Entrevista: Wallim Vasconcellos, candidato da chapa verde a presidente do Flamengo

Publicado em Sem categoria

Wallim Vasconcellos: “Estou decepcionado com Eduardo Bandeira de Mello”

Crédito da imagem: Divulgação/Flamengo

O sobrenome dele tem Vasco, mas, de cruz-maltino, Wallim Vasconcellos não tem nada. Em entrevista por telefone ao Correio, ele zoa com o lanterna do Brasileirão. Ex-parceiro do atual presidente, Eduardo Bandeira de Mello, Wallim é o favorito à eleição de dezembro no Flamengo. Ex-diretor de Futebol e de Patrimônio da gestão atual, e apoiado por Zico —, Wallim oficializou a candidatura própria a mandatário do clube no triênio 2016-2018. Um sonho adiado em 2012, quando a candidatura foi impugnada por não ter cinco anos ininterruptos de sócio. Wallim chamou Eduardo Bandeira de Mello para o substituir no pleito de 2012 e agora se sente traído. Ele chama Eduardo de ingrato e revela planos para a sucessão, como a construção de um estádio parecido com o Mané e o nome do primeiro reforço de peso se vencer a eleição no fim do ano: o volante Elias, do Corinthians.

MPL – Quais são as suas principais propostas para o Flamengo?

O Centro de Treinamento é um dos fatores fundamentais para o Flamengo mudar de patamar. Precisamos montar um time na base, como foi nos anos 1980 e um pouco também nos anos 1990. Dar estrutura para a base e, principalmente, para os profissionais em dia de treino integral. Quero também dar início à construção do nosso estádio. Quanto ao time, chegou a hora de ousar. Não investimos nos dois primeiros anos por falta de recursos. Queremos mais jogadores de primeira linha para mesclar com nomes da base como Mateus Sávio, Jajá, Jorge, Douglas Baggio.

MPL – Como está o projeto do estádio do Flamengo?

Wallim Vasconcellos – Estamos procurando um terreno em uma zona central do Rio para a construção do nosso estádio. Temos que montar uma estrutura financeira para um investidor nos apoiar. Apesas das dificuldades econômicas do país, isso não é um problema.

MPL – Alguma arena do país serve de inspiração ao seu projeto?

Wallim Vasconcellos – Para mim, o estádio de Brasília é o mais bonito do país, independentemente de quanto custou (risos). O meu sonho é o Flamengo ter um estádio igual ao de Brasília. Quem sabe eu peço uma planta parecida, só que com capacidade para 40, 45 mil. Seria espetacular.

MPL – A torcida entendeu a política de austeridade financeira, mas reclama da falta de títulos. Vai continuar sendo assim caso você vença?

Wallim Vasconcellos – Nós conseguimos abater muitas dívidas nos dois primeiros anos de gestão, nos concentramos nisso, porém temos de investir no futebol. A gente não aguenta mais ficar nesse sobe e desce na classificação. O Flamengo chega no meio da tabela e não sobe nem desce. Então, a partir do ano que vem, nós queremos investir no time.

MPL – Você é um dos fundadores do grupo que, em 2012, levou o presidente Eduardo Bandeira de Mello ao poder. Como está a relação de vocês, que serão adversários na eleição do fim do ano?

Wallim Vasconcellos – Estou decepcionado com ele. Em 2012, eu fui convidá-lo no BNDES para me substituir como candidato se eu tivesse algum problema (a candidatura foi impugnada em 2012 por ele ter menos de cinco anos ininterruptos de sócio) e esperava esse mesmo gesto dele agora, quando anunciei que sou candidato com o apoio do grupo que nós formamos em 2012. Esperava que ele abrisse mão nesse momento. A gente, às vezes, conhece as pessoas pela posição que elas ocupam. Por isso, eu digo que a postura dele me decepcionou muito. Mas eu não tenho problema nenhum com ingratidão.

MPL – Há alguma chance de reaproximação?

Wallim Vasconcellos – Hoje, não há condição. O que eu vejo é um inflexibilidade total da parte dele (Eduardo) de abrir mão da candidatura.

MPL – Que avaliação você faz do desempenho do presidente em Brasília?

Wallim Vasconcellos – Acho que o presidente Eduardo Bandeira de Mello deveria estar mais em Brasília do que assistindo treino no Flamengo. Ele precisava discutir o futebol nos mais diversos eventos. Acho que ele fez bem de viajar muito a Brasília, mas poderia ir muito mais.

MPL – Leonardo é um nome que interessa à sua administração?

Wallim Vasconcellos – Ele não quer trabalhar no Brasil. O Leonardo tem a vida dele na Itália e não pretende voltar por enquanto, mas pode ser uma consultor. A vivência dele no futebol internacional pode nos ajudar a espelhar-se nos clubes em que ele trabalhou, como Milan e PSG. Se nós ganharmos, vamos pedir esse tipo de ajuda.

MPL – E o Zico?

Wallim Vasconcellos – Quero agradecer o apoio dele à nossa chapa, mas temos que preservar os nossos ídolos. O Zico não pode ser técnico do Flamengo, diretor de futebol, nada. O futebol é muito traiçoeiro. Quando você faz o trabalho certo e o resultado não sai, as pessoas são ingratas. Zico nos deu muitas glórias. Se você perde um campeonato, as pessoas esquecem tudo. Nós temos de preservá-lo. É melhor termos o Zico como exemplo para a base.

MPL – Em caso de vitória nas urnas você pretende manter o técnico Oswaldo de Oliveira e o diretor executivo Rodrigo Caetano?

Wallim Vasconcellos – O Flamengo não pode mais escolher seus treinadores com base no que está sobrando no mercado. Nós precisamos traçar um perfil de treinador e aí, sim, buscar no mercado. Eu precisaria conversar com o Oswaldo de Oliveira, saber o que ele pensa sobre o clube. Mas isso não nos impede de conversar com outros treinadores. Precisamos traçar um perfil. O time melhorou com ele. Tem um padrão de jogo, está mais competitivo. Quanto ao Rodrigo Caetano, quero discutir uma nova filosofia de trabalho com ele. Não vejo razão para ele sair, a menos que não queira ficar.

MPL – Qual é o perfil de treinador dos seus sonhos?

Wallim Vasconcellos – Que seja vitorioso e defina rapidamente um padrão de jogo, de preferência agressiva. Quero um técnico com uma postura firme, que não que seja influenciado pelas circunstâncias, principalmente, pelo lado de fora. Esse é o perfil que me agrada bastante.

MPL – Vanderlei Luxemburgo saiu atirando que a atual diretoria do Flamengo não entende nada de futebol. Você ainda fazia parte dela quando ele foi demitido. Luxemburgo é rubro-negro. Ele é página virada no clube?

Wallim Vasconcellos – Ele não é uma página virada no Flamengo não por tudo o que falou (da diretoria), mas pelo que ele mostrou. Os resultados que ele teve nos últimos anos mostram que há alguma coisa errada. Não é só no Flamengo que ele foi mal, é em todos os clubes que ele passou recentemente. O último título dele foi o Carioca de 2011. Quando ele diz que a gente não entende nada de futebol, ele precisa ser mais humilde, fazer intercâmbio com treinadores de fora.

MPL – A gestão de Eduardo Bandeira de Mello já teve oito treinadores em três anos. Não é mudança demais?

Wallim Vasconcellos – Trocamos oito vezes de técnico de 2012 para cá. Mas o Dorival Júnior e o Mano Menezes pediram para sair. Os demais foram demitidos. Quando eu estava na gestão do Eduardo Bandeira de Mello, nós fizemos algumas tentativas que não deram certo. Jorginho foi uma, o próprio Cristóvão Borges… Jayme de Almeida foi bem na Copa do Brasil, mas não manteve o rendimento no Brasileirão. Temos que partir para uma nova estratégia de contratar um treinador para trabalhar, quem sabe, três anos, independentemente de resultado.

MPL – Você é a favor de o Flamengo mandar partidas fora do Rio de Janeiro?

Wallim Vasconcellos – Sou favorável, mas não com muita frequência. Brasília e São Paulo — no caso, o Pacaembu —, são praças boas, perto do Rio. No ano que vem, com Jogos Olímpicos, Brasília (o Mané Garrincha é um das sedes dos Jogos) e São Paulo terão a nossa preferência. Além disso, trabalhamos com estádios menores do Rio.

MPL – O sócio-torcedor do Flamengo está inerte. O que o clube de maior torcida do país precisa fazer para não perder esse tipo de receita?

Wallim Vasconcellos – Precisamos discutir facilidades. Temos que identificar se é problema de milhagens, de algum outro tipo de vantagem, como pagamento em débito em conta, boleto, um preço menor… Mas tudo isso é muito sensível a você ter um ídolo, um time ganhador e, principalmente, um estádio. Com esses três elementos, o número de sócios salta tranquilamente para 150 mil de adesões.

MPL – Você defende o Flamengo fora do Estadual para jogar a Copa Sul-Minas?

Wallim Vasconcellos – Não dá mais para disputar o Carioca com o número de times que tem, no atual formato. Você só tem lucro na final. É melhor repensar uma fórmula mais atraente. Agora, romper com a Federação (como prega a atual gestão) também não é a melhor decisão. É uma bobagem. Romper, para mim, é se desfiliar.

MPL – O Vasco está à beira do terceiro rebaixamento em oito anos. Qual é a sua opinião sobre o drama cruz-maltino?

 

Wallim Vasconcellos – O clássico é um campeonato à parte só para o Eurico Miranda. Para a gente, ganhar do Vasco é normal. Campeonato é quando você levanta a taça. Então, campeonato à parte é um pouco de exagero. Como dirigente, acho ruim a queda. O que adianta o Vasco ir para a segunda divisão? Não vou jogar com o Vasco, não vai ter zoação. É um esvaziamento que não interessa a ninguém.

MPL – Caso você seja eleito, quem é o primeiro nome da lista de reforços?

Wallim Vasconcellos – Viável ou inviável? Vou falar do viável (risos). Admiro muito o Elias. Gostaria muito que ele voltasse. Ele é a nossa meta. Se  pudéssemos trazer um Oscar para o meio, mas a taxa de câmbio atrapalha. Renato Augusto está na minha lista faz tempo. O Renato Augusto eu sugeri um tempo atrás, mas o pessoal do futebol não quis o jogador de volta. Ele tem a pele rubro-negra, é muito bom e foi formado na Gávea. Uma posição que não precisamos é no gol. Não temos problema. O Paulo Victor tem uma identidade muito grande com o clube.

MPL – A briga judicial do título da Copa União de 1987 vai completar 30 anos em 2017. A briga está no STF. Como o Flamengo está trabalhando nessa batalha?

Wallim Vasconcellos – O caso do título de 1987 está no Supremo Tribunal Federal (STF). Se nós perdermos no STF, vamos até a Fifa. A Fifa proíbe que os seus filiados recorram à Justiça comum. Então, se o Sport foi para a Justiça comum, tem que ser banido de todas as competições da CBF.

MPL – Há um movimento liderado pelo presidente do Grêmio pela volta do mata-mata no Campeonato Brasileiro. Qual é a sua posição?

Wallim Vasconcellos – Sou a favor de um misto. Os dois primeiros entram em vantagem no mata-mata com oito times. Deveríamos pensar até em uma final igual à da Champions League, um jogo só, por exemplo, em Brasília. Terminava a temporada com uma p… de uma festa em algum lugar do país. Imagina? Seria sensacional.

MPL – Adriano, um dos ídolos recentes do clube, largou o futebol. Em algum momento o Flamengo ofereceu algum tipo de ajuda não ao jogador, mas ao homem Adriano?

Wallim Vasconcellos – Quando eu estava na diretoria atual, aconteceram alguns contatos indiretos, mas infelizmente não há mais interesse da parte dele em jogar futebol. Isso é uma pena, para o Flamengo e para a Seleção Brasileira, tão carente de jogadores com o potencial dele. Não sei como está o Adriano, mas, se amanhã ele disser que está com vontade de jogar, o espaço está aberto. Seria uma alegria imensa convencê-lo a voltar a ser um jogador profissional, mas todos os contatos foram negativos.