Direto de Berlim: Sinfonia do destino. Uma crônica do quinto título do Barcelona na Liga dos Campeões da Europa

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A primeira sinfonia do Barcelona foi em Londres (1992). A segunda, em Paris (2006). A terceira, em Roma (2009). A quarta teve bis na terra da rainha (2011). A quinta não poderia ser em um palco menos clássico — a capital da Alemanha. O país de Beethoven. A quinta sinfonia dele chama-se “Do destino”. Tem quatro movimentos, é a primeira escrita em tonalidade menor e lembrada como um monumento da criação artística. Tudo a ver com o que se viu, ontem, no lendário Estádio Olímpico, na vitória catalã por 3 x 1 sobre a Juventus.

O concerto consagrou um menino chamado Neymar. Aos 23 anos, ele se apresentará ao técnico Dunga para a Copa América como artilheiro da Liga dos Campeões da Europa. Dez gols em um time cujo maestro é Lionel Messi. Eleito quatro vezes o melhor do mundo, o argentino terá Neymar e Cristiano Ronaldo como adversários na final da Bola de Ouro. O argentino e o português se alternam no poder desde 2008. Antes deles, Kaká, goleador da Champions em 2007, com os mesmos 10 gols do ex-santista, mas com a camisa do Milan, foi eleito número 1. Precoce, Neymar tinha a Libertadores. Agora, a tríplice coroa. Além da Liga dos Campeões, festejou o Campeonato Espanhol e a Copa do Rei em 2015/2016. Antes, levou o Santos à glória na Libertadores.

Das cinco sinfonias do Barça, quatro foram nos últimos 10 anos, ou seja, de 2006 para cá. A era de Lionel Messi, iniciada por Ronaldinho Gaúcho quando a Pulga ainda era reserva do time de Frank Rijkaard, está consolidada pelo sucessor Messi, favorito à Bola de Ouro.

A composição da quinta sinfonia do Barcelona teve quatro movimentos dignos de Beethoven. O primeiro, de tensão denunciada pela tomada de iniciativa da Juventus. O drama não chegou ao extremo porque o time catalão viu seus zagueiros retomarem a atenção. O Barça retomou a batuta do concerto.

O segundo andamento, como na sinfonia de Beethoven, revelou solenidade à troca de passes iniciada por Messi. A virada de bola passou por Alba, Neymar, Iniesta e chegou aos pés do croata Ratkitic. Tudo como previa a partitura do maestro Luis Enrique. No lado da plateia da Juventus, em maioria no teatro, percebia-se uma marcha fúnebre. O silêncio serviu para devolver emoção e beleza ao espetáculo. O Barcelona desperdiçou chances de matar o adversário e pagou caro.

O terceiro andamento contraiu a torcida do Barcelona. A Juventus subiu o tom do jogo com brio e suspense. Tévez finalizou, Ter Stegen defendeu parcialmente e Morata devolveu tensão ao duelo. A Velha Senhora poderia ter virado a partida em alguns momentos de bravura. Neymar desafinava em sua primeira final. Abusava dos maus improvisos e só não puniu o time porque os outros dois tenores do ataque estavam  ligados.

Grand finale

No ato da magnificência, o spalla da orquestra de Luis Enrique bateu no peito, assumiu as cordas e retomou o andamento do título. Messi carregou a bola com espaço, invadiu a área e chutou cruzado. Buffon soltou a bola no gramado em que havia sido tetracampeão mundial na Copa de 2006 e Luis Suárez não perdoou. Neymar anotou o terceiro, mas o árbitro anulou alegando um toque na mão do brasileiro. Não fez falta. Pedro restituiu com um passe milimétrico. O ex-santista chutou cruzado e decretou o grand finale. Tirou a camisa e correu para a galera. A quinta sinfonia do Barça estava concluída com aplausos de pé e gritos de bravo, bravo…

JUVENTUS 1

Buffon; Lichtsteiner, Barzagli, Bonucci e Evra (Coman); Pogba, Pirlo, Marchisio e Vidal (Pereyra); Tevez e Morata (Llorente)

Técnico: Massimiliano Allegri

BARCELONA 3

Ter Stegen; Daniel Alves, Piqué, Mascherano e Jordi Alba; Busquets, Rakitic (Mathieu) e Iniesta (Xavi); Neymar, Messi e Suárez (Pedro)

Técnico: Luis Enrique

Gols: Rakitic, aos 3 minutos do primeiro tempo; Morata, aos 9, Suárez, aos 19, e Neymar, aos 50 minutos do segundo tempo

Cartões amarelos: Vidal, Pogba e Suárez

Renda e público: não divulgados

Árbitro: Cüneyt Çakir (Fifa/Turquia)