Clubes 10 dos 20 times da elite já estiveram com Bolsonaro. Atlético e Goiás descartam visita. Foto: Marcos Correa/PR Dos 20 clubes da Série A, 10 já estiveram com Bolsonaro. Atlético-GO e Goiás não planejam visita. Foto: Marcos Correa/PR

As opiniões de Atlético-GO e Goiás: saiba o que os clubes do Centro-Oeste na Série A do Brasileirão pensam sobre a MP 984/2020

Publicado em Esporte

A Medida Provisória 984/2020 tem mobilizado caravanas de cartolas rumo ao Palácio do Planalto para encontros com o presidente da República, Jair Bolsonaro; deputados e senadores no Congresso Nacional. Dos 20 times que disputarão a Série A neste ano, 10 passaram recentemente por Brasília com seus presidentes e/ou homens fortes. A “romaria” começou com Flamengo e Vasco e ganhou novos “fiéis” nesta semana. Bahia, Ceará, Coritiba, Fortaleza, Internacional, Palmeiras, Athletico-PR e Santos foram recebidos na capital pelo chefe do Executivo.

Representantes da região Centro-Oeste na primeira divisão do Campeonato Brasileiro nesta temporada, Goiás e Atlético-GO observam a movimentação a distância. O blog conversou com representantes dos dois times para saber o posicionamento dos dois times em meio à queda de braço que culminou na última quinta-feira no rompimento do Grupo Globo com o Campeonato Carioca. A detentora dos direitos de transmissão não levará mais a competição ao ar.

Em entrevista ao blog, o vice-presidente jurídico do Goiás, Dyogo Crossara, mostrou parcimônia ao falar sobre o debate e descartou, ao menos por enquanto, a ida do Goiás ao Palácio do Planalto.

“O Goiás tem uma posição muito clara de que isso pode ser importante numa discussão futura. Precisa ficar muito claro nessa discussão toda que os contratos vigentes não podem ser atingidos sob pena de você criar uma verdadeira bagunça”, alerta Crossara.

O Goiás é um dos times da elite nacional mais dependentes das cotas de transmissão. “A receita da tevê para um clube como o nosso representa de 50% a 55% de toda a arrecadação. É necessário que a gente tenha segurança nesses repasses até para fazer qualquer investimento no orçamento anual. Dessa forma, não dá para se imaginar um cenário de insegurança num Campeonato Brasileiro, por exemplo”, argumenta Crossara.

Ele conta que apresentou recentemente uma sugestão aos clubes. “Defendi que a MP precisa aprimorar uma possível regra de transição entre um modelo e outro. Quanto a ir a Brasília, o Goiás não tem essa ideia. Pode ser que, daqui a pouco, comecemos a discutir isso com a bancada federal , deputados e senadores de Goiás, mas não tem nenhuma previsão de ir a Brasília discutir esse tema com o presidente da República, acrescenta o vice-jurídico esmeraldino.

Promovido à Série A no ano passado, o Atlético-GO também está na fase de fazer o “reconhecimento do gramado” antes de entrar de vez no campo do jogo político.

“O nosso posicionamento é que um clube não negocie sozinho, mas sempre coletivamente. Não há intenção do clube de ir a Brasília debater o tema com o Jair (Bolsonaro). O debate é profundo e deve ser feito com os deputados”, avalia em entrevista ao blog o diretor administrativo do rubro-negro goiano, Marcos Egídio.

“Em princípio, nós somos favoráveis, depois a gente pode negociar em bloco, não vejo problema”, endossa o presidente executivo Adson Batista.

Goiás e Atlético-GO acompanham com atenção a ruptura entre o Grupo Globo e o Campeonato Carioca e os possíveis efeitos colaterais em outros estaduais, como o Goiano. “Isso pode representar mais do que uma simples ruptura, mas sim o espelho de um momento que a gente pode passar a ter. Talvez, esses contratos firmados recentemente no Brasil são uma última geração desse tipo. A gente, hoje, tem uma plataforma nova, que é o streaming, que começa a ter um retorno financeiro, isso tem sido provado a cada dia, que aumenta e modifica essa forma de contratação. A gente caminha para um novo momento”, opina Crossara.

Entretanto, o vice-jurídico alviverde pondera. “O streaming tem que estar atrelado a uma possibilidade de ir contra a remuneração, que hoje temos com a tevê. Nenhum modelo no mundo funciona só com streaming. Agora, é evidente que os clubes não podem ficar reféns de um interesse ou de outro. Precisam ter uma dependência cada vez menor da tevê e criar outras opções de recursos para que possam se fortalecer”, prega o dirigente.

O Atlético-GO deixa claro a preferência por uma reformulação no calendário. “Nossa vontade é que tenhamos um Brasileiro o ano todo. Nenhum problema para nós se a Globo deixar de patrocinar o Goiano. Em relação ao Carioca, não podemos manifestar porque não conhecemos os motivos”, pondera Marcos Egídio.

Entenda a MP 984/2020

Editada pelo presidente Jair Bolsonaro, a Medida provisória batizada de “MP do Mandante” ou “MP do Flamengo” foi editada e publicada em 18 de junho numa edição extra do Diário Oficial da União. O texto trata sobre Direitos de transmissão e duração do contrato de trabalho de atletas durante a pandemia da covid-19 e altera as regras do direito que os clubes têm de autorizar a transmissão por radiodifusão das partidas. No texto anterior, essa prerrogativa era partilhada entre os clubes que participassem da partida, ou seja, eles deveria negociar conjuntamente a exibição.

Os 10 times da Série A que já estiveram com Bolsonaro no Palácio do Planalto: Flamengo, Vasco, Bahia, Ceará, Coritiba, Fortaleza, Internacional, Palmeiras, Athletico-PR e Santos.

Na regra inserida pela MP, o direito de autorizar pertence apenas ao mandante. O texto também indica mudanças no pagamento dos direitos de arena aos jogadores. O documento está em análise na Câmara dos Deputados. O prazo inicial de vigência é de 60 dias, e será prorrogado automaticamente por igual período, caso não tenha sua votação concluída nas duas Casas do Congresso Nacional. Se não for votada em até 45 dias, contados de sua publicação, entrará em regime de urgência na Casa em que se encontrar (Câmara ou Senado), ficando sobrestadas, até que se termine a votação, todas as demais deliberações legislativas da Casa em que estiver tramitando.

A MP provocou a ruptura do contrato da Globo com o Campeonato Carioca. Como o Flamengo não vendeu os direitos de transmissão dos jogos do clube para a emissora, decidiu levar o jogo contra o Boavista ao ar no YouTube pela Fla TV após uma guerra de liminares. O Vasco, que esteve em Brasília com o arquirrival em visita recente ao presidente Jair Bolsonaro, também passou a vitória por 1 x 0 sobre o Madureira no canal Vasco TV. Em nota, a Globo alegou falta de respeito ao contrato e anunciou que não transmitirá mais os jogos do Estadual. O torneio terá dois confrontos neste fim de semana pelas semifinais da Taça Rio, o segundo turno do Carioca.

 

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