Jacozinho Um dos maiores ídolos do CSA, Jacozinho faz parte da comissão técnica do clube. Foto: Caio Lorena/CSA Um dos maiores ídolos do CSA, Jacozinho faz parte da comissão técnica do clube.

Entrevista: Jacozinho. Ele é ídolo do CSA, auxiliar do time alagoano, fez gol no Maracanã após passe de Maradona na festa de Zico e hoje é pastor

Publicado em Esporte

A história de Givaldo Santos Vasconcelos, o Jacozinho, um dos maiores ídolos da história do Centro Sportivo Alagoano (CSA), daria um livro. O sergipano de Gararu fez gol no Maracanã em 12 de julho de 1985. Impulsionado pelo repórter da tevê Globo Márcio Canuto, virou um dos convidados na festa do retorno de Zico da Udinese, da Itália, ao Flamengo. Substituiu Paulo Roberto Falcão durante a partida festiva, recebeu lançamento de Diego Armando Maradona no meio da defesa rubro-negra, deu drible da vaca no goleiro Cantarelle, ganhou de Figueiredo na corrida, estufou a rede, teve o nome gritado e continua famoso até hoje.

Aos 63 anos, Jacozinho não veio a Brasília para o duelo desta quarta-feira entre CSA e Flamengo, às 21h30, pela nona rodada do Brasileirão, mas continua cheio de história para contar. Depois da aposentadoria, trilhou caminhos certos e errados. Passou momentos difíceis, privações. Sem dinheiro e muito menos casa, chegou a morar numa rouparia que ficava em baixo da arquibancada do Imperatriz, no interior do Maranhão.

A trajetória também é marcada por aventuras. Numa delas, deu uma garrafada num chefe de drogas de Imperatriz durante a comemoração de um título conquistado com gol dele. O agredido sacou um revólver para matar o ponta-esquerda, mas testemunhas gritaram que o alvo era Jacozinho. Fã do jogador, o traficante abortou o disparo e poupou a vida do atleta.

A vida boêmia deu lugar a um Jacozinho convertido. Ele conta na entrevista a seguir ao blog que largou a bebida e decidiu seguir outro caminho. É pastor evangélico do Ministério Libertar desde 2017. Antes, rodava o Brasil contando o testemunho de vida. Largou até o ex-senador Magno Malta, de quem foi assessor parlamentar por um tempão na base do político, em Vitória (ES), para volta ao seu aconchego, Maceió. “Aqui, sou amado. As torcidas do CSA e do CRB me amam”, brincou, enquanto levava amigos para conhecer a paradisíaca Maragogi.

 

Cadê você, Jacozinho?

Hoje, eu moro em Maceió. Comecei no Sergipe no Brasileiro de 1976. Passei por vários clubes da Bahia e vim para o CSA. Morava em vários lugares desse Brasil, Santa Catarina, Espírito Santos, mas resolvi voltar para Maceió e hoje sou funcionário do CSA.

 

Por que não veio a Brasília para esse jogo entre CSA e Flamengo?

Nas viagens, vai o filho do Marcelo Cabo. Faço parte da comissão técnica.  Eu só assumo em caso de necessidade. Aliás, estou invicto. Comandei o CSA três vezes como interino e não perdi. Enfrentei o Cuiabá, o Sampaio Corrêa e o Dimensão num jogo do Alagoano. Joguei aí em Brasília umas quatro vezes na carreira, contra Brasília, Gama, Taguatinga… É uma cidade boa para jogar bola, só é muito seco. Continua assim? (risos). Fui muito aí também quando era assessor parlamentar do ex-senador Magno Malta. Mas eu ficava mais na base, em Vitória.

 

O maior presente do futebol continua sendo aquela partida histórica no Maracanã na volta do Zico, em 15 de julho de 1985?

Sim, a volta do Zico da Udinese para o Flamengo. Foi o jogo em que estavam os amigos dele. Só fera, inclusive Diego Armando Maradona. O mais bobo ali era eu (risos). Entrei faltando 20 minutos. Telê Santana era o técnico da nossa Seleção. Ele me viu trêmulo no banco de reservas e perguntou: “Tá nervoso, Jacozinho?”. Respondi que não e expliquei que, no Nordeste, a gente se aquece assim (risos). Entrei no lugar no Falcão. Recebi lançamento do Maradona, driblei o Cantareli (goleiro) e fiz um golaço com mais de 100 mil pessoas no Maracanã.

 

 

Jacozinho, Dida, Catanha e Flávio são os maiores ídolos da história do CSA?

Assim a torcida me considera aqui. Fui cinco vezes campeão alagoano. Dava muita sorte. Eu prometia e fazia. Em 2015, virei auxiliar técnico do time. Subimos várias divisões e hoje estamos na Série A do Campeonato Brasileiro.

 

Eu era praticamente um alcoólatra. Depois de um jogo em Imperatriz, uma final de campeonato se eu não estou enganado, bebi muito. No fim da farra, pelo que o pessoal me conta, eu não lembro de nada, acertei uma garrafada num chefão do tráfico de drogas. Só me contaram que ele ia me matar, puxou um revólver, e só não fez isso por que avisaram que eu era o Jacozinho. Quase morri. Eu falei que nunca mais ia beber e decidi ser evangélico. Deus me resgatou

 

Você aprova a venda do mando de campo para Brasília? Não seria melhor receber o Flamengo no Estádio Rei Pelé?

Não sabemos bem qual o motivo, mas, com certeza absoluta, deve ser financeiro. Se a diretoria acha que esse valor pode ajudar, então é bom. A torcida não gostou, principalmente os sócios. Mas temos que ver também o lado da gestão. Temos que estar ao lado.

 

Você ajudou a pacificar a torcida nesse episódio da venda do mando?

Sim, a crítica foi grande. Falei nos grupos (de WhatsApp aqui. Rapaz, aqui, graças a Deus, todo mundo me adora. Até a torcida do CRB. Sou um ídolo alagoano. Expliquei que a gente tem que acatar porque só a diretoria sabe onde o calo aperta.

 

Aposta em um bom resultado?

Acreditamos pelo menos no empate. O Marcelo Cabo (treinador) é muito inteligente. Ele sabe. O problema é que temos dois desfalques. Luciano Castán e o Naldo. Sem contar o Mateus Sávio, que não foi libertado pelo Flamengo para jogar. Mas nós temos substitutos à altura. Todos conhecem o nosso sistema de jogo. O argentino (Jonatan Gómez) que entrou fez bonito contra o Botafogo. Nós montamos um bom time para jogar no contra-ataque. A nossa briga é para permanecer na Série A. Se conseguirmos ficar vai ser difícil segurar no ano que vem.

 

Não sabemos bem qual o motivo (da venda do mando de campo para Brasília), mas, com certeza absoluta, deve ser financeiro. Se a diretoria acha que esse valor pode ajudar, então é bom. A torcida não gostou, principalmente os sócios. Mas temos que ver também o lado da gestão. Temos que estar ao lado

 

Quais são as lembranças de duelos contra o Flamengo?

Eu joguei três vezes contra o Flamengo. Arrancamos um empate aqui em Maceió quando eu defendia o CSA; vencemos no Maracanã quando eu estava no Santa Cruz e teve ainda um amistoso no tempo em que eu era do Imperatriz. Não fiz gol, mas dei assistências.

 

O Flamengo será comandado por um técnico interino. Abel Braga pediu para sair, Jorge Jesus assumiu, mas o time ainda será comandado pelo interino Marcelo Salles. Isso ajuda?

O currículo dele (Jorge Jesus) é grande. Tenho certeza de que ele vai se adaptar bem ao futebol brasileiro. Eu não mexeria no Abel Braga. Tem muito caminho rodado. Mas o futebol brasileiro tem disso. O treinador não tem culpa de nada, mas perde o cargo. O futebol brasileiro ainda vai sofrer muito com isso. Você faz um trabalho longo e aí trocam a filosofia.

 

Morei debaixo da arquibancada. O presidente do clube (Imperatriz) na época foi acusado de assassinato. Nós morávamos em um hotel. Nosso técnico era até o Toninho Baiano, ex-lateral do Flamengo. Houve uma crise grande e fiquei sem lugar para morar. Aí, recebi a chave da rouparia, que ficara na parte de baixo da arquibancada. Foi lá que morei por alguns meses até dar um novo rumo à minha vida.

 

Você era um ponta-esquerda veloz, driblador, difícil de segurar. Você ensina os jogadores?

O Edinho (volante) saiu daqui me elogiando muito porque ensinei algumas jogadas. Agora, de vez em quando ensino o Madson (atacante). Converso demais com ele. Vê meus vídeos no YouTube e diz assim para mim:” Só queria 10% da sua velocidade e habilidade para driblar”. O Madson meu deu um par de chuteiras novo de presente. O pessoal tem o maior respeito por mim. O Marcelo Cabo (treinador) me dá autoridade para ajudar nas cobranças de falta e de escanteio. Quando posso, sempre dou a minha opinião. Afinal, o nosso lema, que está no escudo do CSA, é União e Força.

 

A sua história de vida é muito bonita. Quando decidiu virar pastor evangélico?

Virei pastor pela dor. É o pior caminho (silêncio). Deus me resgatou de 1994 para 1995. Eu era praticamente um alcoólatra. Depois de um jogo em Imperatriz, uma final de campeonato se eu não estou enganado, bebi muito. No fim da farra, pelo que o pessoal me conta, eu não lembro de nada, acertei uma garrafada num chefão do tráfico de drogas. Só me contaram que ele ia me matar, puxou um revólver, e só não fez isso por que avisaram que eu era o Jacozinho. Quase morri. Eu falei que nunca mais ia beber e decidi ser evangélico. Deus me resgatou. Fui ordenado pastor há dois anos. Eu e a minha esposa (Sueli). Somos muito felizes.

 

Acreditamos pelo menos no empate (contra o Flamengo). O Marcelo Cabo (treinador) é muito inteligente. Ele sabe muito. Nós montamos um bom time para jogar no contra-ataque. A nossa briga é para permanecer na Série A. Se conseguirmos ficar vai ser difícil segurar no ano que vem

 

Chegou a morar embaixo da arquibancada em Imperatriz?

Sim, já morei debaixo da arquibancada. O presidente do clube na época foi acusado de assassinato. Nós morávamos em um hotel. Nosso técnico era até o Toninho Baiano, ex-lateral do Flamengo. Houve uma crise grande e fiquei sem lugar para morar. Aí, recebi a chave da rouparia, que ficara na parte de baixo da arquibancada. Foi lá que morei por alguns meses até dar um novo rumo à minha vida.

 

Conta as suas experiências para os jogadores?

Sim, sou conselheiro deles. Quando estão chateados, falam comigo. Tem uma sala no clube onde converso com eles, tento ajudá-los. O mais forte é o meu testemunho, que é muito forte. Agora, mesmo, fui convidado para pregar nos Estados Unidos.  Deus trabalha muito forte nos lugares em que eu vou pregar.

 

Como é o seu relacionamento com o ex-senador Magno Malta?

Trabalhei com ele uns 15 anos em Vitória, no Espírito Santo, mas larguei ele lá e voltei para Maceió. Ele não entendeu muito, mas era uma coisa que eu pedia a Deus, voltar para Maceió. Eu era assessor parlamentar dele em Vitória, braço direito dele, homem de confiança, fazia de tudo. Eu queria voltar para Maceió e ele não entendeu muito quando eu vim.

 

 

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