê?
A última peça que estive em cartaz foi Blackbird, há três anos. Quero muito voltar aos palcos em 2018, quem sabe com um texto meu? Amo escrever e já tenho algumas peças prontas. Quero sempre mais papeis desafiadores, com boas histórias para contar, sejam em televisão, cinema ou outro formato. Amo o processo de aprender com cada novo personagem e mostrar isso para o público da forma mais verdadeira possível.