GJ11 Entrevista publicada na edição do último domingo (28) do Correio Braziliense

Um bate-papo com Gabriel Jesus

Publicado em Esporte

Foram 35 dias longe do Palmeiras. Seis rodadas do Brasileirão. Em pouco mais de um mês, deu tempo de Gabriel Fernando de Jesus, 19 anos, receber um telefone de Pep Guardiola,  ser vendido ao Manchester City por R$ 121 milhões, se tornar a terceira maior venda da história do futebol brasileiro e conseguir ficar no clube paulista até dezembro. Deu tempo de  conquistar a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos da Rio-2016 pela Seleção. De ser vice-artilheiro do Brasil ao lado de Luan (3 gols), atrás apenas de Neymar (4). E de driblar uma frustração. Dessa vez, ele poderá atender à convocação da Seleção principal. Antes da Copa América Centenário, o atacante chegou a ser chamado por Dunga, mas não tinha o visto para entrar nos Estados Unidos. O ouro no Maracanã foi resultado da superação de um trauma no Mané Garrincha. Na estreia contra a África do Sul, Gabriel Jesus perdeu o gol mais feito do torneio. Sem goleiro, acertou a trave e a partida terminou 0 x 0. Nem dormiu direito. Do sábado passado para cá, após a vitória nos pênaltis sobre a Alemanha, o menino Jesus dorme o sono dos justos sem desgrudar da joia dourada e fala a seguir, em entrevista ao Correio, que está de volta para quebrar o recorde de Coutinho e se tornar o artilheiro mais jovem da história do Brasileirão. Bom para a torcida, que a cada bola na rede poderá cantar o hit que deixará saudade em dezembro: “Glória, glória, aleluia, é o Gabriel Jesus”.

 

Vinte e quatro dias depois da estreia da Seleção aqui em Brasília na Olimpíada, você vai rever aquela trave que impediu um gol incrível contra África do Sul. Você temeu que aquela falha comprometesse a conquista do ouro? É uma volta por cima retornar ao Mané Garrincha medalha de ouro na Rio-2016?

Cara, eu fiquei chateado, ninguém gosta de errar gols, e eu queria muito ajudar os meus companheiros. Graças a Deus, pude ajudar com determinação e gols nos jogos seguintes (Dinamarca e Honduras). E não vejo como uma volta por cima, não. Acho que a volta por cima ocorreu durante a Olimpíada e foi coroada no Maracanã.

 

O Brasil não fez gol no Mané Garrincha. A Argentina foi eliminada no estádio. Hope Solo levou um frango e os Estados Unidos foram eliminados lá. A arena estava “zicada” nos Jogos?
Não penso assim, não. Começamos uma trajetória que acabou com uma medalha de ouro inédita e gosto de jogar lá. Contra o Flamengo, em junho, fiz um gol no começo do jogo. Ganhamos aquela partida, inclusive (vitória por 2 x 1 pela sexta rodada do Campeonato Brasileiro).

 

Até que ponto as vaias contra África do Sul e Iraque em Brasília incomodaram?
A gente entende, às vezes, as pessoas acham que a gente não queria fazer gol, mas isso não acontece… As pessoas não viram que a África do Sul e o Iraque vieram para empatar. A gente foi tomar gol só na final. Fomos pra se doar ao máximo, não pra dar resposta ao público, mas pra nós mesmos e nossa família. Jogamos com amor e graças ao trabalho de todos a gente conquistou o ouro.

 

Com a camisa do Palmeiras a “inhaca” não pega no Mané Garrincha. Você fez um gol no Flamengo e só não marcou outro porque o zagueiro Cesar Martins tirou com a mão. Vai ter mais contra o Fluminense?
Olha, tomara que sim. Eu e os meus companheiros estamos trabalhando firme para continuarmos líderes. Sabemos que o Fluminense está em ascensão no campeonato, mas queremos vencer de toda forma. Se for com gols meus, melhor, também quero me manter na liderança da artilharia.

 

 

“Fiz 10 gols em 14 jogos no Campeonato Brasileiro, é uma marca boa. Fiquei fora esse tempo e o Robinho já encostou (9 gols). É um jogador muito bom e que faz muitos gols. Tem outros também (Sassá, do Botafogo, e Diego Souza, do Sport). Será uma briga boa até o fim”

Fiz um levantamento e você pode se tornar, em dezembro, o artilheiro mais jovem da história do Brasileirão. O recorde é do Coutinho, do Santos, goleador aos 19 anos e 10 meses em 1962. Qual é a sensação de poder quebrar um tabu de 54 anos vestindo a camisa do Palmeiras?
É legal. É apenas o meu segundo Campeonato Brasileiro, que é um dos mais acirrados do mundo. Fiquei fora bastante tempo com a Seleção Olímpica (35 dias, de 18 de julho a 20 de agosto) e o pessoal está perto de mim agora. Quero continuar marcando gols e ajudando o Palmeiras.

 

Você passou mais de um mês na Seleção, voltou e ainda é o artilheiro. Agora, vai ficar uma semana com a principal. Qual é a “mandinga” pra segurar os caras e ninguém ultrapassar você?
Fiz 10 gols em 14 jogos no Campeonato Brasileiro, é uma marca boa. Fiquei fora esse tempo e o Robinho já encostou (9 gols). É um jogador muito bom e que faz muitos gols. Tem outros também (Sassá, do Botafogo, e Diego Souza, do Sport). Será uma briga boa até o fim.

 

Tanto Cuca quanto Tite elogiam a sua versatilidade, a possibilidade de atuar como centroavante e pelas pontas. Qual é a sua preferência? Está pronto para o desafio de ser o 9 do Brasil na Copa de 2018?
Olha, não tenho preferência, não. Onde o treinador me pedir para jogar, vou me dedicar ao máximo. Sobre 2018, é cedo para falar. Gosto de pensar em uma coisa de cada vez. Hoje, estou pensando no jogo contra o Fluminense. Depois, com a Seleção Brasileira, vou pensar no Equador (dia 1º, em Quito) e na Colômbia (6/9, em Manaus).

 

Qual foi a emoção de ser convocado pela primeira vez na lista do Tite?
Eu quase fui convocado antes das Olimpíadas, não fui por causa do visto americano. Fico contente com a primeira convocação, espero que seja a primeira de muitas. Vou me doar ao máximo aqui no Palmeiras e também na Seleção. O Tite acompanhou a Seleção Olímpica, deu os parabéns quando a gente ganhou. Um cara do bem, bacana, que tem tudo para desenvolver um grande trabalho.

 

Você já se encontrou com Fernando Prass depois do ouro? O que ele disse sobre a conquista da qual ele poderia ter feito parte?
Sim, ele já está tratando na Academia. Ele fez parte do ouro, ajudou todo mundo no período em que esteve com o time. Além de um excelente goleiro, ele é uma ótima pessoa e já viveu muita coisa no futebol. Ele me ajuda muito, me dá muitos conselhos. O ouro também é dele.

 

“Sobre 2018, é cedo para falar. Gosto de pensar em uma coisa de cada vez. Hoje, estou pensando no jogo contra o Fluminense. Depois, com a Seleção Brasileira, vou pensar no Equador e na Colômbia”

A ideia de homenagear o Prass na comemoração do ouro partiu de você?
No momento em que o Prass foi cortado no vestiário, contra o Japão (amistoso no Serra Dourada, em Goiânia), todos entraram no jogo desanimados. Aí veio a ideia de homenageá-lo. Eu pensei nisso. Em alguns treinos, na reta final, vários jogadores falaram o mesmo. Na hora que acabou o jogo, eu fui ao vestiário pegar a camiseta dele, fiquei com ela no banco, e, quando vencemos nos pênaltis, eu coloquei. Ele ganhou o ouro igual a gente.

 

Como foi ser liderado pelo capitão Neymar?
Neymar mostrou pra gente a pessoa que é, bacana, humilde e merecedora do que vem acontecendo em sua vida. É um líder, sim, ajuda todo mundo, trata da mesma maneira, muito humilde. Às vezes, acham que ele não é humilde, mas ele é. É muito complicado querer fazer uma coisa e não poder. Ele mostra pra todo mundo que no trabalho dele, ele é comprometido.

 

Aos 19 anos, você já ganhou uma Copa do Brasil e uma medalha de ouro nas Olimpíadas. Esperava ganhar esses títulos tão jovem?
Eu sempre trabalho pensando em ser campeão. Em 2015, ganhei uma Copa do Brasil logo no meu primeiro ano como profissional e fiquei muito feliz. Agora, pintou a oportunidade de disputar uma Olimpíada e, graças a Deus, deu certo novamente. Espero que em 2016 eu conquiste mais um ainda.

 

O Palmeiras não é campeão brasileiro desde o bi em 1993 e 1994. O que significa para você encerrar esse jejum antes de se apresentar ao Manchester City?
Será uma boa despedida. Amo o Palmeiras, é um clube que me deu tudo. Farei de tudo para me despedir com um título.