Réquiem em forma de blues

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Gregg Allman sabia que não teria muito tempo para fazer seu último álbum. Quando começou a trabalhar com o produtor Don Was para criar Southern Blood, que está sendo lançado esta semana, ele já tinha se submetido a um transplante de fígado e sabia que tinha sido em vão – o câncer retornara. Mas ele ainda tinha o que dizer.

O estúdio escolhido foi o Fame, de Muscle Schoals, onde tudo começou para ele, ainda com os Allman Brothers; os músicos são companheiros que estiveram com ele na estrada e Don Was soube captar o espírito de sua música com uma abordagem ao mesmo tempo sutil e determinante.

A canção que abre o disco é a última feita por Gregg Allman, My Only True Friend. Ao som de guitarras ele canta: “Você e eu sabemos, esse rio irá certamente fluir para um fim… Espero que você seja assombrado pela música da minha alma, quando eu for… Mas você e eu sabemos que a estrada é minha única amiga de verdade”

As outras nove canções do disco foram selecionadas com cuidado e reforçam o espírito de despedida. Once I Was, de Tim Buckley – “E às vezes me pergunto/ Só por um tempo? Será que você vai lembrar de mim?”. A melancolia se aprofunda em Going Going Gone, de Bob Dylan – “Estou fechando o livro/ Nas páginas e no texto/ E eu realmente não me importo/O que acontece a seguir”.

É um disco de blues; triste, acabrunhado, mas ainda assim cheio de vida. Os arranjos, com muitos metais, valorizam as canções que recebem a privilegiada voz de Gregg

Allman em plena forma. É certamente seu melhor disco, superior até a Laid Back (1973). Ele passou os últimos dias ouvindo as faixas já mixadas; é o réquiem de um gigante da música.