A coluna Máquinas do Tempo desta segunda no Correio: No dia da Independência, um técnico estrangeiro comanda a Seleção Brasileira

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A Seleção Brasileira jamais perdeu no Dia da Independência. São seis jogos em 7 de setembro. Seis vitórias. A última delas sobre a Austrália, em 2013, no novo Mané Garrincha, por 6 x 0. Um ano antes, a vítima havia sido a África do Sul, no Morumbi, por 1 x 0. Em 2008, 3 x 0 em cima do Chile dentro do Estádio Nacional de Santiago — sob o comando de Dunga — nas Eliminatórias para a Copa de 2010. Na seletiva para o Mundial de 2006, triunfo por 2 x 1 diante da Colômbia, em Barranquilla. Em 1999, um show de bola diante da Argentina (4 x 2) no Beira-Rio, em Porto Alegre.

Mas nenhuma exibição no Dia da Independência foi tão especial quanto a primeira. Em 7 de setembro de 1965, ou seja, há exatos 50 anos, Nelson Ernesto Filpo Núñez entrava para a história como o primeiro técnico estrangeiro a dirigir sozinho a Seleção. Representado pelo Palmeiras do goleiro ao massagista, o Brasil goleou o Uruguai por 3 x 0, na inauguração do Mineirão.

A CBF se chamava, à época, CBD. A festa era do futebol mineiro, mas Cruzeiro e Atlético-MG foram barrados no baile. A entidade máxima preferiu convidar o Palmeiras. O técnico alviverde era o argentino Filpo Núñez. Nascido em 19 de agosto de 1920, em Buenos Aires, o hermano comandou um dos melhores times da nossa história — a Academia do Palmeiras. Filpo Núñez desembarcou no país por amizade e foi ficando… Como Juan Carlos Osorio, do São Paulo, dividia opiniões. Uns o achavam genial por lançar o alviverde ao ataque e mexer com o psicológico dos jogadores. Outros o consideravam um excelente enrolador.

A carreira de Filpo Núñez como treinador começou em 1948, aos 28 anos, no Independiente de Rivadavia. Era o início de uma perambulação pela América do Sul. Trabalhou no futebol chileno, onde tirou o diploma de técnico, arrumou emprego no Peru, na Venezuela, na Bolívia e até na seleção do Equador. Na Bolívia, conheceu Tim, técnico brasileiro que comandava o Bangu em uma excursão a La Paz. Tim não só virou amigo de Filpo Núñez, como abriu as portas do nosso futebol ao argentino.

Filpo Núñez chegou ao Brasil de mala e cuia em 1955. Amigo de outro treinador brasileiro — Martim Francisco, do Atlético-MG —, foi aconselhado a pedir emprego no Cruzeiro. Conseguiu. Não se deu bem em BH e zarpou para o Atlético-PR. Também não vingou e se infiltrou em São Paulo. Passou por São Paulo, Guarani, Jabaquara, América e Portuguesa Santista. Em 1960, herdou a prancheta do Vasco do técnico uruguaio Ondino Viera. Uma derrota para o Canto do Rio provocou a demissão.

Depois de novas perambulações pelo país, o andarilho assumiu o Palmeiras no lugar de Mario Travaglini e formou a Academia. O Verdão trocava passes de forma rápida e vertical em um esquema batizado por ele de “pim, pam, pum, gol”. Filpo Núñez brilhou, mas o elenco era um primor. O time convidado para representar o Brasil contra o Uruguai tinha Djalma Santos, Julinho Botelho, Djalma Dias, Servílio, Rinaldo e o goleiraço Valdir de Moraes. E jovens como Ademir da Guia e Dudu. Campeão com autoridade do Torneio Rio-São Paulo, o Palmeiras desbancou o Uruguai por 3 x 0 no Mineirão com gols de Rinaldo, Tupãzinho e Germano.

Antes só…

Campeão invicto do Torneio Rio-São Paulo em 1965 à frente do Palmeiras, Filpo Núñez se tornou o primeiro técnico estrangeiro a comandar sozinho a Seleção Brasileira. O ataque alviverde fez 49 gols em 16 partidas — 17 bolas na rede a mais do que o vice, Botafogo.

… Do que bem  acompanhado

Antes de o técnico argentino Filpo Núñez comandar sozinho a Seleção na goleada por 3 x 0 sobre o Uruguai, o português Joreca dividiu a função com Flávio Costa, em 1944. As partidas foram justamente contra a Celeste — uma goleada por 6 x 1 e outra por 4 x 0.

“Enfiamos 3 x 0 no Uruguai. Depois do jogo, eu me sentia como se nada mais tivesse a fazer no futebol”

Filpo Núñez, argentino técnico da Seleção em 7/9/1965