Na torcida pelo melhor amigo

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Muitos animais sofrem com o barulho de fogos e rojões, podendo fugir, se acidentar e até morrer de infarto. Especialistas ensinam a diminuir o sofrimento do melhor amigo durante a Copa do Mundo

 

Chico Bento sofre com barulhos de fogos e rojões e chega a tremer todo o corpo Crédito: Danielle Wolff/Divulgação
Chico Bento sofre com barulhos de fogos e rojões e chega a tremer todo o corpo Crédito: Danielle Wolff/Divulgação

Enquanto boa parte dos brasileiros não vê a hora de começar a torcer pela Seleção na Copa do Mundo, para muitos tutores esse é um momento de preocupação. Os ouvidos dos animais são muito mais sensíveis aos barulhos de fogos e rojões e, além do incômodo, eles podem, literalmente, morrer de medo. Foi o que aconteceu com o chow chow de um vizinho da estudante Dayane Siqueira, moradora de Ceilândia Sul. “Foi na virada do dia 31 para o 1º de janeiro. As pessoas aqui têm mania de soltar umas bombas que parece que vão explodir as casas. O cachorro tinha 8 anos e não resistiu. Quando meu vizinho chegou da festa de réveillon pela manhã, o cachorro estava morto em um cantinho”, relata.

Tutora do golden Chico Bento, Dayane teme a reação do pet durante os jogos. “No ano novo, eu coloquei algodão no ouvido, dei um petisco calmante e fiquei com a TV ligada. Quando começaram os fogos, ele tremia tanto que o corpinho levantava do chão,  eu praticamente coloquei ele no colo e o corpo em cima dele. Minha priminha de 12 anos também deitou na lateral do corpo dele e ele se tremia de forma que não conseguia nem se levantar… Eu tenho pânico de fogos, as pessoas dizem que tenho que ignorar, mas não aguento vê-o se tremendo de medo”, lamenta.

Nadja Lima Benigno também está preocupada com a primeira Copa da vida de Luke, um golden de 2 anos. “Ele sempre fica muito assustado quando tem fogos de artifício. Ele começa a subir em cima das coisas, treme, fica com o coração acelerado demais. Quando tem esse tipo de barulho, gente nunca deixa ele preso, tenta abafar o barulho e fica o tempo todo perto dele. Nos jogos vamos ter de ficar o tempo todo ao lado dele, fazendo o possível para tornar esse momento o menos assustador para ele”, afirma.

Tanto Dayane quanto Nadja estão certas em não deixar os pets sozinhos nessas horas mas, segundo o adestrador e especialista em comportamento animal Cleber Santos, da ComportPet, ao tentar acalmar os melhores amigos, os tutores podem agravar o nível de estresse. Ele explica que colocar o cão no colo ou fazer carinho para tentar distrair o pet é um erro comum. “Não é recomendado dar carinho ao animal, pois, se o dono agir dessa forma, estará ensinando ao cão que, a cada vez que ele sente medo, ganha carinho. Ou seja, estará incentivando o animal a ficar com ainda mais medo”, explica. De acordo com ele, a melhor forma de agir é deixar o cão seguro, quieto, em um quarto preparado especialmente para ele, sem dar atenção excessiva ao animal. O especialista ressalta a importância de o local ser bastante seguro. “Muitos cães entram em um estado de estresse intenso, ficando desesperados e até mesmo tentando fugir, pulando de janelas, sacadas ou portões”, alerta.

Luke vai enfrentar a primeira Copa, mas no réveillon já demonstrou temer os fogos Crédito: Arquivo Pessoal
Luke vai enfrentar a primeira Copa, mas no réveillon já demonstrou temer os fogos Crédito: Arquivo Pessoal

Santos ensina que é importante condicionar o cão ao som alto dos fogos diariamente. Assim, o estresse com o ruído tenderá a ficar cada vez menor.  “Recomendo que o treinamento seja diário e dure cerca de 20 minutos. Uma boa estratégia é fazer com que o cão se alimente ouvindo o som de fogos. Assim, associará à alimentação, a uma coisa positiva. O tutor deve ligar o som e em seguida oferece alimentação ao pet”, diz. Mas, atenção:  a estratégia é indicada apenas para filhotes e cães que não apresentem um nível de estresse tão alto.

Cães que costumam sofrer muito com barulho de fogos e rojões devem ficar longe de alimentos nessas ocasiões, afirma a médica veterinária Lara Torrezan, diretora operacional do aplicativo Dot Pet. “Além de ficar de olho para seu animal não roubar nenhum alimento, é recomendável retirar a ração horas antes do jogo, para evitar complicações como vômitos e torção gástrica, no caso de cães de porte grande. Isso porque ele pode comer rápido demais devido à agitação, o que pode levar a diversas situações de desconforto. A água, no entanto, deve sempre ficar disponível”, ensina.

No caso de animais extremamente assustados, a médica veterinária Mariana Mauger, da DrogaVET, também recomenda o uso de calmantes naturais, como os florais, e alguns medicamentos fitoterápicos Cada animal, porém, responde à situação de forma diferente. “É sempre importante receber uma avaliação de um médico veterinário para determinar como pode ser feita a prevenção e o tratamento”, ressalta a especialista. O alerta vale tanto para os pets mais dóceis e que rotineiramente não apresentaram sinais de ansiedade quando ocorre algum evento, mas, sobretudo, aos  que já têm pré-disposição a essas doenças, requerendo, consequentemente, cuidados extras.

Mariana Mauger explica que os filhotes e idosos devem ser tratados com maior cautela para que não se machuquem. “Os filhotes requerem atenção para não desenvolverem traumas futuros. Já os idosos, para evitarem complicações em doenças pré-existentes, como diabetes, cardiopatias e insuficiência renal, em decorrência do estresse”, orienta a médica veterinária, enfatizando que, no momento do desespero, é normal os pets procurarem abrigo em diversos locais, podendo se esconder em locais de difícil acesso e, assim, se machucar gravemente.

A médica veterinária lembra que pets de menor porte, como hamster e porquinho da índia, também podem sofrer com os barulhos da Copa. Nesses casos, ela indica a manipulação de calmantes naturais em forma de xaropes adocicados, nos sabores avelã ou maçã, ao gosto desses animais. “Aqui, também aconselhamos que fiquem num ambiente familiar, sempre dentro da gaiola, já que os fogos podem assustá-los, levando-os a fugir da residência”, finaliza.