Edenia Nogueira Garcia volta ao Mundial de Natação Paralímpica como favorita dos 50m costas após pentacampeonato nos Jogos Parapanamericanos Lima 2019
PANAMERICANO - 2019 - NATACAO - BRASIL Douglas Magno/ EXEMPLUS/CPB A nadadora Edênia Garcia no lugar mais alto do pódio, sentada na cadeira de rodas, e sorrindo emocionada com a medalha de ouro na mão direita

Após 11 anos, Edênia volta ao Mundial de Natação como favorita, feminista e ativista LGBT

Publicado em Natação, Paralimpíadas, Parapan-Americano

Edênia Garcia foi a primeira mulher brasileira a ser tricampeã mundial paralímpica. O feito da nadadora foi na prova em que é especialista: 50m costas, em 2002, 2006 e 2010. Desde o último título, porém, ela não chegava ao Mundial de Natação Paralímpica como favorita. Apesar de ter conquistado a terceira medalha paralímpica da carreira nos Jogos de Londres-2012, na mesma piscina que retorna nesta quinta-feira (12/9) para os 50m costas, Edênia ficou apenas em sétimo lugar nos Jogos do Rio-2016 enquanto percebia a doença congênita conhecida como atrofia fibular muscular se agravar. 

“Estamos voltando para Londres para o meu sétimo Mundial e, agora, como favorita de novo, precisamos ter calma, foi tudo muito rápido”, comemora a nadadora de 32 anos. Edênia nasceu na cidade de Crato, interior cearense, com essa doença que afetou os movimentos dos membros inferiores. Cadeirante, ela começou a praticar natação bem nova por indicação médica e logo despontou como uma promessa da natação brasileira. “Comecei muito cedo e já era favorita numa prova de Campeonato Mundial aos 16 anos. Ser favorita hoje, para mim, tem um peso diferente.” 

Em 2017, Edênia foi reclassificada em uma classe com menos mobilidade. No dia em que recebeu a notícia de que havia baixado da classe S4 para a S3, a nadadora recebeu muitos parabéns. Na classe em que estava, ela se distanciou do pódio, figurava entre a sétima e a oitava nadadora do mundo. “Quando eu desci para a S3, fui para a terceira melhor do mundo e, em dois anos, eu subi para a primeira”, lembra. “Para o esporte, é legal baixar de classe por ficar uma atleta mais competitiva. Mas, para quem tem uma síndrome degenerativa, implica na qualidade de vida, ou seja, minha síndrome está piorando e isso não é bom”, pondera. 

 

Edenia Garcia nadando a prova que diz ser o xodó dela: 50m costas | Douglas Magno/ EXEMPLUS/CPB

Há dois anos, um médico especialista na síndrome de Edênia a orientou para que diminuísse a carga dos treinamentos. O objetivo era que ela não chegasse nem próximo do overtraining, como aconteceu em 2015 e 2016, segundo ela. “Isso me deixou algumas sequelas, como a perda do movimento do polegar da mão esquerda, muita fadiga muscular durante os treinos, uma piora no diafragma”, enumera. A diminuição dos treinos tem como meta priorizar a qualidade de vida. O trabalho psicológico e emocional se tornou algo central para Edênia, que pratica meditação duas vezes por dia. 

Nos últimos três anos, além das sequelas físicas e da queda do gostinho amargo pela frustração com o rendimento nas Paralimpíadas do Rio-2016, Edênia perdeu o pai e acabou desenvolvendo um quadro de ansiedade. Nos Jogos Parapan-Americanos de Lima-2019, uma semana antes do Mundial, ela contou ter sofrido uma crise de pânico no dia em que nadou os 50m livre. O desabafo sobre o luto que não pôde viver pela perda do pai e sobre os desafios com o quadro de ansiedade ocorreram dias depois do episódio de pânico, após a conquista do pentacampeonato nos 50m costas em Lima, pela primeira vez, na classe S3.

 

Ativista pelas mulheres, pelos nordestinos, LGBTs e cadeirantes

Edênia é do tipo de atleta articulada, que fala bem e não foge das perguntas mais delicadas. Não é de hoje, porém, que se posiciona como mulher, nordestina, cadeirante e, nos últimos dias, como LGBT. Como referência do esporte paralímpico brasileiro, com mais de 300 medalhas na carreira, ela sabe a importância de falar quem é: “A Edênia é mulher, é tia, é irmã, é nordestina, é gay e é pentacampeã das Américas também. É tudo isso e muito mais”. 

Para ela, que tornou pública a orientação sexual durante os Jogos Parapan-Americanos de Lima, o posicionamento é importante para se identificar enquanto indivíduo nos grupos. “A partir do momento que você se identifica e sabe a qual grupo pertence, sabe as dificuldades dele de existir. É inevitável não abraçar a causa, você é a causa, faz parte dela”, defende Edênia. 

A nadadora ainda reforça a importância de aumentar o número de atletas de classes baixas, com deficiências severas, que já vem sendo difundido como objetivo do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB). “Quando eu falo para investir, é tratar da mesma forma que se trata os atletas de classe alta, que é praticamente o convencional. É dar o mesmo suporte, o mesmo treinamento, o mesmo investimento, que o resultado sai. Conseguimos responder isso em cada campeonato”, argumenta. 

Outra bandeira é o aumento da quantidade de mulheres no esporte paralímpico. No Mundial de natação, o Brasil conta com doze nadadoras, o dobro de mulheres que representaram o país na edição da Cidade do México, em 2017 – são 25 atletas ao todo na delegação brasileira. O Parapan de Lima também registrou a maior quantidade de atletas mulheres representando o Brasil, 128 entre os 337 atletas. 

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

*