Lembranças de uma entrevista com Óscar Tabárez e o incrível tabu do técnico do Uruguai contra o Brasil

Publicado em Esporte
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Entrevista publicada na edição de 26 de dezembro de 2010 do Correio Braziliense

 

Foi em dezembro de 2010. Copacabana Palace, Rio de Janeiro. Sensação da Copa do Mundo de 2010 ao levar o Uruguai ao quarto lugar na África do Sul, Óscar Washington Tabárez era um dos convidados de Carlos Alberto Parreira no Fórum Internacional de Futebol (Footecon). Depois da palestra, o técnico da Celeste topou dar uma entrevista ao Correio Braziliense. Que conversa bacana. Uma das melhores que já tive com um treinador. Aos 70 anos, El Maestro dos bicampeões do mundo desde 2006 quebrará hoje, às 20h, contra o Brasil, no Estádio Centenário, em Montevidéu, o recorde de jogos à frente de uma mesma seleção. Com 168, ultrapassará Sepp Herberger, da Alemanha.  Fui aos meus arquivos e resgatei o bate-papo de 2010 com o homem que ameaça quebrar a invencibilidade de sete jogos da era Tite, mas jamais derrotou o Brasil em seis confrontos na carreira (leia o retrospecto no fim deste post).

 

Na entrevista de 2010, Óscar Tabárez contou uma história curiosa sobre sua relação com o Maracanazo. Ele era o técnico do Uruguai na Copa de 1990. Eliminado pela Itália por 2 x 0 nas oitavas de final, voltou ao país sob pressão. “Quando voltamos da Copa (de 1990), organizou-se um seminário com o tema: “Uruguai: nunca mais campeão mundial?”. A pergunta era irônica. A resposta estava implícita. Havia vários argumentos, mas o meu era somente um: a maldição do Maracanã. O Maracanazo é um fato histórico para os uruguaios. Tornou-se o símbolo do que deveria ser o futebol uruguaio. Ou somos campeões, ou fracassamos. Isso foi ruim. Não tivemos paciência com as novas gerações. Não propiciamos ambientes mais tranquilos e depois daquela conquista sempre houve muita pressão em cima dos mais jovens”, contou Óscar Tabárez ao Correio sete anos atrás.

 

Brinquei com Tabárez perguntando se praga de brasileiro pega.. “Na primeira metade do século 20, o Uruguai jamais perdeu uma partida de Copa do Mundo ou um amistoso internacional, incluindo os títulos olímpicos de 1924 e 1928. Perdemos pela primeira vez para a Hungria, por 4 x 2, em 1954, quatro anos depois do último título. Dali em diante, você pode observar, vivemos altos e baixos nas Eliminatórias e nas Copas. Ficamos fora de seis Mundiais”, respondeu Óscar Tabárez.

 

O técnico do Uruguai lembrou um período de amargura na carreira. Depois de 1990, nunca mais trabalhei no Uruguai. Tive experiências na Argentina, na Itália, na Espanha, até ser convidado para assumir o Uruguai de novo em 2006, após uma passagem cheia de pressão no Boca Juniors, depois de um período dourado do (Carlos) Bianchi (técnico mais vitorioso da história do clube argentino), contou Óscar Tabárez.

 

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Entrevista publicada na edição de 26 de dezembro de 2010 do Correio Braziliense

Queria entender o motivo de ele ter aceitado reassumir o Uruguai depois de tanto tempo e o técnico explicou assim: “Sempre fui criticado porque diziam que eu queria muito dinheiro ou porque exigia melhores condições de trabalho. Quando aceitei o convite em 2006, elaboramos um projeto a longo prazo, de acordo com a realidade do futebol mundial. A começar pela atenção às seleções de base. O caminho proposto foi formar seleções juvenis permanentes. No momento em que o menino entra na seleção permanente, desenvolvemos o conceito de formação integral. Trabalhamos a personalidade, trabalho em grupo, respeitos individuais, obediência reflexiva em um grupo de trabalho coletivo”. Coincidência ou não, o trabalho a longo prazo, paciente, dá frutos. O Uruguai acaba de conquistar o Sul-Americano Sub-20.

 

No papel de manager das seleções, Óscar Tabárez conseguiu tirar as suas ideias do papel. “Hoje, procuramos jogadores dotados tecnicamente, inteligentes taticamente, fortes fisicamente e velozes. Rápidos não só com a bola nos pés, mas ágeis para pensar, tomar decisões. O jogador deve estar preparado para mudanças táticas drásticas de acordo com o decorrer da partida. Por isso, temos um departamento psicológico. Os meninos se entrevistam, os outros assistem e fazem críticas para que o entrevistado evolua, cresça como pessoa”, revelou Óscar Tabárez.

 

Quarto colocado na Copa da África do Sul depois de perder o terceiro lugar a para a Alemanha, Tabárez contou a história de uma viagem feita por ele antes da Copa de 1990 para explicar o sucesso da Espanha, campeão mundial em 2010. “Em 1989, eu fui à Espanha ver como jogava um dos nossos adversários na primeira fase. Era justamente a Espanha. A cultura futebolística daquele país não tinha nada a ver com o que tem agora, ou talvez nos últimos anos. O futebol não era o esporte mais importante na Espanha. Agora, eles falam de futebol com paixão”, comparou El Maestro, responsável pelo último título da seleção principal do Uruguai — a Copa América de 2011: 3 x 0 em cima do Paraguai, na Argentina.

 

TENTE OUTRA VEZ…

Óscar Washington Tabárez nunca venceu o Brasil como técnico do Uruguai

Jogo 1

Em 1989, perde a final da Copa América para o Brasil no Maracanã, por 1 x 0, gol de Romário.

Jogo 2

Nas semifinais da Copa América de 2007, empate por 2 x 2 e derrota nos pênaltis (5 x 4).

Jogo 3

Nas Eliminatórias para a Copa de 2010, perde para o Brasil 2 x 1 no Morumbi, em 2007.

Jogo 4

Novamente nas Eliminatórias, o Brasil goleia o Uruguai no Centenário por 4 x 0 em 2009.

Jogo 5

Brasil elimina o Uruguai por 2 x 1 na semifinal da Copa das Confederações de 2013.

Jogo 6

No primeiro turno das Eliminatórias, o Uruguai arranca empate por 2 x 2 em Pernambuco.