Pedro Goncalves Pedro Gonçalves deve acabar com o Patrocínio ao Futebol, em vigor desde 2012. Foto: Ed Alves/CB/DA.Press Pedro Gonçalves deve acabar com o Patrocínio ao Futebol, em vigor desde 2012.

Do privado ao público: banco do novo presidente da Caixa já emprestou dinheiro a clubes; agora, ele pode arrancar estatal da camisa de 24 times

Publicado em Esporte

Empossado nesta segunda-feira no cargo de presidente da Caixa Econômica Federal, o economista Pedro Guimarães já ajudou indiretamente a “salvar” as finanças de clubes de ponta. Flamengo e Fluminense, por exemplo. O banco de investimentos Brasil Plural, do qual o executivo é (ou era) sócio-diretor antes de aceitar o convite do ministro da Fazenda, Paulo Guedes, emprestou dinheiro aos dois times. Inclusive está na lista de credores, principalmente, do endividado tricolor. O mundo deu voltas, e Guimarães deve ser o responsável pelo corte de R$ 25 milhões do orçamento rubro-negro. O montante diz respeito ao patrocínio máster do banco estatal exposto na camisa da equipe carioca e de outras 23 do país.

Pedro Guimarães acaba de passar para o outro lado do balcão. Empoderado, tem tudo para virar o vilão de 24 clubes do futebol brasileiro. Metade da Série A.  Portanto, basta ele usar a caneta e confirmar a tendência sinalizada pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, ou seja, o fim da aplicação de R$ 153 milhões no patrocínio dos times e de competições como as copas do Nordeste, Verde e campeonatos paraibano, potiguar, sergipano, rondoniense e sul-mato-grossense.

Como publicou o blog em 14 de dezembro de 2018, Bolsonaro pretende revisar o investimento em publicidade e patrocínio da Caixa. “Tomamos conhecimento de que a Caixa gastou cerca de R$ 2,5 bilhões em publicidade e patrocínio neste último ano. Um absurdo! Assim como já estamos fazendo em diversos setores, iremos rever todos esses contratos, bem como do BNDES, Banco do Brasil, SECOM e outros”, escreveu em 13 de dezembro no Twitter, em resposta a um relatório do Tribunal de Contas da União publicado no fim de novembro.

O texto do TCU aponta “irregular prorrogação de contratos de patrocínio”. Acrescenta que os acordos “não se constituem em serviço de natureza contínua”. Os acordos anuais vencem entre dezembro e abril, período em que são (ou não) renovados. Dos 20 clubes da primeira divisão em 2019, 12 são turbinados pelo repasse da Caixa: Atlético-MG, Athletico-PR, Avaí, Bahia, Botafogo, Ceará, Cruzeiro, CSA, Flamengo, Fortaleza, Goiás e Santos.

Curiosamente, Pedro Guimarães, o responsável por afiar e usar a tesoura, aprovou num passado recente o repasse de dinheiro do banco privado Brasil Plural para as contas da dupla Fla-Flu. O banco do qual é (ou era) sócio até ofereceu projetos de parceria. Na gestão de Eduardo Bandeira de Mello, o Conselho de Administração do Flamengo aprovou ao menos dois empréstimos ao Plural. Na época, o vice-presidente de finanças rubro-negro, Cláudio Pracownik, ajudou a fazer o meio de campo. Afinal, ele também é sócio minoritário e diretor da instituição financeira.

“Tomamos conhecimento de que a Caixa gastou cerca de R$ 2,5 bilhões em publicidade e patrocínio neste último ano. Um absurdo! Assim como já estamos fazendo em diversos setores, iremos rever todos esses contratos, bem como do BNDES, Banco do Brasil, SECOM e outros”

Jair Bolsonaro, presidente da República

Em reconstrução financeira na época, o Flamengo turbinou as finanças ao receber R$ 3 milhões em 2015; e mais R$ 10 milhões em 2016. A receita equilibrou o orçamento do clube. O primeiro deposito foi aplicado no pagamento dos salários e encargos do departamento de futebol. O segundo ajudou a reforçar o elenco no início da temporada 2017 — ano em que o técnico Muricy Ramalho assumiu a prancheta rubro-negra.

Cláudio Pracownik chegou a explicar publicamente os contratos. “Não sou dono do banco, sou minoritário aqui, tenho 2% das ações. Buscamos outras opções no mercado, mas os outros bancos teriam que analisar o balanço do Flamengo, ia demorar muito para sair o pagamento.  A taxa de colocação dos outros bancos geraria de 2% a 2,5%. Conversei com outros sócios da Brasil Plural, e a maioria deles é de rubro-negros, nos reunimos com o comitê de crédito e conseguimos o aval. Em vez de cobrar 2,5% de taxa de colocação, conseguimos que o Brasil Plural cobre 0,5%, uma operação abaixo do valor de mercado. Conseguimos também que o juros do CDI (Certificado de Depósito Interbancário) ficasse em 150%. No mercado, queriam 175%. O Flamengo só vai pagar 150% de CDI se não pré-pagar antes”, explicou Pracownik, em 2016, em entrevista ao portal globoesporte.com.

Em entrevista ao blog  antes de deixar a presidência do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello avaliou a possibilidade de os clubes perderam o a receita da Caixa. “Acho que o patrocínio deve sempre ser avaliado segundo o seu retorno, independentemente de se tratar de empresa pública ou privada. Há empresas especializadas em calcular o retorno que a exposição da marca proporciona ao patrocinador”, argumentou em 14 de dezembro. Questionado sobre qual seria o impacto da perda do apoio da Caixa no orçamento rubro-negro, o dirigente respondeu: “Nenhum. Certamente teremos opções”. O Corinthians, por exemplo, não achou anunciante máster depois do rompimento com a Caixa.

Fundado em 2009, o banco Brasil Plural também emprestou dinheiro e tentou parcerias com Fluminense e Grêmio. Em 2017, apresentou a ideia original de um fundo de investimento ultraconservador administrado pela instituição financeira. A ideia era que os tricolores se engajassem na aplicação, que teria um percentual direcionado ao clube carioca. A ideia também foi apresentada ao Flamengo e ao Grêmio.

A situação do Fluminense é caótica. O tricolor acumula dívidas bancárias de mais de R$ 100 milhões. Há empréstimos de instituições financeiras como XXII Capital, BMG, BCV, Lecca e o citado Banco Plural. E há empréstimos de não financeiras.

 

O ranking de patrocínio com a Caixa em 2018*

1. R$ 25 milhões – Flamengo
2. R$ 14 milhões  – Santos
3. R$ 10 milhões – Atlético-MG, Botafogo e Cruzeiro
6. R$ 6, milhões – Atlético-PR, Bahia e Vitória
9. R$ 5 milhões – Paraná e América-MG
12. R$ 4,0 milhões – Ceará, Ponte Preta e Avaí
14. R$ 3,2 milhões – Paysandu
15. R$ 3,1 milhões – Londrina
16. R$ 3,0 milhões – Coritiba
17. R$ 2,8 milhões – Sport (4 meses)
18. R$ 2,4 milhões – Fortaleza e Vila Nova
20. R$ 2,3 milhões – Criciúma
21. R$ 2 milhões – Atlético-GO
22. R$ 1,5 milhões – CRB e CSA
24. R$ 1,3 milhão – Sampaio Corrêa

* Considerando os valores fixos de cada clube. A Caixa prevê bônus pela conquista de alguns títulos. 

 

 

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