Cris Cyborg fala que vai continuar lutando dentro ou fora do UFC e que não vai baixar do peso-pena para continuar na organização
Cris Cyborg Entrevista Isaac Brekken/Getty Images/AFP A lutadora brasileira Cris Cyborg, ex-campeã do peso-pena, aparece de perfil sorrindo dentro do octógono

Diante do impasse sobre renovação com UFC, Cyborg diz que não baixará de peso

Publicado em MMA

A os 33 anos, Cristiane Justino Venâncio é protagonista nas artes marciais não apenas devido às 20 vitórias no MMA, mas por ter aberto portas às mulheres na modalidade. A curitibana mais conhecida como Cris Cyborg conquistou o cinturão do peso-pena (até 66kg) em três organizações: Strikeforce, Invicta e Ultimate Fighting Championship (UFC). E ficou invicta por 13 anos até perder para a também brasileira Amanda Nunes no UFC 232, em dezembro. No UFC, Crys foi contratada sem que o Ultimate contasse com a categoria dela e lutou por duas vezes no peso-casado (até 63,5kg) antes da criação do peso-pena feminino, em 2016. Em entrevista exclusiva ao Elas no Ataque, Cris Cyborg fala sobre o desejo de renovar o contrato com o UFC, que termina no fim deste mês. “Mas não há nada definido”, pondera. A possibilidade de saída da paranaense do UFC tem relação direta com uma incerteza quanto a manutenção do peso-pena feminino na organização. Mas Cyborg é categórica: “Eu vou dar continuidade ao meu trabalho em qualquer lugar”. Segundo ela, independentemente da forma como o UFC trata o peso-pena feminino, a categoria cresce em outras organizações. Entre tantas dúvidas, ela crava: “Baixar a categoria está fora de cogitação”.

Seu contrato com o UFC acaba em março. Há previsão de renovação? Qual é a sua vontade?
Estamos em contato com o UFC e queremos dar continuidade, renovar. As duas partes estão felizes, trabalhando juntas, mas ainda não há nada definido.

Enquanto isso não acontece, você tem mais uma luta no contrato. Há previsão de data ou adversário?
Eu até falei que gostaria de lutar no Brasil em maio, se o UFC der continuidade ao contrato.Eu também pedi uma revanche contra a Amanda Nunes logo depois da nossa luta. Mas tudo depende se o meu contrato vai acabar ou não.

A quantidade de lutadoras na divisão dos penas coloca o seu futuro no UFC em cheque?
Meus fãs até me mandaram mensagem falando que tiraram a minha categoria do site do UFC, nas eu vou dar continuidade ao meu trabalho em qualquer lugar.

E o que acha do futuro da categoria pena feminina?
Tem um futuro incerto no UFC. Mas a categoria vem crescendo em outras organizações. Eu sempre lutei pelo crescimento da luta e pelas categorias femininas no UFC. Tem de aguardar para ver o que vai acontecer no UFC. Assim que eu souber, vou comunicar os meus fãs.

Caso o peso pena feminino não continue no UFC, você mudaria de peso para continuar?
Eu sempre lutei na minha categoria desde o começo da carreira. Durante três anos, tentei baixar de peso, mas falei que não faria mais isso. Tem de colocar a saúde em primeiro lugar e estar feliz também. Abaixar minha categoria está fora de cogitação. Eu lutaria na minha ou em outra acima, abaixo não é saudável e pode prejudicar a continuidade da minha carreira. Eu não quero lutar só mais um ano, quero lutar mais tempo.

Luta pelo cinturão do peso-pena entre Cris Cyborg e Amanda Nunes
Cris Cyborg perde cinturão do peso-pena e invencibilidade de 13 anos para Amanda Nunes | Sean M. Haffey/AFP

Você perdeu a invencibilidade na luta contra a Amanda Nunes. O que isso significou para você?
Eu sempre pratiquei esportes e várias vezes, perdi; várias vezes, ganhei. Eu tenho bastante maturidade quanto a isso. Eu nunca falei que seria invencível. Até porque perdi a minha primeira luta no MMA. Eu fui abençoada por ficar tanto tempo sem perder. As lutas são usadas para abençoar alguém. Era o dia da Amanda e me usou para abençoá-la. A ficha caiu no mesmo dia, até pedi a revanche. Vou continuar assim como aconteceu na minha primeira derrota. Com a derrota se aprende, porque não sou perfeita. Quero melhorar como atleta, como pessoa.

Seu técnico falou que as pessoas puderam conhecer finalmente a sua personalidade depois da derrota. Acha que o título de invicta te dava impressão de durona?
Quando as pessoas me veem lutando, enxergam de uma forma diferente da que eu sou. Eu até concordo com ele, porque as pessoas achavam que eu ia ficar brava e até brigar com a Amanda, mas não. Eu sempre tive esse lado esportivo, sempre soube que perder é algo possível. Eu sempre treino e entro no octógono para vencer. Mas é essa incerteza que faz a gente se dedicar, ela sempre me motiva para continuar crescendo. Eu nunca deixei a certeza me dominar.

Cris Cyborg e a sobrinha, adotada pela lutadora no início de 2018 | Reprodução Instagram

O que você mudou desde o começo da carreira?
Eu não vejo que mudei desde que comecei lá do handebol. Elas veem a mesma pessoa. Fama, dinheiro… nada me mudou. Isso abriu mais as minhas oportunidades de fazer o que eu tinha no meu coração, como compartilhar a minha fé com as pessoas que precisam, ajudar projetos sociais. Eu continuo a mesma. Quando comecei a lutar, as pessoas associavam o meu nome de luta à personalidade de dominadora, máquina… Mas não sabiam que Cyborg é o sobrenome que veio do meu ex-marido.

E, afinal, qual é a personalidade da Cris Cyborg?
Sou uma pessoa determinada. As dificuldades que eu passo e passei me fortalecem. Sou coração, gosto de ajudar as pessoas, sou totalmente de perdoar, amo o próximo independentemente do que acontecer.

Você é muito envolvida com o esporte desde cedo. Se não fosse lutadora, qual profissão escolheria?
Antes de eu fazer handebol, eu pratiquei corrida de aventura, de obstáculo. Com certeza, eu estaria em um esporte. Até cheguei a estudar educação física. Mas, quando comecei a fazer o curso, vi que eu gostava mesmo de treinar. Não sei se seguiria a área para trabalhar. Esporte é como se fosse uma droga para mim, mas poderia seguir nele pela saúde. Eu gosto muito de animais também. Quando era pequena, eu falava que seria veterinária, até que comecei a praticar esporte, que me tocou mais. Mas acho que possivelmente eu seria veterinária se não tivesse sido atleta.

 

Por Maíra Nunes e Maria Eduarda Cardim

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