Maldito WhatsApp

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Minhas tias que me perdoem a indiscrição, mas vou rasgar o verbo. Estive na cidade de minha avó, em Minas Gerais, em outubro. Dividi minhas férias já divididas para que pudesse visitar minha família, que há quase dois anos não encontrava.
Teve parente se mobilizando para me ver e me fazer agrados. Outros não encontraram tempo, durante uma semana, para sequer me darem um abraço. Peguei minhas malas e voltei para a capital, sem ressentimentos, mas sem data prevista para nova visita.
Porém, foi só colocar o pé em casa para meu WhatsApp começar a apitar. Eram as ocupadas tias que não me viram pessoalmente mandando belas frases de efeito, padronizadas, por telefone.
Decidi não responder nenhuma. Tomei abuso do aplicativo que falsamente une as pessoas. São milhões de grupos de amigos criados, que passam o dia comentando baboseira no celular, mas não encontram uma noite de folga ou uma hora de almoço para dar boas risadas pessoalmente e abraços apertados.
E quando, finalmente vocês estão juntos, é preciso fazer ameaças e cara feia para que os amigos larguem as garras do telefone. Ao invés de darem atenção para você, que está bem ali, ao alcance das mãos, ficam mantendo conversas parelelas com quem está do outro lado do mundo e com quem, dificilmente, conseguirão estar frente a frente.
Ninguém está com ninguém. Estão todos de olhos vidrados na tela dos celulares, com o coração desconectado e sem tempo para dividir com qualquer ser humano de carne e osso.
Pelo WhatsApp você marca encontros que facilitam os desencontros. Isso tudo sem precisar sair de casa ou mesmo sem ter visto a cara do pretendente. Basta um amigo do amigo passar seu Whats para o interessado, e então ele começa uma conversinha mole, escolhe as melhores fotos para te enviar e te convencer a aceitar uma chance para um jantar.
Tá no lucro se rola ao menos um encontro ao vivo. Pior mesmo é quando a paquera começa e fica no plano das nuvens. É mensagem de “bom dia”, “boa tarde”, “boa noite”; atividades diárias enumeradas; selfies com roupa e sem elas; declarações de saudade… E o convite para se ver, para se tocar, para sentir o cheiro, cadê? Ele nunca vem. Afinal, a pessoa está ocupada demais administrando um milhão de amigos que nunca silenciam o inconveniente aplicativo.
E pelo telefone mesmo se põe em ponto final nas relações, sem reticências, sem vírgulas, sem direito a pontos de imterrogação. Apita a uma mensagem de “tchau, não dá mais”, se o cabra for educado. Se fizer parte do grupo dos frouxos, usa a covarde técnica do ler a mensagem e não respondê-la nunca mais. Para bom entendedor, dois checks azuis sem reposta é um fora não verbal.
E quem não se adapta a ser apenas uma companhia virtual, o discurso pode soar como carência. Eu não me importo. Ainda prefiro ser considerada uma pedinte de afeto real do que me sentir solitária em meio a uma rasa multidão digital.
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