capa livro São 292 páginas sobre a campanha alvinegra no Brasileirão de 1995

Na véspera dos 20 anos do título brasileiro do Glorioso, um bate-papo com Thales Machado, autor do livro “O Botafogo de 95”, que será lançado nesta quarta-feira, no Rio

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Sabia que o argentino Claudio Caniggia, carrasco do Brasil na Copa do Mundo de 1990, poderia ter sido o parceiro de ataque de Túlio Maravilha na campanha do título brasileiro de 1995? Que Túlio Maravilha só trocou a camisa 9 pela 7 — da 7Up — por causa da frustrada tentativa da Pepsi de contratar o tetracampeão Bebeto? Ah, tem noção de que o técnico Paulo Autuori torcida para outro clube carioca e virou a casaca depois de levar o alvinegro ao topo? Essas e outras histórias estão no livro “O Botafogo de 95”, do historiador e jornalista mineiro de Três Corações, Thales Machado, que será lançado nesta quarta-feira, às 19h, na Livraria da Travessa, no Rio de Janeiro. A programação continua amanhã, data do aniversário de 20 anos da conquista, com uma Tarde de Autógrafos na Loja Oficial do Botafogo, na Cidade Maravilhosa, e continua no sábado (19), com o Botafogo de 95 no Boteco, no Bar Baixo Gago.

Para adquirir o livro basta acessar o site: obotafogode95.minestore.com.br por R$ 35. A seguir, o colega Thales Machado abre o baú para contar algumas histórias do título conquistado em 17 de dezembro de 1995, diante do Santos, no Pacaembu.

 

MPL — Como e quando surgiu a ideia de contar a história do título de 1995 do Botafogo?

Thales Machado — Todo jornalista que gosta de futebol teve um time na infância, e 1995 é muito marcante para mim. Eu tinha oito anos de idade e vivi aquele título em uma idade em que você se apaixona muito por futebol, por um ídolo, como foi o Túlio Maravilha. Os títulos da Copa de 1994 e do Botafogo, em 1995, me marcaram muito. O do Botafogo, principalmente. Sempre foi uma história que eu queria contar, sempre achei que havia muito mais coisa para contar. Muito se fala da polêmica do (árbitro) Márcio Rezende, mas aquele foi um ano incrível para o futebol carioca. Eu sempre achei que a história era melhor do que era, mesmo antes de pesquisar, sem saber. E descobri que era, mesmo. Formado, com passagem pela imprensa esportiva e tendo a minha formação de historiador, eu resolvi fazer esse projeto “O Botafogo de 95”. Como o mercado editorial é muito ruim para livro sobre futebol, sobre o Botafogo, tudo começou antes no Twitter e decolou. Foi muito legal acompanhar o dia a dia em detalhes lendo os jornais, os detalhes, e consegui captar recursos por meio do financiamento coletivo. Nós pedimos R$ 15 mil e conseguimos R$ 26 mil. Foi só alegria, por enquanto.

 

MPL — As histórias de títulos de times costumam cair no lugar comum. O fato de as conquistas do Botafogo serem épicas, como a do Carioca de 1989 e de 2010, serviu de inspiração para dar a dimensão exata daquela conquista de 1995?

Thales Machado — O fato de os títulos virarem absolutos clichês me incomoda muito. Repetem as mesmas histórias o tempo todo como se só elas existissem. Isso não é verdade. É preguiça de apuração, de pesquisa. Eu acho que o “Botafogo de 95”, modéstia à parte, conseguiu trazer coisa nova, coisa que ninguém lembrava mais. São histórias que não são inéditas, algumas são, mas algumas são tão esquecidas que têm cara de inédita. As conquistas de 1989 e de 2010, como você falou, são muito especiais, são comemoradas de uma forma alucinante. Essas conquistas inspiraram, sim, mas 1995 é uma conquista tão especial quanto a de 1989 e de 2010 em tudo. Eu tento adivinhar onde 1995 começou. O Túlio chegou em 1994. A minha conclusão é que esse título começou em 1989. Como a própria torcida do Botafogo canta, é o início de uma era que vai de 1989 a 1999, quando perde a final da Copa do Brasil para o Juventude. O Botafogo saiu de 20 anos sem título para 11 temporadas em que consegue bons resultados. Foram duas finais de Brasileiro (1992 e 1995), três títulos cariocas (1989, 1990 e 1997), participação na Libertadores, uma Copa Conmebol (1993), final da Copa do Brasil (1999). E 1995 era o apogeu, o título mais importante da história do Botafogo. Com os 20 anos, espero até que a imprensa venha com histórias novas, até mesmo, para quem escreveu um livro sobre o assunto.

 

MPL — Você se inspirou em um Twitter retrô de alunos da PUC-RS que acompanharam o Golpe Militar de 1964 para criar a conta @OBotafogode95 nas redes sociais. Como foi isso?

Thales Machado — Eu gosto muito do Twitter e sempre procurei ideias inovadoras. Tenho muito interesse sobre história e um particular interesse sobre a Ditadura Militar no Brasil. Essa iniciativa do pessoal da PUC-RS me chamou muito a atenção. Em 2014, fez 50 anos do golpe de 1964. No dia dos 50 anos, eles fizeram toda a trajetória do golpe, desde a manhã. Os caras montaram uma linha do tempo dando o dia a dia do golpe, como se tivesse um maluco com smartphone na mão acompahando tudo em 1964. Eu gostei dessa ideia e vi como uma solução para eu publicar o meu livro. Passei 20 dias pensando e estou fazendo isso há sete meses. No segundo dia, estava no SporTV, no UOL…

 

MPL — É verdade que o Canniggia — e não o Donizete — poderia ter sido o parceiro de ataque do Túlio Maravilha no Brasileiro de 1995?

Thales Machado — Não é só verdade que o Caniggia quase veio para o Botafogo, como que o Donizete foi pelo menos a sexta opção para o ataque. O Botafogo só tinha o Túlio como grande astro. Quando a Pepsi chegou como patrocinadora, além de pagar boa parte do salário do Túlio, queria um companheiro de ataque para o Túlio, um nome forte para ajudar na propaganda na 7Up. Tanto é que o Túlio era camisa 9 em 1994. A ideia era que ele continuasse com a 9 porque queriam contratar o Bebeto para usar a 7. Não deu certo. Aí, o Túlio passou a vestir a 7. Mas eles insistiram. Logo depois do Bebeto, tentaram o Ronaldo Fenômeno, que estava no PSV. Depois, tentaram o Edmundo. Foi uma novela. Tentaram o Valdeir e até o Maurício, campeão em 1989. Aí, acharam o Donizete, lá no México. Revendo os jogos, eu sinceramente fico na dúvida sobre quem foi o craque do Botafogo no título de 1995, Túlio ou Donizete.

 

MPL — O Paulo Autuori foi um dos últimos entrevistados por você. Ele admite que o título de 1995 colocou o nome dele definitivamente na lista dos grandes treinadores do país?

Thales Machado — Fiz poucas entrevistas para o livro, mas são boas. Entrevistas que eu fiquei duas horas conversando com a pessoa falando sobre o Botafogo de 95. Eu segurei a impressão do livro para colocar a entrevista do Autuori. Ele tinha acabado de deixar o time dele no Japão. Foram três horas ali com ele. Ele fala no livro que é o título mais importante da carreira dele. E estamos falando de um cara que foi campeão da Libertadores pelo Cruzeiro e pelo São Paulo e do Mundial de Clubes pelo São Paulo. E diz que é botafoguense, é o time dele por conta disso. Ele revela que era vascaíno na infância. O Paulo Autuori era um completo desconhecido. Outra coisa que ele revela no livro é que a vinda para o Brasil foi uma estratégia. Ele estava muito bem lá em Portugal, sendo cotado para Benfica, Sporting e Porto, mas ele não tinha vaga porque os treinadores estavam seguros. Ele deu um passo atrás para tentar dois à frente. Depois da passagem pelo Botafogo, ele assumiu o Benfica. Ele esperava treinar um time do interior aqui no Brasil. Quando surgiu o convite do Botafogo, graças ao Leo Rabello e ao vice Antônio Rodrigues, que era português e conhecia o trabalho do Autuori, ele ficou surpreso e aceitou. É impressionante ver o quanto o trabalho do Paulo Autuori era moderno para 1995.

 

MPL — Como foi o bate-papo com o Túlio Maravilha, símbolo daquela conquista?

Thales Machado — Não foi tão legal quanto a do Paulo Autuori, mas teve coisas legais. Ele conta que a bola de 1995 está desaparecida, ele está procurando. Procura-se uma bola Umbro branca de listras amarelas. As entrevistas que mais valeram foram de jogadores coadjuvantes como o Jamir, um cara que estava começando, um jogador operário.

 

MPL — Torcedor do Botafogo é supersticioso. Qual é o caso mais curioso na campanha do título?

Thales Machado — A grande história de superstição do título de 1995 é a do Carlos Augusto Montenegro no Maracanã. O Botafogo não jogou no Caio Martins até a quinta rodada do segundo turno, ou seja 16 rodadas jogando no Maracanã ou vendendo o mando de campo para outras praças, como Fortaleza, João Pessoa, vários lugares para ganhar dinheiro porque os salários estavam atrasados. O Montenegro ia assistir ao jogo na arquibancanda, sempre com a mesma camisa, da 7Up de manga comprida. O diretor da Pepsi também, com uma camisa polo amarela. Eles chegaram até a levar o Túlio, o Vágner (goleiro) e o Beto (meia) para a arquibancada em um jogo contra o Bahia, em que os três estavam suspensos. A torcida estava muito feliz com ele. O Carlos Augusto Montenegro conta que ele bebia muito nos jogos porque os torcedores não paravam de pagar cerveja para ele. Ele aceitou até ser padrinho do filho de um cara, que se chama Túlio, e levou o cara para o vestiário depois.

 

MPL — A torcida do Santos reclama até hoje do árbitro Márcio Rezende de Freitas. Falou com ele?

Thales Machado — É um assunto que ele não gosta muito de tocar, mas é inegável que o Santos foi prejudicado naquela partida. Ele fala isso e o livro trata o assunto corretamente.

 

MPL — Como e por quanto o torcedor do Botafogo pode adquirir o livro?

Thales Machado — O livro vai custar R$ 35 no lançamento e entre R$ 35 e R$ 39, nunca além disso. Vai estar em algumas livrarias, mas é um projeto voltado para a internet. O livro é um sucesso, já tem mais de mil cópias vendidas. Vai estar em algumas livrarias, mas o foco é a venda pela internet.

 

MPL — Qual é o próximo projeto da lista?

Thales Machado — O próximo projeto é descansar. Estou pensando em escrever um livro sobre gestão de futebol com o Filipe Ximenes, que acertou com o Goiás. Vou trabalhar para uma tevê alemã nas Olimpíadas e tem umas ideias pintando para 2017. Quem sabe, os 50 anos do Botafogo de 1967 e 1968. Antes disso, eu preciso descansar.