CBNFOT050720132272 Crédito: André Conti/Flickr

Elas estão na Flip e são imperdíveis: quatro autoras para ficar de olho

Publicado em amor, cariri, casamento, contos, democracia, distopia, drama, fantasia, feminismo, flip, gênero, literatura, mitos, monogamia, racismo, Sem categoria, sertão

A brasileira Jarid Arraes fala do sertão, a nigeriana Ayòbámi Adébáyò observa o conflito entre tradição e modernidade, a canadense Sheila Heti explora a maternidade e a venezuelana Karina Sainz Borgo fala de uma Venezuela destroçada. Elas estão na Flip e trazem para a literatura uma perspectiva feminina, política, histórica e social.

 

Crédito: HarpperCollins/Divulgacao

Fique comigo, de Ayòbámi Adébáyò

É entre a modernidade e a tradição que se equilibra a narrativa de Ayòbámi Adébáyò. Finalista do Baileys Women’s Prize for Fiction, o primeiro romance da autora nigeriana é um turning page cheio de surpresas. Com a história do casal Yejide e Akin, cuja falta de filhos engendra uma reação familiar que atravessa tradições e poligamia, Ayòbámi fala da fronteira entre o passado e o presente em um país que luta para se modernizar sem ignorar as próprias origens. Quando Yejide não consegue engravidar, a família do marido, Akin, trata de arrumar uma segunda esposa. Rebaixada à condição de reprodutora e pressionada pela expectativa social, ela sucumbe a uma gravidez imaginária e a gurus e xamãs respeitados pela tradição. A gravidez, quando chega, vem acompanhada de uma dura realidade e Yejide se vê, mais uma vez, acuada pelas superstições da sogra diante de uma doença genética. A transformação da personagem diante da ideia de uma maternidade idealizada e da realidade é o ponto alto do livro. Na Nigéria, rodeada por crenças milenares, ou no mundo ocidental, com seus automatismos e objetividades, os conflitos são os mesmos. Vale ficar de olho na produção de Ayòbámi Adébáyò, considerada a nova Chimamanda Adichie e elogiada por Margaret Atwood.

 

 

 

Crédito: Maria Ribeiro/Divulgação

Redemoinho em dia quente, de Jarid Arraes

Se você quer conhecer o sertão a partir de um olhar que mistura Lady Gaga, Padre Cícero, cordel, Caravaggio e Britney Spears, pode se afundar na leitura de qualquer conto de Redemoinho em dia quente. Aos 28 anos, Jarid Arraes é o que Fernanda Diamant, curadora da Flip, chamou de “Lady Gaga do Cariri”. Nascida em Juazeiro do Norte e radicada em São Paulo, começou com poesia e feminismo, escreveu sobre mulheres negras esquecidas da história e sobre a companheira de Zumbi dos Palmares. Em Redemoinho, todas as narradoras são mulheres, assim como as protagonistas. No sertão moderno de Jarid tem espaço para tradição e contemporaneidade. Questões de gênero e raça povoam os textos na mesma medida em que os personagens se deparam com visagens, padre Cícero e um universo fantástico e realista.

 

 

 

Crédito: www.jeosm.com

Noite em Caracas, de Karina Sainz Borgo

Quando desembarca em Caracas, Adelaida está destruída pela morte da mãe. A perda causa um abismo que vai ser aprofundado pela situação do país. Na Venezuela pós-Chávez, a realidade se tornou distópica de tão absurda. Adelaida se depara com uma cidade violenta, povoada por personagens cuja humanidade foi soterrada pela conjuntura. Falta tudo nesse cenário organizado em uma narrativa bastante direta que levou o livro de Karina para as listas de best-sellers e para as prateleiras de livrarias de 23 países.

 

 

 

 

 

 

Crédito: Tonia Addison

Maternidade, de Sheila Heti

Ter ou não ter filhos é a pergunta à qual a narradora tenta responder nesse romance que reflete sobre a maternidade sob várias perspectivas, mas também sobre o tempo e as convenções. Aos 37 anos, a protagonista se sente atropelada pelo tempo, pressionada a tomar decisões sobre as quais não quer pensar. “O sentimento de não querer ter filhos é o sentimento de não querer ser a ideia que o outro faz de mim”, repara. “Há uma espécie de tristeza em não querer as coisas que dão sentido à vida de tantas pessoas.” Escritora, casada com um homem que já tem uma filha e não faz questão de procriar novamente, é da protagonista a decisão. Permeado pela vida da própria autora, a canadense Sheila Heti, o livro tem uma mistura de ficção e realidade: não se sabe ao certo se a voz vem de Sheila ou de sua narradora e a confusão aumenta com as imagens inseridas no livro e as perguntas respondidas com sim ou não intercaladas em cada capítulo. Como se fosse mesmo a autora, a narradora se pergunta o tempo inteiro qual a função de sua escrita.