Xodós de Bobby Robson no Barcelona de 1996/1997, Blanc, Guardiola, Luis Enrique e Mourinho são campeões nacionais como técnicos na mesma temporada

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Sir Bobby Robson

Imagem: REUTERS/Howard Walker (28/3/2004)

Torci poucas vezes pela Inglaterra na vida. Era contaminado pelo ultrapassado discurso de que o futebol britânico é chutão para a frente e bola aérea. Amargurado com a eliminação do Brasil nas oitavas da Copa de 1990, diante da Argentina, o então molequinho aqui escolheu uma seleção para torcer.  Vi na tevê um vovô de cabelos brancos, com cara de gente boa, e decidi mandar energia positiva para a Inglaterra de sir Bobby Robson. Ajudou o fato de, naquele time eliminado pela Alemanha nos pênaltis (não por 7 x 1) nas semifinais, atuar o camisa 10 dos meus inesquecíveis  times de botão: Gary Lineker. Adorava narrar jogo dele no meu estrelão pronunciando o nome cheio de sotaque.

Descobri, naquele Mundial, o quanto é sofrido torcer para a Inglaterra, campeã pela última vez em 1966. Mas virei fã do técnico Bobby Robson. Como, na época, não havia internet e muito menos Google, perdi o velhinho de vista depois da Copa. Hoje, sei que ele perambulou por PSV, Sporting e Porto antes do nosso reencontro no Barcelona. A tevê a cabo rompeu fronteiras. Não perdia um jogo do Barcelona na temporada de 1996/1997. Jogava lá um tal de Ronaldo, que começava a virar Fenômeno sob a batuta daquele senhor de cabelos brancos. De repente, quem eu vejo à beira do gramado com um inconfundível lenço no bolso do paletó: sir Bobby Robson — o técnico do time catalão.

Robert William Robson não foi o técnico mais vitorioso da história do Barcelona. Ganhou uma Copa do Rei, uma Supercopa da Espanha e uma Recopa. Morreu em 2009, aos 76 anos. Se estivesse vivo, ficaria orgulhoso ao saber que três jogadores dele naquele time de 1996/1997 — e o assistente, que daqui a pouco conto quem é —, viraram treinadores e dominaram a Europa em 2014/2015. Cada um tem personalidade própria, mas todos assimilaram lições vencedoras do paciente inglês.

O francês Laurent Blanc era um dos três zagueiros do Barcelona de 1996/1997. Praticamente intocável no esquema 3-4-3 de Bobby Robson. Na temporada que se vai, acaba de levar o PSG ao tri no Campeonato Francês.

Pep Guardiola era a referência de Bobby Robson no meio de campo. Como técnico, ele teve temporadas melhores. Nesta, faturou o Campeonato Alemão à frente do Bayern de Munique.

No time-base de Bobby Robson havia também Luis Enrique. Ele jogava aberto pela esquerda no ataque, ao lado de Figo e de Ronaldo. Luis Enrique virou técnico. Pode ganhar tudo em sua primeira temporada à frente do Barcelona. Faturou o Espanhol, está na final da Copa do Rei e na decisão da Champions League contra a Juventus.

Naquela temporada de 1996/1997, a comissão técnica de Bobby Robson tinha um assistente. O nome dele: José Mário dos Santos Mourinho Félix. Contratado para ser tradutor, José Mourinho ganhava o equivalente, hoje, a 60 euros por mês. A diretoria do Barcelona à época não queria Mourinho. Bobby Robson enxergava além. Via futuro em Mourinho, que morou de favor em um quarto de hotel do então presidente Joan Gaspart. Hoje, The Special One, acolhido por Bobby Robson, tem o maior salário do mundo e levou o Chelsea ao título do Campeonato Inglês.

Parabéns, visionário sir Bobby Robson, por criar tantos monstros em uma só temporada!

O domador…

A Inglaterra da Copa de 1990 era revolucionária. Contrariava o tradicional sistema tático do país (4-4-2) e jogava com três zagueiros. Além disso, tinha jogadores temperamentais. Lineker e Gascoigne eram alguns deles. Ainda assim, Bobby Robson levou os súditos da rainha às semifinais. Foi a última vez que a seleção terminou o Mundial no G-4.

…de gênios

O time titular do Barcelona contava com Laurent Blanc, Pep Guardiola e Luis Enrique dentro das quatro linhas. De quebra, tinha na retaguarda José Mourinho no papel de assistente e tradutor de Bobby Robson.

Os quatro discípulos viraram técnicos e acabam de conquistar os campeonatos francês, alemão, espanhol e inglês, respectivamente.