1 Às vezes, tudo o que uma mãe quer e precisa é amamentar em paz. A sociedade precisa aprender a ser mais compreensiva e aceitar o aleitamento materno como um ato tão natural quando dar uma fruta a uma criança em público Fernando Lopes/CB/D.A Press

Falta de empatia e desrespeito dos outros são grandes adversidades à amamentação

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Às vezes, tudo o que uma mãe quer e precisa é amamentar em paz. A sociedade precisa aprender a ser mais compreensiva e aceitar o aleitamento materno como um ato tão natural quando dar uma fruta a uma criança em público

Além dos eventuais traumas fisiológicos que a amamentação pode causar às mães, os ambientes em que o aleitamento materno é feito também merecem atenção. Neste ano, a campanha anual de incentivo à amamentação do Ministério da Saúde destaca a importância do amparo de toda a rede de apoio (família, amigos, profissionais de saúde, empresários) aos pais, em especial às mulheres que estão amamentando.

Amamentar nem sempre é fácil. As adversidades podem ser tanto físicas e de saúde da mãe, quanto externas, quando a mulher não conta com compreensão por parte da rede de apoio (como amigos, familiares e até empregador) ou até de outras pessoas. Tanto é que existe um projeto de lei federal tramitando para proteger as mães desse problema.

Um exemplo claro de desrespeito aconteceu em 17 de julho, quando uma passageira amamentava a filha de 1 ano durante um voo internacional da companhia aérea KLM e foi abordada por uma comissária de bordo, que pediu que ela cobrisse os seios com um cobertor. A trabalhadora tomou a atitude após reclamações de outros passageiros, que consideraram a amamentação um ato “desrespeitoso” em público.

 

Repreendida por amamentar em voo, a norte-americana Shelby Angel se manifestou contra companhia aérea nas redes sociais

A mãe não aceitou a imposição e postou sobre o caso nas redes sociais. O caso viralizou e, no dia seguinte, a empresa aérea se posicionou o Twitter dizendo que é permitido amamentar durante voos, mas pede que as mães se cubram para evitar problemas com pessoas de outras culturas. O pediatra e homeopata Moises Chencinski, criador e incentivador do Movimento Eu Apoio Leite Materno, autor de blog homônimo e coautor do livro É mamífero que fala, né?, escreveu artigo sobra a questão. Confira o posicionamento:

O médico Moises Chencinski se posiciona contra atitude de companhia aérea

“Obrigado, KLM: a amamentação agradece!

Estamos no Agosto Dourado, mês dedicado à sensibilização e à conscientização sobre a importância do aleitamento materno. Mas, todo ano, mesmo perto dessa data, aparecem situações que nos fazem refletir e repensar nossa postura e nossas ações.

Na semana passada (17/7), a empresa holandesa de aviação KLM protagonizou uma situação, no mínimo estranha. Durante um voo de San Francisco para Amsterdã, uma passageira que amamentava sua filha de 1 ano foi abordada pela comissária de bordo com um cobertor para que ela cobrisse os seios e a criança, por ter recebido reclamações de passageiros sobre essa atitude ‘desrespeitosa’.

A mãe, Shelby Angel, de Sacramento, na Califórnia, se negou a cobrir a filha e postou em sua página do Facebook, essa situação desagradável e constrangedora pela qual ela passou. As redes sociais da empresa KLM foram então inundadas por comentários e reclamações a respeito dessa atitude.

Em seu Twitter, no dia seguinte, a KLM explicou que ‘é permitido amamentar nos voos, mas, às vezes, é necessário pedir às mães que se cubram’ e que ‘essa era a política oficial da companhia aérea e que os passageiros precisavam respeitar pessoas de outras culturas, para preservar a paz em seus voos’.

Será que alguém respeitou a cultura dessa mãe e a de sua bebê de 1 ano de idade que estava, inocentemente, mamando, enquanto diziam que ‘para amamentar você vai ter que se cobrir e cobrir sua filha’?

A companhia KLM recebeu muitas reclamações de internautas

Procurei nos sites da KLM qualquer informação a respeito da política relacionada à amamentação e, sinceramente, NÃO ENCONTREI NADA. Quando será que essa ‘política oficial’ foi divulgada? Será que essa ‘política oficial’ existe? Se alguém encontrar, favor encaminhar para conhecimento público.

A BBC ouviu outras companhias de aviação. A British Airways disse que ‘jamais impediria uma mãe de amamentar a bordo’. Afirmou ainda que ‘poderia providenciar privacidade se lhe fosse solicitado’. Já a empresa EasyJet disse que ‘suas passageiras são bem-vindas para alimentar seus bebês a bordo a qualquer momento’.

Enquanto a OMS (Organização Mundial da Saúde) e a WABA (Aliança Mundial para Ação em Aleitamento Materno) apresentam, desde 1992, campanhas na Semana Mundial de Amamentação  (SMAM – 1º a 7 de agosto) para normalizar o aleitamento materno, favorecendo a saúde das mães (menos 20.000 mortes por câncer de mama por ano), dos lactentes (menos 823.000 mortes por ano de crianças abaixo de 5 anos de idade) e uma economia de mais de 300 bilhões de dólares anuais (se as mães amamentassem desde a sala de parto, exclusivo até o 6º mês de vida e complementado com alimentação saudável até 2 anos ou mais), ainda temos questões culturais que ‘erotizam’ o ato de amamentar, vindas de onde não se esperaria, culturalmente, esse tipo de atitude.

No Brasil, nossas ações através do Ministério da Saúde, da Sociedade Brasileira de Pediatria e de suas filiadas (incluindo a Sociedade de Pediatria de São Paulo) têm, por objetivo, aumentar as taxas de aleitamento materno para 50% em crianças até 6 meses de idade, seguindo a recomendação da OMS, até 2.025.

Hoje, existem leis municipais e estaduais (ainda não temos uma lei federal) que punem quem constranger uma mãe que amamenta em público. A amamentação vai além da questão nutricional e imunológica (passagem de anticorpos). Amamentar é vínculo, é olho no olho, é pele a pele.

Assim, lamentamos a atitude da empresa citada, de sua equipe de bordo, das pessoas no voo, que não foram identificadas, que se sentiram desconfortáveis com o ato absolutamente natural de uma mãe amamentando seu filho.

Aliás, se formos observar atentamente, há menos mães amamentando seus bebês em público do que seios à mostra no Carnaval e nas praias brasileiras, tão visitadas por turistas nacionais e internacionais. Se essa exposição é respeitada por todos, é encarada como normal (como deve ser) e é usada até como publicidade para se atrair investimentos em turismo para o Brasil, a amamentação pode e deve ser normalizada e respeitada.

E, concluindo, ‘agradecemos’ à KLM por essa atitude. Assim, conseguimos chamar a atenção para o aleitamento materno unir e mobilizar muitas famílias que, indignadas com essa atitude, aproveitarão a SMAM e o Agosto Dourado próximos e, mais sensibilizadas, propagarão e divulgarão cada vez mais o respeito ao aleitamento e a essas mães e bebês maravilhosos que nos mostram dia após dia, sua força e a importância dos vínculos. EMPODERAR MÃES E PAIS. FAVORECER A AMAMENTAÇÃO. Esse é o tema da Semana Mundial de Amamentação para 2.019.”

Leia amanhã!

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