A coluna Máquinas do Tempo desta segunda no Correio: Pior ataque do mundo faz 20 anos

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Romário, Edmundo e Sávio: ataque dos sonhos do Flamengo em 1995

Crédito da imagem: Divulgação/Flamengo

A comissária de bordo contava 1, 2, 3 como se fosse regente de um coral e os passageiros da falida empresa aérea Varig cantavam o jingle que virou moda em 1995: “560km, 560km, pare um pouquinho, descanse um pouquinho, 550km”. Era o ano do centenário do Flamengo e o bem sacado filme publicitário deu asas à imaginação dos rivais depois que o presidente rubro-negro, Kleber Leite, anunciou a formação do melhor ataque do mundo para o Brasileirão: Sávio, Romário e Edmundo.

Na próxima quinta-feira, o pior ataque do mundo completará 20 anos. Em 27 de agosto de 1995, Sávio, Romário e Edmundo jogaram juntos pela primeira vez uma partida oficial. Antes disso, o trio disputou um amistoso contra o Guarani e excursionou pela Ásia e a Europa. O primeiro teste a vera rolou contra o Bragantino, em São Januário. Desiludida após a perda do Carioca para o Flu naquele gol de barriga do Renato Gaúcho, a torcida não deu bola para a badalada comissão de frente: 6.625 pagantes na vitória por 2 x 1, gols de Edmundo e Romário.

O que aparentava ser o início perfeito de um ataque dos sonhos virou pesadelo. A contar da partida contra o Bragantino, o Fla disputou 36 partidas oficiais no segundo semestre de 1995. Sávio, Romário e Edmundo atuaram juntos em 12 jogos. Um terço! Ciúmes, falta de técnico, de time do meio de campo para trás e o grave acidente protagonizado pelo Animal, no Rio, no fim daquele ano de 1995, transformaram o investimento na maior piada do ano.

Das 12 partidas com Sávio, Romário e Edmundo juntos, o Flamengo venceu três, empatou cinco e perdeu quatro. Aproveitamento de 38,8%. Uma estatística, porém, mostra que o ataque tinha, sim, tudo para ser o melhor do mundo. Na dúzia de jogos com o trio em campo, o rubro-negro balançou a rede 13 vezes e sofreu 14. Romário fez sete; Edmundo, três; e Sávio, nenhum. Caçula entre os três, o prata da casa Sávio se intimidou jogando ao lado do Baixinho, eleito melhor do mundo em 1994, e do Animal, que havia conquistado tudo pelo Palmeiras.

A culpa de o melhor ataque do mundo virar pior foi do presidente Kleber Leite. Na tentativa de formar um time de galáticos, esqueceu do equilíbrio. O ataque tinha Sávio, Romário e Edmundo, mas, na retaguarda, estavam Pingo, Márcio Costa, Agnaldo, Ronaldão, Fabiano, Lira… Tudo para não dar certo.

O técnico Edinho não deu jeito no time, que caiu no colo do radialista Washington Rodrigues. E o Apolinho quase salvou o ano. Rubro-negro, levou o Flamengo à final da Supercopa dos Campeões da Libertadores usando a “pedagogia do malandro”. Deu liberdade a Sávio, Romário e Edmundo e disse aos homens do setor defensivo: “Vocês são a minha Swat. Nenhum adversário vai passar pela tropa de choque”. Deu receitas de higiene e até de relações humanas. “A partir de agora, ninguém escova os dentes, se penteia ou faz a barba. Vamos assustar os caras na entrada em campo. Quando o adversário estender a mão e desejar boa sorte, vocês não os cumprimentem e digam: ‘boa sorte é o c…”.

Assim, como se fosse um time de pelada, o Flamengo chegou à decisão da Supercopa e perdeu a última chance de conquistar um título no ano do centenário para o Independiente, da Argentina. Àquela altura, não havia mais ataque dos sonhos. O Animal se recuperava de um grave acidente. Sávio, Romário e Edmundo atuaram juntos pela última vez em 29 de outubro de 1995, no Maracanã, em um empate por 0 x 0 com o Vasco. No fim do ano, Edmundo foi negociado a contragosto com o Corinthians.

TATICAMENTE FALANDO…

FLAMENGO  1995

Sistema tático: 4-3-3

Paulo Cesar;

Fabiano, Agnaldo, Ronaldão e Lira;

Pingo, Márcio Costa e Djair;

Edmundo, Romário e Sávio

Técnico: Edinho (depois Washington Rodrigues)

Deu errado

Em um time desequilibrado taticamente, Sávio, Romário e Edmundo só funcionaram nos amistosos da pré-temporada. Em sete jogos, venceram quatro, empataram um e perderam dois. Romário fez cinco gols, Edmundo quatro e Sávio um nas passagens por Ásia e Europa, aproveitamento de 61,9%, contra 38,8% em jogos oficiais.

Campeão de nada com ataque dos pesadelos

BARCELONA 2015

Sistema tático: 4-3-3

Ter Stegen;

Daniel Alves, Piqué, Masherano e Alba;

Busquets, Rakitik e Iniesta

Messi, Luis Suárez e Neymar

Técnico: Luis Enrique

Deu certo

O Barcelona que conquistou o Campeonato Espanhol, a Copa do Rei e a Liga dos Campeões da Europa na última temporada tinha o melhor ataque do mundo — Messi, Suárez e Neymar fizeram 122 gols juntos — mas tinha o que faltou ao Flamengo em 1995: jogadores à altura do trio de ataque no gol, na zaga e no meio de campo. Além de equilíbrio e organização tática.

Campeão de tudo com ataque dos sonhos