A primeira infância é problema de todo mundo, defende a atriz Denise Fraga

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São Paulo – O segundo e último dia do Simpósio Internacional de Desenvolvimento da Primeira Infância juntou em torno do debate sobre o início da vida personalidades, além do médico Drauzio Varella, como a atriz Denise Fraga; a diretora de Responsabilidade Social da TV Globo, Beatriz Azeredo; e o diretor de campanhas da Purpose no Brasil, Caio Coimbra. O evento, organizado pelo Núcleo de Ciência pela Infância (NCPI), reuniu 300 pessoas presencialmente em São Paulo, além de diversas outras em 84 simpósios-satélites realizados em 84 localidades, das quais duas no exterior.

A atriz Denise Fraga fez uma importante reflexão sobre a necessidade de repensar comportamentos individuais e comunitários. Após se tornar mãe, ela começou a escrever uma coluna de crônicas na Revista Crescer, em que desabafa e faz pensar sobre maternidade, filhos e infância. “Se tem algo que nossos filhos vão nos dar é dúvidas. Aí me convidaram para fazer essa coluna, onde eu pudesse despejar tudo isso, e eu me descobri um ser escrevente”, disse.

Em uma de suas crônicas, Denise Fraga diz que “nossos pequenos nos dão um tesouro: a chance de nos reconectarmos com o que é essencial”, no sentido de estar no momento presente, observar com atenção plena objetos tão simples quanto uma colher. “Como eles são melhores do que nós, eles ainda têm algo que perdemos.” A atriz revelou se preocupar com o processo de “desumanização” que acomete a sociedade atual.

“Todos nós, nossa família, nossos filhos estão com o olho enfiado na tela, com a atenção dividida… Eu fico pensando no que a gente vai fazer com essa arma fantástica que está mais usando a gente do que a gente usando ela, que é o celular.” Toda essa dispersão e o excesso e a velocidade de informações acabam desviando o foco do que é realmente importante. “Eu li outro dia que aumentou muito o suicídio infantil, de 8 a 12 anos. Deveria soar uma sirene contínua infernizando nossos ouvidos. As crianças estão se suicidando. Aí tem alguma coisa muito errada”, alertou.

“E como a gente se atreve a não fazer nada?”, questionou. Ela defende que, assim como a omissão é um enorme erro, o comprometimento têm grande impacto. “São as pessoas que fazem a diferença. Eu fico mais esperançosa porque ainda tem gente fazendo, ainda tem muita gente legal neste mundo”, afirmou. “A gente tem que ficar atento para ter estraétigas de esperança. Eu sinto que há uma epidemia de melancolia. É uma sociedade absurda. Com quem você acha que vai ficar o filho de uma pessoa que ganha um salário minímo se ela não tem creche?”, perguntou.

A artista acredita que as tradições dos indígenas Maputi, do Chile, podem ser boa inspiração para moldar uma nova sociedade, que se responsabilize pelas crianças de forma coletiva, em vez de atribuir essa responsabilidade somente aos pais. “O que me marcou é que eles dizem: seu filho não é seu, seu filho é nosso. A missão de cuidar é de todos. Os índios fazem isso.” É preciso que o Brasil assuma essa postura com relação à primeira infância, que é onde começam todas as desigualdades. “Tem gente que diz: não é problema meu. Mas é problema de todos nós.”

Encontro de alumni

Na tarde desta sexta-feira (4), ocorreu um encontro dos ex-alunos do curso de liderança executiva em desenvolvimento da primeira infância, que é promovido em parceria entre a Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal e a Universidade Harvard.

No total, 580 pessoas já passaram pela formação, entre parlamentares, prefeitos, governadores, primeiras-damas e outros líderes, servidores públicos, educadores, trabalhadores de saúde e assistência social, integrantes do terceiro setor, entre outros que podem fazer a diferença no desenvolvimento da primeira infância em suas áreas de atuação.

O curso, inclusive, foi um dos propulsores que permitiu a criação e a aprovação, em apenas um ano, na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, do Marco Legal da Primeira Infância. Como destacou o ministro da Cidadania, Osmar Terra, na quinta (3).

“Eu nunca tinha visto algo assim. O Marco da Primeira Infância foi aprovado no Senado e na Câmara por unanimidade. Tinha parlamentares de todos os partidos lutando por isso”. Ele destacou a importância da iniciativa. “O curso de Harvard foi decisivo para esse processo”, afirmou.

 

*A jornalista viajou a convite da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal

Violência sistêmica, pobreza e mães encarceradas são um ciclo que prejudica as crianças, reflete o médico Drauzio Varella

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São Paulo – O médico Drauzio Varella está preparando uma série de vídeos sobre a primeira infância, com o objetivo de passar conhecimentos de saúde de modo simples e prático, como habitualmente faz. Inspirado por esse momento de aprofundamento no tema e convidado para participar do oitavo Simpósio Internacional de Desenvolvimento da Primeira Infância, ele traçou um paralelo entre a violência e a pobreza sistêmicas, a política de encarceramento e as consequências drásticas para as crianças, especialmente na primeira infância.

Flávio Moret/Divulgação

Além de colaborar com o programa Fantástico, da TV Globo, Drauzio Varella atende, semanalmente, mulheres num presídio feminino de São Paulo. “As que têm 25 anos e não tem filhos ou são inférteis ou são gays. Outro dia, atendi uma de 28 anos que disse que estava muito feliz. Num presídio, é de se estranhar. Perguntei por que. Ela respondeu: é que nasceu meu neto, estou velha já. Tem outra de 40 anos que já tinha três bisnetos”, relatou. A natalidade das encarceradas, classificou ele, como crueldade, pois as crianças crescem sem as mães.

O que também tem relação com paternalidades falhas. “Os homens colocam filho no mundo e deixam para as mulheres. A mulher vai ter que trabalhar, mas não tem com quem deixar o filho. Aí, as decisões vão se atrapalhando, ela engravida de novo… Como essa mulher vai cuidar dessas crianças e ser a provedora do lar?”, questionou. “Temos que dar uma bolsa para as que não engravidarem”, brincou. “Porque temos que cuidar dessa criança, dar bolsa-escola e, depois, construir cadeia para elas, pois se perdem, conhecem criminosos…”, lamentou.

Muitas vezes, reflete o médico, o envolvimento com o crime se dá pelos contatos feitos nas periferias e, quando uma mãe recebe uma proposta de ganhar R$ 500 para transportar uma droga, até para dentro de um presídio, ela aceita para conseguir dinheiro para cuidar dos filhos. “Ou então elas aceitam levar droga para o namorado ou marido preso. Aí, pega com tráfico de entorpecentes, ela, que largou criança em casa, já não volta para casa. Vai para a delegacia, é presa em flagrante, e os juízes dão quatro anos de cadeia…”, continuou.

“Às vezes, essa mãe deixou o filho de 7 anos cuidando de dois irmãos menores… Aí ela não volta, ninguém sabe onde está, até que descobrem que ela está presa. E quem vai absorver três crianças? Cada parente pega uma, aí já destruiu a família.” E o pior de tudo, reflete o médico, é que não há nenhum ganho nisso. “Quem ganhou com isso? As crianças não ganharam, a mãe não ganhou nada, e a sociedade vai manter ela lá e também não ganha nada.” Para Drauzio Varella, é um mito afirmar que existe impunidade no país.

Flávio Moret/Divulgação

“Em 1999, o Brasil tinha 90 mil presos. Hoje tem 720 mil.” E eles vivem em situação de superpopulação cacerária. “Nós entregamos as cadeias para o crime organizado, que virou um poder paralelo. Numa cela com 30 pessoas, a gente não consegue garantir segurança. Quem garante será o crime que se organizou.” O envolvimento com o crime e passar períodos na prisão parece passar hereditariamente, mas não tem a ver com genética, mas com falta de oportunidades e condições. “Hoje, eu atendo meninas que dizem: você tratou da minha avó, da minha mãe, do meu avô no Carandiru… São gerações presas”, relatou Drauzio.

“Que sociedade é essa que vai punir alguém que já veio de uma situação inferiorizada. E, na cadeia, essa mulher conhece gente mais experiente e vai aprender como agir no crime”, apontou. Assim, a reclusão não traz consigo restauração ou preparo para reinserção à sociedade. Tudo isso é fruto de uma desigualdade enorme. “As pessoas de classe média reclamam: ah, roubaram meu celular. Vá à periferia ver o que as pessoas passam por lá”, instigou.

“Na periferia não tem espaço, não tem quadra ou campo para jogar bola. Ficam lá os moleques de 12, 13 anos fumando maconha na rua. Se não oferecermos perspectiva para esses meninos, não vamos ter paz nas ruas”, disse. “Não é possível manter esse nível de desigualdade e querer andar em paz na rua.” E o melhor momento para agir a fim de combater tanta desigualdade é a primeira infância, a fim de permitir que os filhos das famílias pobres cresçam, se não com condições de igualdade, mas, pelo menos, melhores do que sem intervenção alguma.

*A jornalista viajou a convite da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal

Programas de visitas domiciliares, como o Criança Feliz, são maior aposta de especialistas para garantir desenvolvimento na primeira infância para as famílias mais pobres

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São Paulo – “As famílias são a chave para o estímulo na primeira infância. É ela que provê recursos, apego, amor, estímulo e aprendizados”, comentou Raquel Bernal, professora da Universidade de Los Andes, na Colômbia, durante o oitavo Simpósio Internacional de Desenvolvimento da Primeira Infânncia. “Nem todos os pais sabem fazer isso. Em alguns, não há espaço no cérebro pra pensar na criança já que estão lidando com problemas graves como falta de comida, falta de moradia.”

Raquel Bernal, da Universidade de Los Andes

Por isso, ela defende que programas de parentalidade, incluindo os de visitas domiciliares, são muito importantes. No entanto, eles precisam ter qualidade. “Em outras áreas, se o governo investir em algo que não for bom, pode só desperdiçar dinheiro. Na primeira infância, se a qualidade do programa não for boa, você pode machucar e prejudicar as crianças”, alertou Raquel.

Elementos-chave que ela cita para assegurar a qualidade de programas de parentalidade são: currículo estruturado com base em evidências; pessoal qualificado, treinado e orientado sistematicamente; brinquedos e materiais para compartilhar; e supervisão construtiva. “Não tem equidade sem qualidade. E sem qualidade a gente corre o risco de intensificar desigualdades”, declarou Mariana Luz, CEO da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal.

O professor do Insper Naercio Menezes Filho

Na avaliação do professor do Insper Naercio Menezes, para ajudar as famílias com menor escolaridade e renda, há muito que se pode fazer. “Os programas em que vemos mais efeito são os de visitas domiciliares, como o Criança Feliz. É importante ter alguém visitando essas famílias pobres para identificar problemas e encaminhar quando preciso, por exemplo, para um médico; além de ajudar a melhorar a interação entre as mãos e as crianças”, apontou.

Iniciativa é consolidada internacionalmente

O formato é reconhecido mundialmente, como comentou Helen Raikes, professora catedrática de estudos da criança, juventude e família da Universidade de Nebraska-Lincoln, nos Estados Unidos. Avaliando programas de visitas domiciliares, ela concluiu que eles têm resultados tanto de curto quanto de longo prazo.

“Os programas de visitação familiar podem reduzir pela metade a taxa de abuso e negligência à criança e o envolvimento com os serviços de proteção infantil”, analisou ela, a partir de quatro estudos sobre programas de intervenção de qualidade para crianças de 0 a 3 anos em situação de risco nos Estados Unidos.

Helen Haikes, da Universidade de Nebraska-Lincoln

Esse tipo de política pública também traz impactos ao desenvolvimento cognitivo e de linguagem. Em longo prazo, os resultados envolvem melhor escolaridade, empregabilidade e salários ao longo da vida. Em geral, na vida adulta, essas pessoas tendem a ter filhos mais tarde e a ser mais saudáveis (com taxas mais baixas de pré-hipertensão, menor risco de doenças cardíacas e menos obesidade).

 

*A jornalista viajou a convite da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal

“Onde você nasce determina onde você estará em 40 anos”: o peso da escolaridade e da condição socioeconômica das mães

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São Paulo – Mais da metade das crianças vivem em situações fora do ideal no Brasil, o que atrapalha a formação de cidadãos plenos. Ao mesmo tempo, a primeira infância é a faixa etária em que, se houver investimento, tem mais potencial de quebrar ciclos de desigualdade. É o que destaca Naercio Menezes Filho, doutor em economia pela Universidade de Londres e professor do Insper e da Universidade de São Paulo (USP). “O Brasil é bastante estratificado, com pouquíssima mobilidade entre classes”, disse. “E a primeira infância é a melhor maneira de atacar a desigualdade”, afirmou durante o oitavo Simpósio Internacional de Desenvolvimento da Primeira Infância.

O doutor em economia Naercio Menezes Filho

 

O evento começou nesta quinta-feira (3) e continua nesta sexta-feira (4). Apesar de admitir que houve melhorias ao longo dos anos na situação das crianças, há muito o que avançar no país nesse sentido, como Naercio comenta a partir de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “Em torno de 60% das nossas crianças estão vivendo com pelo menos uma dessas restrições: falta de proteção social, de moradia ou de saneamento básico”, alertou. Além disso, de acordo com o Unicef (Fundo das Nações Unidas pela Infância), 60% das crianças e dos adolescentes no país, ou 32 milhões, vivem na pobreza. “Será que eles vão ter condições de realizar seus sonhos?”, questionou Naercio.

Produtividade estagnada

“Até que ponto o baixo aprendizado (como mostram resultados do Pisa, Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) e a situação dos jovens nem nem (que nem estudam nem trabalham) vêm das desigualdades da primeira infância?”, perguntou. “Nossa produtividade, em termos de PIB por trabalhador, é a mesma de 40 anos atrás. Até que ponto isso reflete a falta de qualidade e resultados na educação que, por sua vez, decorre de problemas na primeira infância?”

O peso da escolaridade das mães

Segundo ele, que desenvolve estudos em áreas como educação, mercado de trabalho, distribuição de renda e produtividade, a escolaridade das mães é um dos maiores preditores do futuro das crianças. “As análises mostram que os filhos de analfabetas dificilmente chegam à faculdade, enquanto os filhos das mães com nível superior seguem, em sua maior parte, para o nível superior”, observou. Dessa maneira, Naercio relaciona baixos resultados educacionais e profissionais com o que ele chama de “a loteria da vida”: quem teve a sorte de nascer num lar com melhores condições e pais com maior escolaridade terá, desde o ventre, mais vantagens.

Raquel Bernal, professora da Universidade de Los Andes

“Onde você nasce vai determinar onde você estará daqui a 40 anos, mas não deveria ser assim. A gente acha que é natural, mas todos deveriam ter oportunidades iguais”, defendeu Naercio. “As mães com nível superior fazem cerca de 10 consultas de pré-natal; as mães com até quatro anos de estudo fazem 6. Até o peso ao nascer do bebês de mães com ensino superior é maior”, comparou. Raquel Bernal, professora de economia da Universidade de Los Andes, na Colômbia, também percebe isso.

Em estudo em que comparou atividades estimulantes desenvolvidas com filhos de mães com diferentes níveis de escolaridade em Argentina, Costa Rica, Panamá, Trindade e Tobago, verificou que a quantidade de atividades estimulantes cresce com a quantidade de anos estudados pelas mães. “Existem lacunas significativas nos ambientes de aprendizagem nas casas das famílias por causa de características socioeconômicas”, observou a doutora em economia pela Universidade de Nova York. Por isso, políticas públicas e programas que auxiliam as famílias em sua missão têm grande valor, segundo a pesquisadora.

 

*A jornalista viajou a convite da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal

Atendidos pelo Criança Feliz devem crescer de 700 mil para 1 milhão ainda este ano e para 3 milhões até 2022

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São Paulo – Reunidas desde ontem para o oitavo Simpósio Internacional de Desenvolvimento da Primeira Infância, 300 pessoas discutem e refletem sobre equidade durante o período que vai do ventre da mãe aos 6 anos de idade. O evento, organizado pelo Núcleo Ciência pela Infância (NCPI), continua hoje em São Paulo com especialistas do Brasil e do exterior.

“Temos 20 milhões de crianças até 6 anos no país, das quais um terço vivem em vulnerabilidade. E a gente tem que cuidar para resolver isso no início da vida”, destaca Mariana Luz, CEO da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, uma das entidades apoiadoras do evento, sobre a tônica do simpósio.

Mariana Luz, CEO da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal

“Os bebês nascem iguais, ou com o mesmo potencial de desenvolver, e se a gente mitigar essas diferenças logo no início da vida, a gente consegue avançar. Precisamos encarar esse debate com responsabilidade”, completou.

A participação do ministro Osmar Terra

Convidado para bate-papo no simpósio, o ministro da Cidadania, Osmar Terra, comemorou os resultados do programa de visitas domiciliares Criança Feliz que, recentemente, foi premiado pelo World Innovation Summit for Education (Wise), grande cúpula de educação do Catar. “É o maior programa de visitas domiciliares do mundo, e a China está pegando informações com a gente para implementar um por lá”, completou. Osmar Terra define a política pública como um programa de exercício de parentalidade que se baseia nas descobertas da neurociência.

O ministro da Cidadania Osmar Terra

“Todo mundo sabe que é no início da vida que se desenvolvem conexões cerebrais numa velocidade incrível”, disse. “A ciência mostra que é impossível não considerar a primeira infância como a fase mais importante, que é impossível um governo não considerar a primeira infância a política mais importante”, declarou Osmar Terra. Ele garantiu que o governo federal está convencido da importância do programa, que tem ganhado apoio ainda de outras entidades.

“A Petrobras não patrocina mais a Fórmula 1. A prioridade de patrocínio agora é a primeira infância”, contou. “Conseguimos que o CNJ (Conselho Nacional de Justiça) abraçasse a causa. E a Raquel Dodge separou R$ 250 milhões recuperados pela da operação lava jato para a primeira infância. As coisas estão se juntando”, elencou. Mesmo em tempos de dificuldades econômicas, o ministro garante a continuidade do programa.

“A raiz da desigualdade humana está nesse período da vida e nós temos que ajudar a diminuir. Temos que fazer ser prioridade mesmo com o país quebrado”, defendeu.“Pode faltar dinheiro para o capacete da Fórmula 1, mas não pode faltar para a primeira infância, pode faltar para outras áreas do governo federal, mas não pode faltar para a primeira infância.”

Mariana Luz e Osmar Terra

Criança Feliz será expandido

O programa Criança Feliz, anunciou Osmar Terra, atingirá 1 milhão de crianças este ano. A expectativa é ampliar para 2 milhões no ano que vem é para 3 milhões no último ano do governo Bolsonaro, para contemplar todas as atendidas pelo Bolsa Família. O orçamento do Criança Feliz este ano é de R$ 350 milhões. Em 2020, isso deve passar para um valor entre R$ 800 milhões e R$ 900 milhões.

Quanto atingir a totalidade das crianças do Bolsa Família, o orçamento deve ser de cerca de R$ 2 bilhões. “Não é um programa caro. O custo por criança sai razoavelmente barato: em torno de R$ 300 ou R$ 400 por criança por ano”, informou. “É no mínimo 10 vezes menos que o custo de creche”, detalhou Osmar Terra em entrevista coletiva. Apesar disso, ele esclareceu ainda que, de forma alguma, a política pública substitui creches. “A creche tem que existir.”

 

*A jornalista viajou a convite da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal

MEC estuda “voucher-creche” para atender crianças das famílias mais vulneráveis

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São Paulo – Participando do oitavo Simpósio Internacional de Desenvolvimento da Primeira Infância, o ministro da Cidadania, Osmar Terra, respondeu a perguntas de jornalistas em entrevista coletiva. Questionado sobre a articulação do governo federal com relação à necessidade de aumentar o número de vagas em creches públicas, Osmar Terra falou de uma espécie de voucher, que está sendo pensado para isso.

Osmar Terra contou sobre plano estudado por Weintraub

“O governo está vendo uma política… Houve uma promessa de fazer 6 mil creches, isso não aconteceu, ficou reduzido aí para umas 600”, admitiu. “São creches bonitas, grandes, mas os prefeitos não querem, porque o problema não é fazer a creche, é manter a creche”, alegou. “A manutenção custa mais em um ano do que toda a construção. O que o ministro (da Educação) Abraham Weintraub está pensando, emergencialmente, é em dar um voucher de creche para as famílias mais pobres terem acesso a creches públicas ou particulares de modo rápido”, disse.

O valor da educação infantil

O doutor em economia Naercio Menezes Filho

A função da pré-escola no combate a desigualdades, para o professor do Insper e da Universidade e São Paulo (USP), Naercio Menezes Filho é tão importante quanto programas de visitas domiciliares. “Você nunca vai conseguir acabar totalmente com a desigualdade, já que começa ainda na barriga da mãe. Mas você pode atenuá-la de dois jeitos: na família, por meio de programas de visitas, e em pré-escola e creche”, sugeriu o doutor em economia pela Universidade de Londres. “Mas não adianta serem lugares ruins, onde a criança só fica jogada para a mãe poder trabalhar. É importante que as condições sejam de qualidade para ter resultados.”

Daniel Domingues dos Santos, professor da USP

É por isso que Daniel Domingues dos Santos, professor de economia da USP, doutor pela Universidade de Chicago, explica que “nem todas as pessoas se beneficiam por terem acesso à educação infantil”. Ele aponta os resultados da Prova Brasil de 2013 como indícios para isso. A diferença de desempenho em matemática no 5º ano do ensino fundamental entre egressos e não egressos do ensino infantil considerando o nível educacional das mães não foi tão significativa.

“O que esse gráfico mascara para nós é que qualidade tem a ver com equidade. Aí vem a pergunta: o que é qualidade? A boa notícia é que a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) hoje dá pistas do que a sociedade entende por qualidade, que está em linha com o que boa parte do mundo entende por qualidade”, afirmou. “Qualidade começa com garantias de direitos de aprendizagem e traz a ideia dos campos de experiência. Qualidade está na oportunização de experiências, como brincar, nos processos que acontecem dentro de sala de aula.”

E os efeitos de uma educação infantil de qualidade são enormes, como mostra o programa Melqo (Measuring Early Learning Quality and Outcomes) que Daniel ajudou a adaptar e validar em Boa Vista (RR). “É como se crianças em salas de aula com interação de qualidade tivessem seis meses a mais de estudo e aprendizado do que as que estavam em salas ruins. Ou seja, elas aprendem seis meses antes o que as que têm acesso a uma educação infantil ruim aprenderão seis meses depois”, comparou.

 

*A jornalista viajou a convite da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal

Simpósio reúne 300 pessoas para discutir equidade na primeira infância

Flávio Moret/Divulgação
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Começou nesta quinta-feira (3) e segue até sexta-feira (4), em São Paulo, a oitava edição do Simpósio Internacional de Desenvolvimento da Primeira Infância. O evento reúne especialistas do Brasil e do exterior para discutir assuntos importantes para os primeiros seis anos de vida da população, além de desafios em termos de políticas públicas.

Neste ano, o tema norteador do simpósio é “equidade na primeira infância: os primeiros passos para um Brasil mais justo”. Cerca de 300 pessoas participam da programação presencialmente; no entanto, mais de 1.500 se inscreveram. Para incluir esses outros interessados, o NCPI organizou 80 simpósios-satélite, que transmitem a programação ao vivo em diversas cidades do Brasil e até do exterior.

Entre os palestrantes, destacam-se personalidades como David R. Williams, professor do Departamento de Saúde Pública da Universidade Harvard; a atriz Denise Fraga; o médico Drauzio Varella; Helen H. Raikes, professora catedrática da Universidade de Nebraska-Lincoln.

Flávio Moret/Divulgação

Claudia Vidigal falou na abertura do evento. Crédito: Ana Paula Lisboa/CB/D.A Presss

Na abertura do seminário, Claudia Vidigal, representante no Brasil da Fundação Bernard van Leer, destacou que as discussões iniciadas no evento não devem acabar com ele. “Uma solução só não resolverá nosso problema. Não se soluciona um problema de desigualdade tão sério quanto o nosso com soluções simplistas. Por isso, oito simpósios e muitas outras discussões”, afirmou.

Acompanhe on-line

O principal objetivo da programação é estimular reflexões sobre a importância de promover equidade de oportunidades durante a primeira infância, passo essencial para construir um país mais justo. O evento é promovido pelo Núcleo Ciência pela Infância (NCPI), e as sete edições anteriores, ocorridas em São Paulo, Recife e Fortaleza, reuniram mais de 2.400 pessoas presencialmente e atingiram 11 mil on-line.

Interessados podem acompanhar o simpósio, que ocorre na Estação Cidade de São Paulo, também pela internet, acessando ncpi.org.br/simposio-internacional. O público-alvo é formado por gestores e líderes do setor público, mas qualquer um que se interesse por primeira infância e deseja se aprofundar na temática pode participar.

Flávio Moret/Divulgação

Integrantes da mesa de abertura Crédito: Flávio Moret/Divulgação

Saiba mais

O simpósio do NCPI é promovido em parceria com as fundações Maria Cecilia Souto Vidigal e Bernard van Leer, o Insper, a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, e a Universidade Harvard, por meio do Center on the Developing Child e o David Rockefeller Center for Latin American Studies.

*A jornalista viajou a convite da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal

Antes dos 2 anos de idade, já existe diferença de vocabulário entre crianças ricas e pobres

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O nível econômico determina o volume do vocabulário de crianças. É o que constatou pesquisa de universidade norte-americana. Estudo detectou diferenças relevantes a partir dos 2 anos de idade que são acentuadas com o passar do tempo.

Os pesquisadores Betty Hart e Todd R. Risley, da Universidade do Kansas nos Estados Unidos, passaram dois anos e meio acompanhando o desenvolvimento de crianças de 42 famílias locais.

Os cientistas avaliaram as palavras ditas e compreendidas pelos bebês. O resultado final revelou que as diferenças de desenvolvimento intelectual são diretamente proporcionais ao nível socioeconômico familiar. Os cientistas chamaram o fenômeno de “catástrofe precoce” (em tradução livre).

Em um dos testes, as crianças eram colocadas no colo da mãe e os pesquisadores mostravam duas imagens. Um pássaro e um carro, por exemplo. Então, pediam à criança que olhasse para uma das imagens. As crianças de 1 ano e meio vindas de famílias com condições econômicas excelentes enxergaram a imagem correta num espaço de tempo 200 milissegundos mais rápido do que aquelas crianças cujas condições econômicas eram classificadas como precárias. Parece pouco, mas os especialistas garantem que é uma diferença significativa.

Número de palavras

Em relação à quantidade de palavras às quais a criança tem acesso, o estudo mostra que aquelas de lares de alta renda são expostas a cerca de 30 milhões de palavras a mais do que os dependentes de assistência do governo. Isso quer dizer que, enquanto crianças com menos dinheiro escutam, em média, 616 palavras por hora, crianças com mais dinheiro ouvem 2.153 palavras por hora. Um volume quase quatro vezes maior, portanto.

Comunicação

O estudo avalia ainda o conteúdo do que os pais diziam aos filhos. Dividindo as famílias por renda em três categorias, os pesquisadores notaram que os pais da categoria mais abastada faziam seis elogios a cada crítica. Já os da categoria intermediária, pais assalariados que não recebiam assistência do governo, faziam dois elogios por crítica. Os pais na faixa com menos dinheiro faziam duas críticas por elogio aos filhos.

Os pesquisadores, que acompanharam de perto as 42 famílias por dois anos e meio, afirmaram que em nenhuma delas faltou amor ou afeto. A grande diferença foi a forma de se comunicar. Sobre essa situação, os pesquisadores ressaltaram que, quanto mais tempo se demora para entender a situação da criança, mais difícil fica para que uma mudança seja feita.

Para representante do Grupo Aconchego, novo sistema de adoção traz esperança para crianças e adolescentes que vivem em abrigos

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Com Millena Campello*

O Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (SNA) foi lançado em 15 de agosto. O modelo veio para integrar e substituir os Cadastros Nacionais de Adoção (CNA) e de Crianças Acolhidas (CNCA). Os 27 tribunais de Justiça estaduais e do DF passarão por capacitação e devem operar a partir de outubro com a novidade. Confira o site do novo sistema.

Todas as crianças e todos os adolescentes que estão em alguma instituição de acolhimento (ou seja, abrigo) estão cadastrados no CNCA. Quando eles estão aptas para serem adotados, seus dados vão para o CNA. O novo sistema integra todas essas informações em apenas um lugar, para que juízes e quem mais trabalha com crianças e adolescente possam ter uma visão global de todos os menores.

Assim, o SNA permite a visualização de todo o processo da criança e do adolescente, desde a entrada no abrigo até a adoção. O novo sistema também sana um problema do processo de adoção, o prazo. De acordo com a Lei nº 12.010/2009, que dispõe sobre adoção, crianças e adolescentes não podem passar mais de dois anos em abrigos. Contudo, segundo Karina Bernardo, porta-voz do Grupo Aconchego (entidade civil sem fins lucrativos, fundada em 1997, que trabalha no Distrito Federal em prol da convivência familiar e comunitária de crianças e adolescentes em acolhimento institucional), esse direito é frequentemente violado.

“Há casos em que as crianças chegam ao abrigo aos 13 anos e saem aos 18”, explica Karina. Para ela, isso é uma falha no sistema geral de atendimento e proteção à criança e ao adolescente, ocasionada pela ausência de dados reais e da vigilância dos prazos. Com o novo sistema, membros do judiciário e do CNJ recebem alertas sempre que algum processo estiver atrasado.

Crianças de abrigo beneficiadas pelo projeto Irmão mais Velho, do Grupo Aconchego. Aconchego/Reprodução

“A criança não tem voz sozinha. Se ela não tiver um adulto que a represente ou um Poder Judiciário que olhe para ela, ela vai ficando no abrigo até Deus sabe quando”, observa. Karina acredita que outra razão do atraso é a ausência de estrutura básica. “Faltam psicólogos e assistentes sociais nos abrigos e no juizado da vara da infância.”

Para quem pretende adotar, o que muda é o acompanhamento do processo. Quando alguém decide que vai adotar, é necessário passar por várias etapas e existe uma fila de espera. Logo, após dar entrada no processo, é possível realizar o pré-cadastro on-line, no site do SNA. Depois, é preciso ir a alguma vara da infância para homologar.

Pelo site, é possível acompanhar todo os passos, tendo acesso, inclusive, ao número de pessoas que se cadastraram antes de você. Antes, era necessário ir pessoalmente à vara e pedir para ver a lista de espera. Para Karina, o novo sistema dá esperança de que o direito de crianças e adolescentes viverem em uma família seja cumprido de forma mais rápida e eficiente. Contudo, ela acredita que é necessário investimento no treinamento de servidores e na ampliação de pessoas trabalhando no processo de implementação do projeto.

As cortes que estão operando com o SNA são a do Espírito Santo (TJES), São Paulo (TJSP), Alagoas (TJAL), Bahia (TJBA) e Paraná (TJPR). Em 15 de agosto, outros três tribunais de Justiça — Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT), de Goiás (TJGO) e de Roraima (TJRR) — migraram suas bases de dados para o SNA. A data de início do funcionamento total desse sistema é 12 de outubro e, até lá, ocorrerão treinamentos e implementação nas outras cortes.

Leia mais:

Projeto da Vara da Infância do DF incentiva adoção de crianças e adolescentes que fogem do perfil “mais desejado” pelas famílias

 

*Estagiária sob supervisão de Ana Paula Lisboa

Grupo da USP desenvolve aplicativo para prevenir depressão materna e gestacional

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Para auxiliar na prevenção da depressão durante a gravidez e na lida diária com filhos, um grupo de pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) criou um aplicativo capaz de identificar sintomas depressivos em gestantes e mães. O app Motherly , (maternal, em inglês), como foi chamado, indica intervenções para evitar maiores riscos e também incentiva a procura por ajuda profissional de acordo com o quadro apresentado.

O projeto é financiado pela Grand Challenges Canada, organização canadense sem fins lucrativos que usa um modelo da Fundação Bill & Melinda Gates para financiar soluções para desafios críticos de saúde e desenvolvimento, e pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, organização brasileira com foco na primeira infância. A equipe do Motherly é composta por três psicólogos, uma nutricionista, um psiquiatra e uma pediatra.

O Motherly está em processo de desenvolvimento, e uma versão preliminar será lançada em breve para mulheres que se candidataram para participar do período de testes, ainda como parte da pesquisa. Ainda é possível preencher o cadastro no site do projeto para contribuir com as pesquisas. Além da saúde mental, o aplicativo também monitora aspectos como peso, qualidade do sono, nutrição e atividades físicas.

Após o cadastro no aplicativo, é solicitado à gestante que responda a algumas perguntas, que ajudarão a montar o perfil dela. Dessa forma, é possível identificar sinais que merecem atenção. Para prevenir a depressão, o Motherly utiliza a chamada “ativação comportamental”, usada há décadas na clínica psicológica para incentivar o paciente a fazer atividades das quais gosta ou que lhe são importantes. A técnica parte do pressuposto de que, ao fazer essas atividades, os sintomas depressivos são naturalmente atenuados.

Ao usar o Motherly, as mães e gestantes também monitoram a qualidade do sono e da alimentação, bem como a prática de exercícios físicos, e recebem dicas de como melhorar cada um desses aspectos da saúde. O aplicativo também é personalizado, de modo que as recomendações que cada usuária recebe são diferentes de acordo com o perfil: a gestante só entrará no módulo de ativação comportamental, por exemplo, caso apresente sintomas depressivos.

De acordo com o grupo desenvolvedor, Motherly apresenta também conteúdos informativos e educacionais, que ajudam a sanar dúvidas quanto ao período perinatal. Durante a fase de testes, que conta com mais de 200 cadastros, serão recrutadas 1 mil gestantes de 16 a 35 anos para participar do estudo. A primeira metade delas terá acesso a uma versão do aplicativo interativa, a qual exige da usuária participação mais ativa. As 500 restante vão usar a frente mais informativa do Motherly.

Todas as mulheres serão acompanhadas durante a gravidez, e os primeiros resultados da pesquisa devem ficar prontos a partir do segundo semestre do ano que vem. A princípio, o Motherly serve de auxílio para todo o período da gestação e até três meses após o nascimento. A longo prazo, os pesquisadores querem desenvolver o aplicativo o suficiente para que ele possa ser utilizado até que a criança complete cerca de 4 anos.