Fenomeno Do rompimento do tendão patelar do joelho direito a oito gols na Copa 2002, dois deles na final Do rompimento do tendão patelar do joelho direito a oito gols na Copa 2002, dois deles na final

Há 20 anos, a lesão mais grave de Ronaldo ameaçava a carreira do Fenômeno e a conquista do penta

Publicado em Esporte

A tevê Globo exibirá na tarde deste domingo uma espécie de vale a pena ver de novo do esporte: a final da Copa do Mundo 2002 entre Brasil e Alemanha. A conquista do penta teve um herói: Ronaldo fez os dois gols do título. Mas quem acreditaria nesse roteiro hollywoodiano em 12 de abril de 2000? Há 20 anos, o Fenômeno desmontava em campo protagonizando uma das cenas mais assustadoras, dolorosas e redentoras do futebol.

Ronaldo rompeu o tendão patelar do joelho direito. Em tempos de páscoa, pode-se dizer que começava ali, no lendário Estádio Olímpico, um calvário na vida do jogador de 23 anos eleito três vezes melhor do mundo até então — duas delas antes da lesão mais grave da carreira. O centroavante vestia a camisa da Internazionale. Começara o jogo de ida da final da Copa Itália contra a Lazio no banco até o treinador italiano Marcello Lippi decidir acioná-lo.

Ronaldo entrou em campo aos 13 minutos do segundo tempo no lugar do romeno Adrian Mutu. Porém, só conseguiu ficar dentro das quatro linhas até os 19. Quem estava próximo do lance crucial ouviu um estalo. Ronaldo foi à lona depois de tentar driblar o português Fernando Couto. O árbitro Alfredo Trentalange paralisou a partida imediatamente em meio ao silêncio. Houve aflição até a chegada da maca. O experiente Christian Panucci levou as mãos à cabeça. O craque saiu de campo chorando. Deixou companheiros como Zamorano, que havia acabado de substituir Roberto Baggio, em pânico. Homem de fé, o chileno rezava.

 

233 gols tinha Ronaldo “Fenômeno” aos 23 anos, quando sofreu a lesão mais grave da carreira. Com essa mesma idade, o argentino Lionel Messi tinha 148 bolas na rede; e o português Cristiano Ronaldo, 115

 

Na Itália, o doutor Guillén, médico da Internazionale à época, anunciava um diagnóstico terrível. “Ele rompeu a estrutura mais sensível e grave que existe, o tendão que possibilidade correr, chutar, arrancar”. Enquanto isso, o francês Gérard Saillant, responsável por mais uma cirurgia na carreira do ídolo mundial, era curto e grosso. “Os milagres não existem. Ronaldo precisa de pelo menos oito meses de recuperação e, ainda assim, não posso dizer que voltará a jogar futebol”, projetou, lembrando que o paciente havia rompido o tendão 144 dias antes.

Tão jovem, Ronaldo convivia com a tendinite, o coquetel de medicamentos como corticoides e anti-inflamatórios e um interminável jogo de empurra sobre a responsabilidade das contusões. “A culpa é do PSV Eindhoven. O clube holandês deu anabolizantes ao Ronaldo e a musculatura é incompatível com a estrutura óssea do joelho dele”, denunciou, em 2008, o ex-coordenador de antidopagem da CBF, Bernardo Santi, ou seja, oito anos depois da contusão.

O calvário de Ronaldo, iniciado em 12 de abril de 2000, começou a chegar ao fim praticamente um ano depois. Recebeu alta em 8 de março de 2001. Participou de amistosos, mas foi poupado de jogos oficiais até 4 de novembro. Enquanto isso, a Seleção perdia o rumo nas Eliminatórias para a Copa de 2002. Em quatro anos, teve quatro treinadores diferentes: Vanderlei Luxemburgo, o interino Candinho, Émerson Leão e Luiz Felipe Scolari. O Brasil só carimbou a vaga para o Mundial na última rodada contra a Venezuela, com Luizão brilhando.

Na contramão do discurso do médico Gérard Saillant, Ronaldo começou a provar que milagres acontecem, sim. Fora de série, o craque se reinventou. As arrancadas passaram a ser raras. O posicionamento e as finalizações impecáveis, não. A ponto de Diego Armando Maradona lamentar. “Se não fossem as contusões, Ronaldo teria sido o maior jogador da história”.

 

 

Os números fortalecem o discurso de D10S. Quando rompeu o tendão, Ronaldo tinha 23 anos e sete meses. A essa altura, colecionava 233 gols na carreira. Messi chegou contabilizava 148 nesta idade; e Cristiano Ronaldo, 115. Ronaldo perdeu no mínimo três anos de carreira devido ao tempo de recuperação de contusões que deixaram sequelas e abreviaram o fim da carreira.

Determinado, Ronaldo conseguiu disputar a Copa do Mundo de 2002. Contra tudo e contra todos, Luiz Felipe Scolari comprou a briga. Ronaldo era reserva no tetra, em 1994. Foi um dos responsabilizados pelo vice em 1998. O penta teve a assinatura dele. Fez oito gols na campanha das sete vitórias em sete jogos. Dois deles na final contra a Alemanha, em 30 de junho de 2002. Foi goleador isolado da Copa com o melhor desempenho de um artilheiro desde 1970. No fim do ano, conquistou o terceiro prêmio de melhor do mundo na carreira.

Quem imaginou o fim da carreira de Ronaldo Nazário de Lima naquele 12 de abril de 2000, viu o Fenômeno jogar até 14 de fevereiro de 2011, quando pendurou as chuteiras aos 34 anos.  Deu tempo de conquistar Paulistão e a Copa do Brasil pelo Timão, ambas em 2009.

Ah, sobre aquela final!

A Lazio de Stankovic, Sensini, Simeone, Nedved, Inzaghi e Salas venceu o jogo de ida no Estádio Olímpico, em Roma, por 2 x 1, segurou 0 x 0, em Milão, e conquistou o título no placar agregado sob o comando do treinador sueco Sven-Goran Eriksson.

 

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