Trauco e o desafio de não virar Soto no Flamengo

Publicado em Esporte
Reportagem do jognal O Globo, em fevereiro de 2000, sobre a chegada de Jorge Soto
Reportagem do jognal O Globo, em fevereiro de 2000, sobre a chegada de Jorge Soto

Candidato a sucessor de Jorge no Flamengo, Miguel Trauco tem, a partir deste sábado, contra o Boavista, às 19h30, na Arena das Dunas, em Natal, a missão de deletar um trauma da memória do torcedor rubro-negro. O último lateral peruano que passou pelo clube era titular de seleção, assinou contrato por seis meses como solução para a ala direita, foi dispensado por deficiência técnica e só ficou três meses na Gávea.

Jorge Soto tinha 28 anos. Era o cara da lateral direita do Peru e do Sporting Cristal. Chegou indicado a dedo pelo técnico Paulo César Carpegiani. Vestiu a camisa e fez até discurso bonito. “O Flamengo tem a maior torcida do mundo e jogar num clube brasileiro tão grande me alegra muito”, afirmou, em 1° de fevereiro de 2000.

Na época, o Flamengo vivia uma crise na lateral direita. Carpegiani havia testado Maurinho, Fabio Baiano, Bruno Carvalho e Pimentel na função e não achava titular. “Soto é um jogador de seleção. Conheço desde as eliminatórias de 1997”, bancou o treinador rubro-negro.

O primeiro peruano a vestir a camisa do Flamengo simplesmente não disputou nenhuma partida oficial pelo clube. Carlos César herdou o cargo de Carpegiani e dispensou o jogador por deficiência técnica. No segundo mês de contrato, Soto foi chamado pelo Peru para disputar a Copa Ouro. Carlos César queria que Soto rejeitasse a convocação. Soto não aceitou e se apresentou ao Peru. Passou 25 dias longe da Gávea, desagradou Carlos César e perdeu espaço definitivamente.

Miguel Trauco chega ao Flamengo bem menos badalado do que Jorge Soto. Em 19 de dezembro, postei aqui no blog a entrevista que fiz com o último técnico de Trauco no futebol peruano. As referências de Roberto Chale foram as melhores possíveis. Na minha opinião, até exageradas. “Vocês vão se surpreender com Trauco. Marcelo é um 10, mas no Real Madrid tem que jogar de lateral-esquerdo. No Universitario, fiz o inverso, usava Trauco como 10 para explorar todo seu potencial. Ele joga e marca”, disse.

Roberto Chale contou ainda que pinçou Trauco em uma visita à província de Nueva Cajamarca. “Ficamos encantados. Nós vimos potencial nele primeiro como lateral-esquerdo. Depois, como um meia avançado pela esquerda, ofensivo. São duas características que o Flamengo pode explorar. Ele se destacou tanto que chegou a ser convocado pelo ex-técnico do Peru (o uruguaio Pablo Bengoechea) para um amistoso contra a Inglaterra, em Wembley”, lembra.

O técnico do Universitario conta o quanto ficou feliz com o reforço. “Eu o trouxe para o Universitario e ele respondeu às mil maravilhas tanto como lateral quanto como meia aberto pela esquerda. Eu asseguro: conheço Trauco tecnicamente, taticamente, ele vai se destacar no futebol brasileiro. A torcida vai gostar dele”, reforça.

Roberto Chale revelou ainda que é colega de Jayme de Almeida, auxiliar do técnico Zé Ricardo, e se colocou à disposição dos colegas para dar todas as informações possíveis sobre Trauco. “Trauco cruza muito bem. Quando estiver em campo, vai dar muitas assistências para Paolo Guerrero. Espero apenas que ele não sinta o peso de jogar numa posição em que o Flamengo teve o Júnior. Sou admirador do Júnior”.

Além de Jorge Soto e de Miguel Trauco, outros laterais estrangeiros tentaram a vida no Flamengo, como o equatoriano Rivera (1996) e recentemente o colombiano Armero (2015). O retrospecto não é nada animador. Que Trauco quebre a escrita.