Rivaldo dá um boi para não entrar em uma briga, mas o herdeiro dele, Rivaldo Vítor Mosca Ferreira Júnior, o Rivaldinho, 24 anos, dá uma boiada para não sair dela. Em entrevista ao blog, o xodó do craque e hoje técnico Gheorge Hagi no Viitorul Constanta, da Romênia, não perdeu a chance de blindar o pai dos ataques recebidos por ter criticado a decisão de Tite de dar a camisa 10 do Brasil a Lucas Paquetá nos últimos amistosos deste ano contra Argentina e Coreia do Sul. Maduro, Rivaldinho conta como supera a “síndrome do filho de craque” e, principalmente, a morte da mãe, dona Rose Mosca. O atacante revela que Rivaldo tenta preencher o vazio deixado por ela e diz que o pai é 10 vezes melhor do que o personagem eleito número 1 do mundo em 1999. “É um ser humano fora do comum”, emociona-se. No trecho descontraído do bate-papo, ele conta que um single do cantor Gusttavo Lima faz parte da playlist do vestiário do time dele nas vitórias e festas de título. “Balada Boa” é a predileta de quem parece tão sério: o maior ídolo do futebol romeno, presidente e técnico Gheorge Hagi.
Você tem seis gols no Campeonato Romeno. Dá tempo de alcançar o Florin Coman (10) e brigar pela artilharia?
Farei o possível para marcar em todos os jogos, dar o melhor para ajudar minha equipe. Artilharia é consequência. Meu papel é ajudar o time a ficar no topo o maior tempo possível.
Você atua aberto pela direita no 4-3-3 do técnico Hagi. É a sua posição predileta em campo?
O mister aqui (Hagi) tem dois tipos de formação: o 4-3-3 e o 4-3-1-2. Eu venho jogando bem pelas beiradas também, centralizado… Eu me dou bem nessas três posições da frente, em qualquer uma delas. Em outros clubes, atuei até como número 10. Posso dizer que, do meio para frente, eu consigo ir bem em todas as posições.
Também atuou como centroavante ao lado de Iancu e Ganea?
A gente fica rodando, fazendo o giro. Dependendo da jogada, estou em outra função. Nos movimentamos bastante. É uma tática para desequilibrar o jogo, a pressão do adversário.
Acumula assistências também.
Tenho quatro no campeonato. Dei um passe para gol, por exemplo, contra o Steaua Bucareste. Recebi a bola no meio de campo, girei e deixei o Iancu na cara do gol. Tenho seis gols, quatro assistências e estou com bons números na temporada. Espero fazer muito mais até o fim.
QUEM É ELE
Rivaldo Vítor Mosca Ferreira Júnior
Nascimento: 29/4/1995
Local: São Paulo (SP)
Posição: atacante
Clube: Viitorul Constanta (Romênia)
Clubes anteriores: Mogi Mirim (2014/2015), Boavista-POR (2015/2016), XV de Piracicaba (2016), Internacional (2016), Paysandu (2016), Dínamo
Bucaresti-ROM (2017/2018),
Levski Sofia-BUL (2018/2019).
Títulos: Copa da Liga (Dínamo Bucaresti), 2016/2017; e Copa da Romênia (Viitorul Constanta), 2018/2019.
Como é ser treinado por um craque como Gheorghe Hagi?
Um orgulho, um privilégio. É o maior jogador da história do futebol romeno, um dos 100 maiores na história do futebol mundial. Foi um craque e agora um grande treinador.
E você jogou com o filho dele, o Ianis Hagi, que está no Genk?
Jogar com o Ianis Hagi foi muito fácil. Ele é fora de série, um dos melhores com quem atuei. Nunca vi um jogador com tanta facilidade para bater tanto com a esquerda como com a direita. Recentemente, no Genk (da Bélgica), ele fez dois gols de pênalti, um com a direita e outro com a esquerda. Tenho certeza de que, se deixarem, derem oportunidade e continuidade, ele chegará muito longe. Tem muita qualidade. Quando atuamos juntos, ele me deu uma assistência na Copa da Romênia. Fiz um gol importante e ficamos a um passo da final. Na sequência, decidimos o título e fomos campeões.
Você é especialista em jogar ou ser comandando pelo presidente? Dividiu o campo com seu pai no Mogi Mirim, que era o mandatário do time; e agora é treinado pelo dono Hagi.
É verdade, sou especialista em jogar em clube comandado por presidente famoso. Primeiro, foi com o meu pai, lá no Mogi Mirim, e agora aqui, com o Hagi. Ele é treinador, dono do time. Tenho um grande jogador em casa, um dos maiores da história (o pai, Rivaldo); e outro craque sendo meu treinador. Só tenho a evoluir e crescer com isso.
Qual é o projeto do Hagi para o Viitorul Constanta?
O Hagi fez um projeto há 10 anos para que o time tivesse consistência no futebol romeno e revelasse jogadores para a seleção. Isso ele conseguiu. Nos próximos cinco, 10 anos, o objetivo dele é entrar na Champions League. Hagi é muito focado. Quando quer algo, consegue.
“O que ele (Rivaldo) fala tem que ser respeitado. Ele pode. O que fez dentro de campo dá essa autoridade. Tem história. É o maior camisa 10 que a Seleção Brasileira teve depois do Pelé”
Na primeira passagem pela Romênia você fez 6 gols em duas temporadas pelo Dínamo de Bucareste. Agora, tem seis em 11 jogos. Está mais confortável no Viitorul Constanta?
Quando vim para o Dínamo de Bucareste, foi a minha primeira experiência no Leste Europeu. Eu cheguei um pouco assustado com o frio, mas me adaptei bem com o passar dos meses. Não tive uma temporada como a atual, mas foi bom para o meu crescimento profissional, pessoal. Sou muito grato pela passagem que tive lá, e ao Hagi pela oportunidade no momento difícil pelo qual eu vinha passando. Evoluí muito com ele. Trabalhei e agora estou colhendo os frutos. Estou plantando muito mais. Não é só isso que eu quero. Meu desejo é ir mais longe.
O Steaua Bucaresti foi campeão da Champions League em 1988; e a Romênia chegou às semifinais na Copa de 1994. Qual é o nível, hoje, do futebol romeno?
Equilibrado. Tem seis equipes grandes, de torcida, que sempre brigam pelo título. Não é uma Espanha, uma Inglaterra, mas o campeonato aqui é equilibrado. Tem o Cluj, o atual bicampeão da Romênia. Eles passaram da fase de grupos da Liga Europa em segundo lugar jogando contra Lazio, Rennes, Celtic. O Cluj tem estrutura. A liga daqui é muito competitiva. Não é um campeonato fraco. Não é uma das cinco grandes ligas, mas é competitivo.
O país é uma das sedes da Eurocopa-2020, mas a seleção depende da repescagem contra a Islândia para seguir sonhando com a vaga. Qual é o sentimento no país?
Foi um pouco frustrante para eles não terem conseguido a classificação na fase de grupos das Eliminatórias, mas estão esperançosos de conquistem a vaga na repescagem.
Pensa em se naturalizar para defender a seleção de outro país?
Cara, eu tenho o passaporte espanhol também, né. Tenho a possibilidade jogar pela Espanha ou pelo Brasil. No momento, não penso nisso. Tenho muito trabalho a fazer para chegar nesse nível e pensar em seleção. Preciso me destacar aqui, ir para uma liga top 5 do mundo.
“As pessoas tentam comparar, acham que a minha vida é fácil só porque tenho um pai que foi jogador, ganhou dinheiro. Os maldosos usam esse lado para tentar desestabilizar, machucar, mas hoje em dia isso não me incomoda”
Esperava ter sido observado por alguma Seleção de base da CBF?
Quando eu era mais jovem, e estava no sub-20 do Corinthians, depois no Mogi, eu até esperava. Estava muito bem. Fui campeão paulista, artilheiro da categoria sub-20. Talvez, ali, eu merecesse a convocação para a Seleção. O Brasil tem grandes jogadores nas categorias de base e não tem como eu ficar frustrado.
Esperava ter sido aproveitado pelo Antônio Carlos Zago no Internacional?
Claro, principalmente pelo fato de o Internacional ter caído para a Série B. Eu cheguei, o clube estava na Série A e depois fui emprestado ao Paysandu. Acho que poderia ter ajudado pelo menos estando no grupo. Se jogaria ou não, não sei. Eu poderia ter feito a pré-temporada para o Antônio Carlos me avaliar. Não sei dizer se a decisão foi do Zago, da diretoria, mas passou. O Antônio Carlos é amigo do meu pai. Não tenho mágoa dele nem do Internacional.
O Inter recebeu proposta do Espanyol e o emprestou ao Paysandu.
Recebi uma proposta do Espanyol na época, e o que chegou para mim do clube catalão e do intermediário é que o Internacional fez um pedido muito grande pelo empréstimo e a futura venda. Um valor absurdo. Eles haviam acabado de contratar um jogador do Atlético de Madrid por metade do valor que o Inter pedia por mim, que nem havia estreado no time profissional.
O Hagi gosta de motivar os jogadores com a música “Balada Boa”, do Gusttavo Lima?
Na verdade, o Hagi coloca essa música “Balada Boa”, do Gusttavo Lima, depois do jogo. Quando a gente vence, ele fica muito feliz. Ele até me surpreendeu na primeira vez que chamou, perguntando qual era a música que o Neymar cantava, gostava. Eu não sabia. Depois veio na memória dele (Hagi), pediu para o DJ colocar na comemoração após uma vitória e depois de um título também. Ele gosta muito dessa música do Gusttavo Lima.
“O Hagi coloca essa música Balada Boa do Gusttavo Lima depois do jogo. Quando a gente vence, ele fica muito feliz. Pediu para o DJ colocar na comemoração de uma vitória e depois de um título também. Ele gosta muito dessa música do Gusttavo Lima”
Qual é o lado difícil de ser o filho do Rivaldo?
As pessoas tentam comparar, acham que a minha vida é fácil só porque sou filho dele, que não preciso disso ou daquilo, que os outros necessitam mais do que eu por eu ter um pai que foi jogador, ganhou dinheiro. Então, tem esse lado complicado. É a vida. Isso nunca vai deixar de existir. As pessoas maldosas usam esse lado para tentar desestabilizar, machucar, mas, hoje em dia, isso não me incomoda. Faço o meu sem me preocupar com o que as pessoas pensam.
Quais são os conselhos do pai para o filho jogador?
O conselho do meu pai é para eu jamais me contentar, sempre querer mais. Treinar, estar focado, sempre fazer o certo, colocar sempre Deus em primeiro lugar e trabalhar muito. Só com trabalho as coisas virão.
Jogou com seu pai. Como foi a experiência de dividir o campo com ele?
Uma coisa única. Poucos tiveram esse privilégio. Ele é o único jogador eleito melhor do mundo a jogar com o filho, a fazer gol na mesma partida e ganhar o jogo. Foi uma sensação incrível, única, marcada na história do futebol.
Rivaldo volta e meia dá declarações polêmicas, como aquela sobre o Tite ter dado a camisa 10 da Seleção ao Lucas Paquetá. Essas cornetadas ao seu pai incomodam?
Meu pai tem a opinião dele. É um cara que não dá entrevistas, mas usa as redes sociais para dar opinião. Quem sou eu para ficar incomodado com a opinião não do meu pai, mas de um jogador como o Rivaldo. O que ele fala tem que ser respeitado. Ele pode. O que fez dentro de campo dá essa autoridade. Tem história. É o maior camisa 10 que a Seleção Brasileira teve depois do Pelé.
A relação paterna com o Rivaldo ficou ainda mais forte depois da perda da sua mãe?
Eu sempre tive uma relação muito forte com o meu pai. Depois que a minha mãe (dona Rose Mosca) morreu (em 2014), isso ficou mais forte. Ele sempre foi presente, mas ficou ainda mais. Pai fica preocupado com o filho ter perdido a mãe. Ele me ajuda muito até hoje. Sempre me liga, aconselha, é um cara fora de série. Ele é 10 vezes melhor como pai do que foi como jogador. Fora de campo, é um ser humano fora do comum.
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