savio Sávio, Romário e Edmundo: um gol de cada nos 3 x 0 sobre o Vélez em 1995: Apolinho era o técnico O Apolinho Washington Rodrigues orienta Sávio, Romário e Edmundo

Entrevista: Washington Rodrigues, o Apolinho, técnico do Flamengo na final da Supercopa de 1995 contra o Independiente

Publicado em Esporte

A final da Copa Sul-Americana entre Flamengo e Independiente, nesta quarta-feira, no Maracanã, será mais do que especial para um senhor de 81 anos. Comentarista da rádio Tupi do Rio de Janeiro, o radialista Washington Carlos Nunes Rodrigues — o Apolinho — era o técnico rubro-negro na decisão da Supercopa dos Campeões da Libertadores de 1995 exatamente contra o Independiente. Após perder por 2 x 0 em Buenos Aires, o time carioca precisava devolver o placar para levar a final aos pênaltis. O placar terminou 1 x 0, gol de Romário.

Vinte e dois anos depois, Washington Rodrigues relembra aquela decisão em entrevista ao blog. Ele conta como pacificou um elenco rebelde e quase conquistou o levou a um título internacional. Mesmo sem experiência como treinador, o Apolinho desbancou técnicos badalados na época. Eliminou, por exemplo, Carlos Bianchi e o amigo Jair Pereira. Um dos grandes feitos de Washington Rodrigues foi ter derrotado o Vélez Sarsfield, da Argentina, por 3 x 0, com um gol de Sávio, um de Romário e um de Edmundo. Na época, o trio era motivo de piada. Recebeu o apelido de pior ataque do mundo. “Não tive problema com eles. Acabei padrinho de casamento do Romário e sou conselheiro do Edmundo até hoje”, conta.

Questionado sobre quem será campeão da Sul-Americana, Washington Rodrigues foi rápido na resposta:

“Vai ser a minha forra”.

 

O senhor era o técnico do Flamengo na final da Supercopa de 1995 contra o Independiente. Quais são as lembranças daquela decisão?

Pois é, a vida apronta isso. A história se repete. Fizemos uma campanha bem melhor. Vencemos todos os jogos até a final. Naquela época era Supercopa dos Campeões da Libertadores, bem mais difícil do que a Copa Sul-Americana. Perdemos o título fora de casa contra o Independiente.

 

Era o ano do centenário do futebol do Flamengo e a possibilidade de ser o único título em 1995 foi ganhando crescendo a cada jogo…

Sim, vencemos todos os jogos. Eu lembro que nós eliminamos o Vélez Sarsfield do Carlos Bianchi, que era o Pep Guardiola da época. Ganhamos por 3 x 2 lá em Buenos Aires e por 3 x 0 na volta com gols de Sávio, Romário e Edmundo. Passamos pelo Nacional de Montevidéu. Eliminamos o Cruzeiro do Ênio Andrade nas semifinais. Ele foi até demitido e o Jair Pereira assumiu na partida de volta.  Mas aí, no primeiro jogo da final, nós tivemos uma infelicidade…

 

O que faltou para o título inédito?

Chegamos em Buenos Aires para o primeiro jogo da decisão com a certeza de que nós éramos melhores. Tomamos um gol logo no primeiro tempo. O lateral-esquerdo Lira escorregou (Mazzoni fez 1 x 0). Aí, no segundo tempo, eles fizeram o segundo (com Domizzi) e ficamos naquela. Era melhor voltar pra casa com derrota por 2 x 0 do que por 3 x 0.

 

E no Maracanã faltou um gol para forças os pênaltis…

Nós dominamos o jogo no Maracanã. O Romário fez um gol, ganhamos por 1 x 0, mas era insuficiente. O Mondragón fechou o gol. Na semana seguinte tomou um gol da intermediária.   Foi muita tristeza para mim. Era o ano do centenário do Flamengo, a última chance de o clube conquistar um título. Pra mim, pessoalmente, seria fantástico.

 

Qual foi o tema da preleção?

Eu disse que estávamos com a nossa torcida. Na verdade, a gente nem esperava tanta gente no Maracanã. Disseram que haveria 60 mil pessoas no máximo. Dizem que havia 96 mil pessoas, mas acho que tinha muito mais do que isso. Antes do jogo, derrubaram um portão, invadiram. Morreu até um torcedor. Há quem fale em 130 mil pessoas no estádio.

 

E houve baixas importantes para a final, não é?

Nós tínhamos certeza de que seria difícil. Perdemos o Edmundo por causa daquele acidente. Ele tirou o gesso do pé na véspera do jogo decisivo. O time estava traumatizado com que havia acontecido com o Edmundo. Romário jogou a final no Maracanã com desconforto na coxa.

 

A decisão de 2017 é mais difícil do que a de 1995?

Talvez essa seja pior. Em caso de vitória por 1 x 0 vai ter prorrogação. Persistindo, vai para os pênaltis. O Flamengo disputou 83 jogos em 2017. Vai ter perna para aguentar uma prorrogação e decisão por pênaltis?

 

Campanha na Supercopa de 1995

  •  Oitavas de final

Vélez Sarsfield 2 x 3 Flamengo

Flamengo 3 x 0 Vélez Sarsfield

  • Quartas de final

Nacional-URU 0 x 1 Flamengo

Flamengo 1 x 0 Nacional-URU

  • Semifinais

Cruzeiro 0 x 1 Flamengo

Flamengo 3 x 1 Cruzeiro

  • Final

Independiente 2 x 0 Flamengo

Flamengo 1 x 0 Independiente

 

Reinaldo Rueda está no caminho certo para o título?

Ele merece, mas no Flamengo não tem purgatório. É céu ou inferno. Se perder, a torcida vai na carótida dele. É uma cartada importante. Se não for campeão vai ser difícil continuar…

 

Por que aceitou deixar o microfone da rádio Globo e assumir o Flamengo naquela reta final de temporada?

Ninguém queria. Foi uma emergência. Houve a briga do Romário com o Vanderlei Luxemburgo. Depois, contrataram o Edinho. Houve problemas disciplinares do Romário com o Sávio, a tevê flagrou e passou até no Jornal Nacional. Ninguém queria pegar. Era um pepino. Havia o pessoal que já estava no clube, os que chegaram do Fluminense, como Márcio Costa, Lira, Djair… e o pessoal da base. muito problema. Ninguém queria pegar. Fui tentar harmonizar e até consegui.

 

Sávio, Romário e Edmundo ficaram marcados como pior ataque do mundo, mas você conseguiu algo raro: o Flamengo venceu o Vélez na volta por 3 x 0 com um gol de cada.

O Flamengo vendia muitos jogos para outras praças naquela época e enfrentamos o Vélez no Parque do Sabiá, em Uberlândia. Sávio, Edmundo e Romário marcaram. Não tive problema com nenhum deles. Acabei padrinho de casamento do Romário e conselheiro do Edmundo até hoje.

 

Pensou em continuar a carreira de técnico?

Eu tinha uma cláusula contratual. Não havia chance de continuar. Dia 5 de janeiro de 1996 eu teria que me apresentar na rádio Globo. Meu negócio era jornalismo. Como eu não tinha intenção de ser técnico, não tinha medo de perder. Jogava para a frente, com base na minha experiência de vida. Mas nunca faltou raça naquele grupo. Foi acima das minhas expectativas.

 

Até que ponto aquela campanha mudou a sua vida?

Faltou o título. Seu eu fosse campeão, teria o que contar aos meus netos. Até tenho (risos), mas ser campeão é outra coisa. Aquela experiência como técnico do Flamengo me deu uma valorização muito grande. Tive ressonância internacional, dava entrevistas para o mundo inteiro. Participei até de um filme sobre os maiores clássicos do mundo. Fui protagonista no trecho que trata de Flamengo e Vasco. Isso não aconteceria se não tivesse assumido o desafio. Divulgou meu nome.

 

Quem será o campeão da Sul-Americana: Flamengo ou Independiente?

Vai ser a minha forra.