Direto de Berlim: depois da final da Liga dos Campeões, uma inesquecível maratona ao lado de Zico em busca de táxi na capital alemã

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A saga de Zico publicada nesta segunda no Correio

O 7 x 1 completa nesta segunda-feira 11 meses, mas a Alemanha não para de dar uma canseira nos brasileiros. A nova vítima dos nossos carrascos na Copa de 2014 é Arthur Antunes Coimbra, o Zico. O Correio acompanhou a saga do Galinho em busca de um táxi que o levasse do Estádio Olímpico ao hotel, na madrugada de domingo, depois da vitória do Barcelona por 3 x 1 sobre a Juventus na final da Liga dos Campeões. Simplesmente não havia nenhum serviço disponível nos arredores do palco da decisão do torneio de clubes mais badalado do mundo. Nem mesmo as solicitações por telefone eram respondidas. Diante do W.O., o maior ídolo da história do Flamengo decidiu apostar numa fórmula carioca. Caminhar até uma rua principal na tentativa de parar um carro na base do grito e de gestos. Começava uma divertida saga…

  De terno, gravata e sapato social, Zico andou por cerca de 3km. Em forma, não mostrou nenhum cansaço. Bem-humorado, parou para atender a todos os pedidos de selfie de torcedores do Barcelona, da Juventus, e de jornalistas italianos que o reconheciam do tempo em que ele defendeu a Udinese. Enquanto posava, o Galinho era um olho no padre e outro na missa. Não deixava de mirar a possibilidade de um taxi passar por ali. Humilde, não deu carteirada em nenhum momento para dizer o velho “sabe com quem está falando”.   A procissão em busca de transporte invadiu a madrugada. Zico e um amigo gritavam “táxi” a cada carro que passava acelerando. Ninguém parava. Carros passavam buzinando. Alertavam para o perigo de caminhar às margens da via, mas a maratona continuava. Uma viatura da polícia alemã chegou a parar. Alertou para o perigoso trânsito. Ao saber que o problema era táxi, as autoridades limitaram-se a dizer: “Aqui é difícil, mesmo, tente por ali”, apontou um deles, indicando uma via marginal menos movimentada. Era mais de 2h da manhã…   Zico obedeceu a polícia. Parado na esquina enquanto um amigo tentava resolver o perrengue por telefone, apoiou o cabide do paletó em um depósito de coleta seletiva de lixo e foi dar uma olhadinha no celular em busca de notícias do jogo entre Flamengo e Chapecoense pelo Campeonato Brasileiro. “A última vez que eu vi estava 1 x 0”, contou.  Em um raro momento de distração, tomou um baita susto. Na escuridão, um catador de lixo não notou a presença do Galinho e quase fez gol contra. Quando Zico percebeu que ele recolheria a roupa, avisou em inglês: “No, no, please”. O recolhedor de produtos recicláveis recuou e pediu desculpas.

A paródia, o turco e o alívio

Divertindo-se com a situação, Zico posou até de compositor.  Chegou a fazer uma paródia com o hit Decime que se siente, da torcida argentina, arrancando risos. Eram raros, mas taxis passavam pra lá e pra cá. Porém, todos ignoravam berros e gestos. Em meio ao drama, eis que surge um turco em um mercedes preto. Não era táxi. O homem se oferece para resolver o problema por 70 euros, um valor absurdo diante da distância e do passageiro VIP.   Depois de muita negociação entre o amigo de Zico e o turco, a corrida foi fechada por 50 euros. Era aquilo ou ficar parado ali até amanhecer. Zico  treinou o Fenerbahçe. Levou o time às quartas de final da Liga dos Campeões em 2008. Era isca perfeita para a solução do drama. Mas o turco não o reconheceu. Só enxergou cifras. Nem quis saber quem estava conduzindo. No máximo perguntou de que país eram todos.  Ouviu “Brasil”, e continuou acelerando.   No banco do carona, Zico chegou a puxar papo sobre o futebol turco. Mas o alienado condutor estava mesmo apressado em deixar os passageiros e colocar a mão na grana. Aliviado por ter chegado ao destino, Zico se despediu ironizando o perrengue. “Depois dizem que no Brasil tem problema de mobilidade”, riu, atravessando a pista quase na hora de o galo cantar – era mais de 3h da manhã – rumo ao hotel. De lá, onde finalmente havia táxi, os demais passageiros continuaram as outras sagas.