Brilho na organização da Copa da Ásia, título e A-League com média de público de Brasileirão bombam sonho da Austrália de sediar Mundial

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Austrália: competência na organização e na conquista da Copa da Ásia 2015

Nada é por acaso. Nem mesmo o inédito título da Austrália na Copa da Ásia, neste sábado, na emocionante vitória por 2 x 1 sobre a Coreia do Sul. Os Cangurus venciam a decisão até os 45 minutos do segundo tempo, mas sofreram o gol de empate e precisaram da prorrogação para soltar o grito de campeão da garganta. A conquista é uma espécie de fim do complexo de vira-lata. Durante muito tempo, a Austrália foi menosprezada por colecionar cinco títulos na fraquíssima Copa da Oceania diante de bambalas e arimateias como a Nova Zelândia, Samoa, Nova Caledônia, Papua Nova Guiné, Ilhas Salomão, Taiti…

A mudança geográfica no mapa-mundi da Fifa, com a ida da Austrália para a Confederação Asiática, obrigou o país a elevar o nível do seu jogo. E os Cangurus conseguiram finalmente dar o salto de qualidade. Em três participações na Copa da Ásia, a Austrália chegou a duas finais. Em 2011, perdeu o título para o Japão. Na segunda tentativa, não vacilou e derrotou a Coreia do Sul, dona da melhor campanha de um país do continente na Copa do Mundo – o quarto lugar em 2002.

O título inédito é apenas a prova mais recente de uma lenta, mas contínua evolução. Em 2006, a Austrália eliminou o bicampeão mundial, Uruguai, na repescagem mundial das Eliminatórias, e retornou à Copa do Mundo depois de 32 anos. A última participação havia sido em 1974. A seleção passou da primeira fase em uma chave que tinha Brasil, Croácia e Japão. Nas oitavas de final, caiu de pé diante da Itália. A Squadra Azzurra venceu com gol de pênalti.

A Austrália também esteve no Mundial de 2010, na África do Sul, e no Brasil, no ano passado. Nas duas ocasiões, o país não foi além da fase de grupos, mas o constante intercâmbio tem feito a diferença. Não importa se a Austrália apanhou de 6 x 0 da Seleção Brasileira, no Mané Garrincha, em setembro do ano passado. Eles querem aprender.

Humilde, o treinador Ange Postecoglu chegou a dizer que espera ver um dia a Austrália jogando como o Barcelona e o Bayern de Munique do ídolo dele – Pep Guardiola. Entre a ficção e a realidade há um hiato, mas sonhar não custa nada, mesmo tendo na prancheta um elenco cintura dura com apenas dois jogadores que atuam em times de ponta da Europa: o matador Robie Kruse (Bayer Leverkusen) e o goleiro Mitchell Langerack (Borussia Dortmund). O trunfo do técnico greco-australiano é o fato de ter comandado a seleção Sub-20 por sete anos. Ou seja, ele sabe como ninguém quem são os talentos e como encaixá-los no processo de evolução técnico e tático da Austrália.

Aprender também requer a criação de uma liga nacional. Fundada em 2004, A-League é uma realidade. Dez times disputam o título a cada temporada. A competição é transmitida para o país por redes de tevê de ponta como a FOX Sports, a SBS e a Sky Sports — três braços fortes na divulgação do esporte. A média de público do torneio na temporada de 2014/2015 é de 14.176, bem próxima do Campeonato Brasileiro, que registrou 16.555 no ano passado. Detalhe: o pico da a-League é 15.348 na edição de 2007/2008 do torneio.

Tal como ocorre no desenvolvimento da Major League Soccer (MLS), dos Estados Unidos, por exemplo, a A-League tem apostado em astros veteranos para atrair o público. O italiano tetracampeão mundial Alessandro Del Piero passou por lá. Dwight Yorke, ex-Manchester United, e Emile Heskey também ajudaram a plantar a semente no futebol australiano.

A conquista inédita vale também como um recado ao presidente da Fifa, Joseph Blatter, que participou, ontem, da cerimônia de premiação, em Sidney. A Oceania é a última fronteira a ser conquistada pela Copa do Mundo. O torneio já foi disputado em quase todos os continentes do planeta. Falta justamente o território que recebeu duas vezes os Jogos Olímpicos, em Melbourne (1956) e Sidney (2000). A irretocável organização da Copa da Ásia prova: o país do rúgbi, do críquete, do golfe, do surfe e dos esportes de inverno caiu nas graças do futebol e merece um Mundial. Quem sabe em 2026.

Parabéns, Austrália!