Jesus Jorge Jesus retorna ao Brasil para definir a novela com o Flamengo. Foto: Alexandre Vidal/Flamengo Jorge Jesus retorna ao Brasil para definir a novela com o Flamengo.

Em 10 atos: o que o histórico das negociações de Jesus indica sobre a renovação com o Flamengo

Publicado em Esporte

Gols, vitórias, pontos, espetáculo, títulos e, consequentemente, saúde financeira. O que mais o Flamengo pode pedir ao técnico Jorge Jesus? A renovação do contrato a vencer em 19 de junho! O treinador retorna de Portugal nesta sexta-feira após cumprir quarentena e retomará as negociações com o clube.

O blog pesquisou como foram as negociações do treinador na carreira. Algumas lentas. Outras rápidas. Comportamento ético ao receber oferta do Porto quando trabalhava no Benfica. Desfechos surpreendentes, como a troca do Benfica pelo arquirrival Sporting. Tem alguns “nãos” a ofertas de gente badalada do mundo do futebol como o ex-vice-presidente do Milan Adriano Galliani (ex-Milan), e o agente lusitano Jorge Mendes.

Lançado no ano passado , Jorge, amado desamado, a incrível história do treinador do Flamengo, de Luis Garcia, editado pela Chiado Publishers, mostra em alguns trechos como Jesus negociou os contratos desde que topou virar treinador por acaso. Li e pincei alguns pontos. No fim deste post tem um link para a minha opinião dada em um post publicado na quarta-feira depois de uma conversa com um amigo do treinador português.

 

1. Não pensou duas vezes

Em 1989, Jorge Jesus atuava em um time português chamado Almancilense. Certo dia, em um jogo válido pela Zona F da terceira divisão, a equipe dele foi para o intervalo perdendo por 3 x 0. O técnico Mario Wilson colocou Jesus em campo no segundo tempo e a equipe reagiu. Arrancou empate por 3 x 3.

No fim do jogo, o presidente do Amora, o time adversário, foi visionário e fez uma proposta a Jesus. “Queres treinar o Amora?”. O então meia respondeu: “Sou jogador, não sou treinador”. O cartola argumentou: “Tu estavas a jogar, mas percebi que tu é que eras o treinador dentro do campo”. Jesus ouviu a oferta no domingo, disse sim na segunda e impôs a condição de não acumular as funções de jogador e treinador. Queria apenas a prancheta. Honrou a aposta de Mário Rui da Silva Figueiredo e alçou o Amora à segunda divisão.

 

2. Oportunidade

O União Leiria foi o primeiro trampolim de Jorge Jesus. Assumiu o time em 15º e terminou em sétimo lugar. A campanha teve direito a vitória por 3 x 1 sobre o Benfica. Ao fim daquela temporada, Jesus trocou o União Leiria pelo Belenenses por dois motivos simples: ambição e dinheiro. O presidente João Bartolomeu explicou a saída do técnico. “Uma proposta de outro clube, muito superior ao que o Leiria poderia pagar”, lamentou.

 

3. Ambição e valorização

Jesus fez milagre no Belenenses. Na pré-temporada, vendeu caro derrota por 1 x 0 para o Real Madrid no Torneio Teresa Herrera. Terminou o Campeonato Português em quinto lugar e foi vice-campeão da Taça de Portugal ao perder por 1 x 0 para o Sporting. O Belenenses ficou em oitavo na temporada seguinte. Os olhos de Benfica, Porto e Sporting começaram a se abrir para Jorge Jesus, mas ele preferiu acertar com o Sporting Braga.

Valorizou o passe ao levar o Sporting Braga à conquista da extinta Copa Intertoto. Fecha em quinto lugar no Português na primeira temporada, e em sétimo na segunda. O prêmio é a transferência para o Benfica. O clube de Lisboa teve de desembolsar € 700 mil.

 

4. Chance da vida

Na apresentação, Jesus explica que a questão financeira não pesou. “Quero fazer parte da história do clube, quero ganhar títulos no Benfica. Não vim por razões econômicas, vim com a convicção de que vou ser campeão”, discursou. Foram 10 títulos à frente dos encarnados e o aumento do assédio interno e externo pelo jogador.

 

5. Ética

O livro conta que Jorge Jesus foi ético ao receber oferta salarial de € 7 milhões de euros por ano do arquirrival Porto. Avisou ao brasileiro intermediário Jorge Baidek, ex-Grêmio, que só negociaria ao fim da temporada. Paralelamente, o Anzhi da Rússia prometia € 8 milhões; e o Fenerbahçe da Turquia, € 8 milhões. Jesus escolheu permanecer no Benfica.

 

6. Resistência

O assédio aumentou. Jesus disse não, por exemplo, ao Monaco. No ato mais surpreendente, recusou oferta do diretor esportivo do então diretor esportivo Adriano Galliani para assumir o Milan. Em 2014, foi ao Estádio da Luz e apresentou oferta de € 5 milhões por ano ao português para suceder o holandês Clarence Seedorf. Jesus havia levado o Benfica à tríplice coroa com as conquistas do Campeonato Português, Taça de Portugal e Taça da Liga. Na mesma temporada, foi vice-campeão da Liga Europa contra o Sevilla.

 

7. Virada de casaca

A negociação mais bombástica aconteceu em 2015. Jorge Jesus e o presidente Luis Filipe Vieira haviam encaminhado a renovação do contrato, mas o treinador surpreendeu ao optar por virar a casaca. Trocou o salário de € 4 milhões no Benfica por € 5 milhões no Sporting e irritou o presidente encarnado. “Uma das maiores virtudes que aprecio nas pessoas é a gratidão. A gratidão define o caráter das pessoas. Não há insubstituíveis nesta casa, mesmo que alguns pensem que o são. Estou desiludido, mas não surpreendido”.

Jorge Jesus respondeu em nota: “Diz-se que na vida por cada porta que se fecha, uma outra se abre. Vivi alguns dos momentos mais felizes e marcantes da minha vida profissional no Benfica. Parto, com a consciência do dever cumprido, grato pelo carinho e a oportunidade com que fui brindado ao longo deste período”, escreveu.

 

8. Não a Galliani e Jorge Mendes

Nem mesmo o badalado agente Jorge Mendes teve facilidade para domar o xará Jesus. Apresentou ofertas da China e do Oriente Médio ao então treinador do Sporting, mas ele só topou deixar Portugal para trabalhar fora do país depois que o pai morre em decorrência de uma doença degenerativa, o Alzheimer.

 

9. Novos voos

Com o falecimento de seu Virgolino de Jesus, o filho Jorge Jesus decidiu topar o desafio de ter a primeira experiência fora de Portugal e da Europa. Assumiu o Al-Hilal da Arábia Saudita. Na época, acertou salário de € 5 milhões de euros em uma temporada.

 

10. Descobrimento do Brasil

Após acusações feitas por Abel Braga de que a diretoria do Flamengo negociou com Jorge Jesus enquanto comandava o time carioca, Jorge Jesus viajou até Madri para um encontro com o presidente Rodolfo Landim e disse sim ao clube em 1º de junho do ano passado, na manhã da final da Uefa Champions League entre Liverpool e Tottenham. Especula-se que o salário do treinador seja R$ 1,5 milhão. O histórico de negociações de Jorge Jesus mostra de tudo um pouco. Aguardemos qual será o desfecho no Flamengo. Dei a minha impressão sobre a novela no post anterior depois de uma conversa com um amigo de Jorge Jesus.

 

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