Sempre ameaçado de demissão, Dunga vai ficando: técnico completa hoje 80 jogos à frente da Seleção e só perde para Parreira e Zagallo

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Crédito da Imagem: TASSO MARCELO/AGÊNCIA ESTADO/AE
Crédito da Imagem: TASSO MARCELO/AGÊNCIA ESTADO/AE

Terceiro técnico que mais comandou a Seleção Brasileira, Dunga completa nesta terça-feira, contra o Peru, na Arena Fonte Nova, em Salvador, 80 partidas à frente da amarelinha. São 60 jogos na primeira passagem pelo cargo — de 2006 a 2010 — e outras 19 desde a volta ao cargo após o fim da Copa do Mundo de 2014. Dunga persegue o recordista Mário Jorge Lobo Zagallo (126) e o segundo colocado, Carlos Alberto Parreira (112), mas vive um momento delicado. Como antecipei no Correio Braziliense na edição do último sábado depois do empate por 1 x 1 com a Argentina, nunca antes na história desse país a Seleção começou tão mal nas Eliminatórias. A campanha na largada da maratona rumo à Copa da Rússia-2018 contabiliza quatro pontos — uma vitória e dois empates nas três primeiras exibições. Jamais havia sido assim desde 1954, quando a esquadra verde-amarela disputou o qualificatório pela primeira vez.

Dunga completa 80 jogos com dois desafios: vencer o Peru a fim de virar o ano na zona de classificação para a Copa e amenizar a campanha por sua demissão. Os boatos com fundo de verdade começam a ir além das paredes da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), na Barra da Tijuca (RJ), e começam, sim, a causar incômodo na comissão técnica. Há quem lembre do que fez um dos mestres de Marco Polo Del Nero — José Maria Marin, em 2012. O ex-presidente não demitiu Mano Menezes depois da conquista da medalha de prata em Londres-2012. Frio e calculista, esperou o ano acabar para trocá-lo por Luiz Felipe Scolari. Com isso, deu tempo para Felipão montar seu projeto. Portanto, não será novidade se Del Nero fizer o mesmo com Dunga neste fim de temporada.

Sob pressão, Del Nero não quer mais dores de cabeça do que já tem, mas sabe que há um certo descontentamento de dirigentes e até de jogadores com o trabalho de Dunga. Lá se vão 19 jogos nesta segunda passagem e o técnico da Seleção acumula decisões incoerentes. Jogadores entram e saem do elenco como em um passe de mágica. Géferson, por exemplo, foi à Copa América com uma convocação e nunca mais voltou a ser chamado. Daniel Alves, quase sempre terceira opção a cada lista, sempre deixou de ser estepe quando alguém se machucou e chegou logo como titular.

O clima está ainda mais pesado por conta da não convocação do zagueiro Thiago Silva depois da Copa América. Na entrevista coletiva em Salvador, Dunga se negou a explicar a ausência do ex-capitão da Seleção. Conselheiros de Marco Polo Del Nero consideram Dunga intolerante ao não chamar o jogador de volta. Dunga tem seus argumentos. Considera que Thiago Silva fez mal ao elenco ao reivindicar a braçadeira de capitão e até tentar ganha-la no grito de Neymar, o escolhido por Dunga. Não esquece também do amistoso em que Neymar foi substituído e entregou a braçadeira a Thiago Silva sem ter combinado nada com Dunga. Outro descontente é o zagueiro David Luiz. Irreconhecível no empate por 1 x 1 com a Argentina, o beque não estaria confortável no grupo.

Motivos não faltam para a CBF colocar um ponto final na segunda passagem de Dunga pela Seleção. Quer mais uma? Dunga foi escolhido por José Maria Marin, ou seja, Marco Polo Del Nero tem mais um bom argumento, uma carta na manga. O problema é que a troca não é tão simples. Não há nenhuma certeza, por exemplo, se Tite aceitaria o convite. Experiente, o treinador do Corinthians sabe que o momento político da CBF é delicadíssimo. Ele pode topar hoje e ser trocado amanhã caso Del Nero deixe ou seja obrigado a deixar o cargo. Tite lembra o que aconteceu com Mano Menezes. Nomeado por Ricardo Teixeira, ele perdeu o emprego quando José Maria Marin assumiu o cargo.

Portanto, Dunga tem muito a comemorar na noite em que completa 80 jogos à frente da Seleção. E muito a desconfiar. Vencendo, empatando ou, principalmente, perdendo, ele passará as festa do fim de ano de plantão. O capitão do tetra também não é bobo. Sabe com quem está lidando. Se classificar o Brasil para a Copa e permanecer até 2018, tem tudo para ultrapassar a lenda Zagallo e se tornar o técnico que mais comandou a Seleção Brasileira. Do contrário, o campeão da Copa América de 2007 e da Copa das Confederações em 2013 tem assegurado o terceiro lugar no ranking.

Ranking

Técnicos que mais comandaram a Seleção Brasileira

Técnico J V E D %
1. Zagallo 126 90 26 10 80,3
2. Carlos Alberto Parreira 112 61 37 14 67,9
3. Dunga 79 57 14 8 78,0
4. Aymoré Moreira 63 39 9 16 64,5
5. Vicente Feola 57 41 10 6 80,7
6. Flávio Costa 56 35 9 12 70,5
7. Telê Santana 53 38 10 5 81,1
8. Vanderlei Luxemburgo 33 21 7 5 70,7
9. Osvaldo Brandão 32 21 6 5 70,7
10. Cláudio Coutinho 31 17 11 3 72,6