Fabio EM As lágrimas de Fábio, um dos seis bicampeões brasileiros rebaixados. Foto: Alexandre Guzanshe/EM/D. A Press As lágrimas do goleiro Fábio, um dos seis bicampeões brasileiros rebaixados.

Rebaixado, Cruzeiro tem que se reinventar em 2020 para renascer gigante em 2021: o ano do centenário

Publicado em Esporte

Aos 98 anos, o Cruzeiro está rebaixado para a segunda divisão do Campeonato Brasileiro numa temporada em que isso parecia improvável para qualquer clube gigante tal a quantidade de times fracos na Série A. O time celeste iniciou a competição invicto, apontado como favorito ao título, iludido pelo título estadual contra o arquirrival Atlético-MG e o bom começo na fase de grupos da Libertadores. Mas o bicampeão brasileiro (2013 e 2014) e da Copa do Brasil (2017 e 2018) conseguiu ser mais medíocre do que os favoritaços à queda. Culpa da diretoria irresponsável. Traiu o torcedor celeste, como mostrou, em maio, a belíssima reportagem dos colegas Gabriela Moreira e Rodrigo Capelo (o jornalismo com excelência não morreu!), ambos do Grupo Globo. Eles mostraram os mandos e desmandos no clube que, como diz o belo hino, tem histórias heroicas e imortais nos gramados de Minas Gerais. Usando o jargão que virou moda entre treinadores e jogadores, o Cruzeiro Esporte Clube terá que saber sofrer em 2020 se quiser ser feliz em 2021 — o ano do centenário.

Seis remanescentes da campanha do bi brasileiro em 2013 e em 2014 experimentam o outro lado da moeda. Os goleiros Fábio e Rafael; os zagueiros Léo e Dedé; o lateral-esquerdo Egídio e o volante Henrique estavam no elenco dos títulos em sequência. Cinco anos depois, amargam a queda para Série B. Dos seis, três participaram da melancólica derrota por 2 x 0 para o Palmeiras neste domingo, no Mineirão: Fábio, Léo e Henrique.

Sou contra aquele mantra de que o rebaixamento faz bem à reinvenção de um clube. É possível recomeçar do zero se mantendo na elite. O Flamengo prova que sim. O clube carioca brigou para não cair durante muito tempo. Esteve pelo menos duas vezes à beira do precipício. Até que a administração liderada por Eduardo Bandeira de Mello decidiu que não dava mais e deu início ao processo que se viu nesta temporada, com três títulos em um ano (até agora).

Na contramão do Flamengo, o Cruzeiro se iludiu. O bicampeonato brasileiro sob o comando de Marcelo Oliveira encobriu graves erros administrativos. Os títulos conquistados na Copa do Brasil sobre Flamengo e Corinthians ajudaram a dourar a pílula. Para a torcida, era o Cruzeiro cabuloso. Mas as contas do clube apresentavam uma realidade assustadora, chocante.

O Cruzeiro tem em quem se inspirar para dar a volta por cima. Um dos exemplos é o arquirrival Atlético. O Galo caiu para a segunda divisão em 2005. Conquistou a Série B em 2006 e pavimentou o caminho para os títulos mais importantes da história recente do clube — a Libertadores em 2013 e a Copa do Brasil contra o Cruzeiro em 2014.

O Corinthians também serve de exemplo. Rebaixado em 2007, voltou gigante à elite conquistando todos os títulos possíveis: Copa do Brasil (2009), três edições do Campeonato Brasileiro (2011, 2015 e 2017), Libertadores e Mundial de Clubes (2012), Recopa (2013).

Algoz do Cruzeiro na última rodada do Brasileirão, o Palmeiras passou vergonha pela segunda vez em 2012, mas voltou para ser campeão da Série A em 2016 e 2018. Humilhado em 2004, o Grêmio virou o melhor time da América em 2017. Quer maior inspiração do que o River Plate? O clube argentino amargou a queda na temporada 2010/2011, conquistou a Série B do país em 2011/2012 e protagonizou uma das maiores guinadas de um clube sul-americano. Desde então, os millonarios acumulam nove títulos, entre eles, duas Libertadores em 2015 e 2018.

Bons (e maus exemplos) não faltam. O Cruzeiro precisa trabalhar para evitar o que aconteceu com Botafogo e Vasco, clube que até ganharam o título da Série B, mas continuaram instáveis, subiram e desceram mais de uma vez. A Raposa também não pode se inspirar no Internacional. A depressão do rebaixamento fez tão mal ao Colorado que o time voltou à elite em terceiro lugar, cheio de traumas. O pior dos exemplos é o Fluminense, que amargou rebaixamentos sucessivos da A para a B e da B para a C no fim dos anos 1990. Pior do que a vergonha de passar um ano no andar debaixo será trabalhar com a redução da grana da tevê. Este, sim, o maior desafio para o clube que completará 100 anos em 2 de janeiro de 2021.

 

Siga o blogueiro no Twitter: @mplimaDF

Siga o blogueiro no Instagram: @marcospaul0lima

Siga o blog no Facebook: https://www.facebook.com/dribledecorpo/