A coluna Máquinas do Tempo desta segunda no Correio: Brasília venceu o Atlético-PR em 1977

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Meninos, eu não vi. Nem era nascido. Mas aconteceu. Achei no fundo do meu baú lá em casa. Mobilizei o Cedoc do Correio e da Gazeta do Povo para confirmar. Estou documentado para dizer: nunca antes na história deste país o Brasília perdeu para o Atlético-PR, próximo adversário colorado na Copa Sul-Americana. Depois de eliminar o Goiás na terça-feira passada, o duelo das oitavas de final contra o Furacão começa no próximo dia 22, no Mané Garrincha. Aconselho o presidente, Luis Felipe Belmonte; o diretor executivo, José Carlos Brunoro; e o técnico Omar Feitosa a pegarem os recortes do jornal da época, produzirem um mural e mostrarem ao bravo elenco atual do Brasília que, no futebol, nada é impossível. Não foi em 16 de outubro de 1977…

Quarentão, o Brasília — fundado em 2 de junho de 1975 — tinha dois anos e quatro meses quando disputou o Brasileirão pela primeira vez. Vaga assegurada após o bi candango em 1977. O colorado conquistou o Torneio Imprensa, a Taça Brasília — como foi chamado o primeiro turno — e o returno. Um dos trunfos do título invicto, com 12 vitórias em 13 jogos, foi o ataque. No total, 45 gols — 25 deles da dupla Julinho (15) e Banana (10). Na defesa, o goleiro Deo de Carvalho e o zagueiro Jonas Foca garantiram ao Brasília o status de melhor defesa da competição doméstica.

O título candango deu acesso à Copa Brasil, como era chamada, à época, a Série A. No total, 62 times disputaram o título do torneio (des)organizado pela CBD. Na distribuição das chaves da primeira fase, o Brasília caiu no Grupo D. Os adversários eram: Americano-RJ, Atlético-PR, Botafogo, Goiás, Goiânia, Goytacaz-RJ, Londrina, Vasco e Vila Nova. Dos 10, cinco avançavam à segunda fase. O elenco do Brasília era um dos mais jovens da elite — média de 22 anos. O técnico Ayrton Nogueira tinha 32 anos. Para se ter uma ideia, Geraldo Galvão, 27, era o mais velho do time. Dezenove profissionais e 10 amadores formavam o elenco de 29 jogadores.

O técnico do Brasília não estava nem aí para a idade. Considerado um “estudioso do futebol”, o técnico — que tinha passagem pelo Ceub — convenceu a garotada de que, à exceção do Botafogo e do Vasco, os outros adversários da chave eram quase tudo “japonês”. A metáfora colou. Na véspera da estreia contra o Atlético-PR, o colega de redação, Irlam Rocha Lima, previu: “O Brasília, com toda certeza, conquistará vitórias, pois enfrentará adversários que lhes são iguais tecnicamente”.

Em 16 de outubro de 1977, o Brasília estreava diante do Atlético-PR, no Estádio Belfort Duarte, hoje Couto Pereira. Aos 34 minutos de jogo, Ernâni Banana abriu o placar, aproveitando um rebote da defesa do Furacão. Ney ampliou aos 10 da etapa final. O Atlético-PR pressionou e diminuiu o placar com Katinha, mas era tarde. O Brasília fazia história. O time avançou à segunda fase, mas deu o azar de cair no Grupo G. Perdeu todos os jogos contra Corinthians, São Paulo, América-RJ e Inter. Resultado: na classificação geral, terminou em 48º lugar entre os 62 clubes. Dos 13 jogos, venceu cinco, empatou um e perdeu sete. Aproveitamento de 28,21% — melhor do que o Vasco, que tem 20,6% na lanterna da Série A deste ano.

Trinta e oito anos depois, o Brasília reencontrará o Atlético-PR. Os tempos são outros. O Furacão foi campeão brasileiro em 2001 e vice em 2004. Chegou à final da Copa do Brasil em 2013; da Libertadores, em 2005; e à semi da Sul-Americana, em 2006. Tem muito mais história para contar no mata-mata das oitavas de final, é verdade, mas não deve desprezar o dia em que nem um Furacão foi capaz de deter o Brasília.