Serginho Milan Serginho participou da negociação para a transferência de Léo Duarte para o Milan Serginho participou da negociação para a transferência de Léo Duarte para o Milan

Entrevista: Serginho. Ex-lateral do Milan defende Paquetá: “O contexto do clube inibe o potencial”

Publicado em Esporte

Poucos jogadores conhecem tão bem o Milan quanto o brasileiro Sérgio Cláudio dos Santos, o Serginho. O ex-lateral-esquerdo empilhou sete títulos com a camisa rubro-negra — entre eles duas Champions League — e praticamente participou da última grande fase vitoriosa do clube italiano. Aos 48 anos, é sócio de uma agência especializada em transferências de jogadores. É quem ajudou a levar o zagueiro Léo Duarte do Flamengo para a Itália. Nas horas vagas, é faz uns “bicos” de respeito. No último deles, foi o chefe da delegação da seleção máster da Itália que esteve no país para o duelo de lendas contra os heróis do tetra, nos 25 anos da final da Copa do Mundo dos Estados Unidos. Serginho bateu um papo exclusivo com o blog e falou sobre a crise de Lucas Paquetá no Milan, a carência de sucessores para Daniel Alves e Marcelo na Seleção, revela que Roberto Baggio lançará um filme em breve no Netflix e diz por que abriu mão da Seleção Brasileira em determinado momento da carreira.

 

Você empilhou sete títulos no Milan: um Italiano, uma Copa Itália, uma Supercopa da Itália, duas Uefa Champions League, uma Supercopa da Uefa e um Mundial de Clubes da Fifa. Logo, tem autoridade para responder. O que acontece com esse clube histórico e tão vitorioso?

Qualquer grande empresa que passa por uma mudança de gestão radical, como vem acontecendo no Milan nos últimos cinco anos, com três alterações de comando, perde as referências. Isso não é muito positivo. É o que vem acontecendo. Na minha época de Milan tinha o Silvio Berlusconi, o Adriano Galliani, o Ariedo Braida. Eles eram os diretores, a nossa base, o nosso chão, o ponto de referência. Isso não existe hoje. O Milan teve proprietários chineses, agora é um fundo. As coisas se perdem. Não há líderes dentro de campo, jogadores importantes como antes, com a filosofia vencedora do Milan. Isso é um pecado na história de um clube tão histórico e vencedor como o Milan, que chegou a estabelecer uma dinastia.

 

Até que ponto isso atrapalha o Lucas Paquetá e o Léo Duarte?

A situação deles é difícil. Quando você chega num contexto em que as coisas não funcionam bem, isso inibe, esconde o verdadeiro potencial de um atleta. Isso vem acontecendo com o Paquetá, que não se encontrou. O futebol italiano é muito complicado. Você tem pouco tempo para pensar, tomar decisões rápidas. Ele, infelizmente, ainda não encontrou seu melhor futebol no Milan. Espera-se que ele se reencontre e volte a ser o Paquetá do Flamengo.

 

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E o Léo Duarte? Você inclusive ajudou a leva-lo para o Milan…

O Léo Duarte tem seis meses de clube, estava tendo oportunidade de jogar como titular, tendo a confiança do treinador, mas sofreu uma contusão que o afastou pelos próximos quatro meses. Futebol é momento. Léo Duarte e Lucas Paquetá são jovens e as coisas podem mudar.

 

A sua chegada ao Milan foi num período de muita exigência. Havia uma filosofia vencedora inaugurada pelo Arrigo Sacchi. O legado dele se perdeu?

Tanto o Arrigo (Sacchi) quanto o (Fabio) Capello deixaram uma história muito grande no clube. Criaram e mantiveram uma filosofia vencedora. Para entrar em um clube como o Milan, que tinha jogadores de altíssimo nível que trabalharam com esses grandes treinadores, você tinha que se enquadrar ou ficaria fora dos planos. O Milan sempre deixou uma linha muito clara de filosofia vencedora. Existia um método de trabalho, uma filosofia vencedora. Isso se perdeu.

 

Quando você chega num contexto em que as coisas não funcionam bem, isso inibe, esconde o verdadeiro potencial de um atleta. Isso vem acontecendo com o Paquetá, que não se encontrou. O futebol italiano é muito complicado. Você tem pouco tempo para pensar, tomar decisões rápidas. Ele, infelizmente, ainda não encontrou seu melhor futebol no Milan. Espera-se que ele se reencontre e volte a ser o Paquetá do Flamengo.

 

Da crise do Milan para a da Seleção Brasileira. Por que está tão difícil achar sucessores para o Daniel Alves na direita; e o Marcelo e o Filipe Luís na esquerda?

O futebol impõe esses desafios. Descobrir jogadores novos para algumas posições. As laterais ficaram por muito tempo com o Daniel Alves na direita; e o Marcelo na esquerda. Eles se mantiveram por duas Copas. Mas o futebol brasileiro é assim: quando menos se espera, você descobre novos talentos.

 

Opinião do especialista: quem é o favorito para assumir, se consolidar na lateral esquerda?

Acredito que o Alex Sandro é um jogador que tem essas características. Joga em um grande clube (Juventus), numa grande liga (Italiano), com uma boa experiência. Torço para que ele encontre o equilíbrio para assumir essa lateral esquerda.

 

Por falar em Seleção, você esperava ter ido para a Copa de 2002, mas o Felipão preferiu o Júnior. Depois disso você se “aposentou” da Seleção e decidiu dedicar-se exclusivamente ao Milan. Você se arrepende?

A minha geração era muito forte. Pelo menos quatro jogadores poderiam assumir a lateral esquerda da Seleção. Eu tive a minha história. Nunca me senti valorizado dentro do grupo da Seleção Brasileira. Enquanto isso, a minha história no Milan cada vez mais se fortalecia. Ali eu me sentia bem, valorizado. Abri mão das convocações para defender as cores do Milan. Não me arrependo. Foi uma escolha minha a dedicação 100% ao Milan.

 

Mesmo assim, você foi campeão da Copa América 1999 com o Luxemburgo na reserva do Roberto Carlos…

Claro que a nossa história é feita com Seleção Brasileira. O capítulo final mais bonito é com sua nação, seu país. Porém, não tive oportunidade muito clara na Seleção e não me lamento pelas escolhas que fiz. Apesar de nem sempre ser convocado, lembrado, sempre torci muito pela Seleção. Joguei no Milan quando o clube ganhava muitos títulos e tinha praticamente uma seleção mundial. Quando você pensa nas escolhas que faz, não do que se arrepender no fim.

 

O que faz da vida atualmente?

Até 2017, antes da primeira venda do Milan, eu trabalhava no clube. Depois que saiu o nosso pessoal da velha guarda, eu fui embora junto. Trabalho com uma agência de empresários, de procuradores na Itália. Sou sócio da agência e temos alguns atletas importantes. Léo Duarte fomos nós que levamos. Temos atletas ainda Bonucci, Cuadrado, Suso, Correa da Lazio, Muriel da Atalanta… Estou numa nova missão e gostando. A minha base hoje é Milão.

 

Nunca me senti valorizado dentro do grupo da Seleção Brasileira. Enquanto isso, a minha história no Milan cada vez mais se fortalecia. Ali eu me sentia bem, valorizado. Abri mão das convocações para defender as cores do Milan. Não me arrependo. Foi uma escolha minha a dedicação 100% ao Milan

 

E nas horas vagas é chefe da delegação da seleção máster da Itália. Como foi a missão de reunir os jogadores finalistas da Copa de 1994 e trazê-los a Fortaleza para a festa dos 25 anos do tetra?

Foi um milagre. Teve sempre a CBF por trás, mas reunir essa delegação com 25 pessoas em 40 dias foi um tempo recorde. São pessoas do mundo inteiro. Muitos jogadores moram fora da Itália. Foi uma missão difícil, mas tivemos energia para reunir essas pessoas e o fator de ser um jogo histórico ajudou. Todos eles tiveram uma vontade muito grande de reviver o momento. O relacionamento, o tempo que joguei na Itália. Tenho relacionamento até de amizade com muitos deles. Tudo ficou mais fácil. Foi uma missão complicada.

 

Só faltou o Roberto Baggio…

O Roberto Baggio estava confirmado na primeira data, depois houve uma mudança no calendário, até mesmo em relação ao local, e aí ficou mais complicado. Baggio tem muitos compromissos profissionais. Agora, está muito voltado para a Netflix, que vai contar um pouco da vida dele. Aquela final da Copa de 1994 é o principal jogo da história dele. Mesmo sendo um capítulo negativo devido à derrota, ao erro do pênalti, tem uma importância histórica.

 

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