image Campeão da Copa América em 2007, Dunga piorou: foi eliminado nas quartas de final pelo Paraguai no torneio de 2015 e na fase de grupos pelo Peru em 2016. Foto: Lucas Figueiredo/Mowa Press

Ponto a ponto: 10 tópicos que explicam o fim da segunda era Dunga como técnico da Seleção Brasileira

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1. Conflitos

Na segunda passagem pelo cargo de técnico da Seleção Brasileira, Dunga teve problemas — uns maiores, outros menores — com Jefferson, Maicon, Thiago Silva, Marcelo, Hulk, Robinho e com Neymar depois do empate com o Uruguai, no Recife, pelas Eliminatórias. Jefferson falhou na estreia contra o Chile nas Eliminatórias. Maicon teria cometido indisciplina nos Estados Unidos no início do trabalho. Thiago Silva foi chutado para escanteio depois de cometer uma falha nas quartas de final da Copa América diante do Paraguai. Marcelo é um lenga-lenga que se arrasta desde a primeira passagem do técnico pelo cargo. Hulk pediu para ficar fora da primeira lista de Dunga no começo da segunda era. Robinho ficou bravo por ter sido substituído antes da decisão por pênaltis contra o Paraguai, no Chile. E Neymar fez bico por vários motivos: as não convocações de Marcelo e Thiago Silva, a reserva de Oscar e o fato de estar jogando fora de posição. Dunga não tinha o elenco nas mãos como nas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2010.

2. Ruídos

Escolhido por Dunga para ser o capitão da Seleção Brasileira, Neymar desafiou o técnico da Seleção ao entregar a braçadeira a Thiago Silva depois de ser substituído por Marquinhos em um amistoso contra a Áustria. Houve contradição nas explicações de Neymar e Dunga. “Temos uma coisa chamada organização. Tudo é planejado antes. As coisas dão continuidade. Para vocês algumas coisas podem ser polêmicas, para nós é tranquilo”, afirmou o treinador depois do jogo, mas a explicação de Neymar foi totalmente diferente. “Foi uma coisa natural, não estava programado para eu sair e nem entregar a faixa para o Thiago (Silva)”, disse.

3. Desequilíbrio

Dunga deu ao menos três pisadas de bola nesta segunda passagem pelo cargo. Depois da vitória sobre a Argentina no Superclássico das Américas de 2014, teria provocado um membro da comissão técnica da Argentina à beira do campo ao levar as mãos ao nariz em referência aos problemas do maior ídolo dos hermanos, Diego Armando Maradona, com drogas. Mesmo flagrado pelas câmeras, o treinador explicou que estava se referindo à poluição de Pequim, onde a partida foi disputada. No empate com o Paraguai por 2 x 2, xingou o quarto árbitro ao ficar revoltado com apenas três minutos de acréscimo. Na véspera do mata-mata contra o Paraguai, teve de emitir uma nota no site da CBF pedindo desculpas por ter dito que se achava “afrodescendente, de tanto que apanhou”. Mais tarde, escreveu: “Quero me desculpar com todos que possam se sentir ofendidos com a minha declaração sobre os afrodescendentes. A maneira como me expressei não reflete os meus sentimentos e opiniões”.

4. Padrão de jogo

Poucos jogadores tiveram coragem de reclamar publicamente, mas os métodos de trabalho de Dunga eram contestados internamente pelos jogadores — a maioria deles em ação na Europa. A falta de compactação do time, as variações táticas entre o 4-2-3-1, 4-3-3 e o 4-4-2 e a exposição da defesa, principalmente de jogadores como David Luiz, causaram insegurança no elenco. Basta lembrar o que disse o lateral-direito Daniel Alves depois do empate com o Paraguai. “Se estamos aqui, temos que confiar no trabalho dele (Dunga). Independentemente de gostar ou não, temos que nos adaptar. Viemos de outra filosofia de jogo, outro estilo. Não se trata de estar contente ou infeliz. Temos que abraçar a causa, o treinador, a comissão. Para evoluirmos, temos de abraçar a causa de coração. Se acharmos que nada presta, não vamos evoluir”. Recentemente, Douglas Costa disparou: “Respeito o Dunga, mas Guardiola é diferente”.

5. Transparência

Alguém aí sabe por que o lateral-esquerdo Géfferson, do Internacional, nunca mais foi convocado pelo Dunga? O jogador foi convocado às pressas para a Copa América de 2015, no Chile, para o lugar de Marcelo, sem jamais ter aparecido em nenhuma lista de Dunga até divulgação final dos nomes para o torneio continental disputado no Chile. Depois do fiasco de 2015, o jogador nunca mais foi chamado. Dunga não gostava de falar sobre jogadores que ele não convocava, mas foi no mínimo estranho o chá de sumiço de Géfferson das convocações.

6. Lealdade

Dunga tirou sua responsabilidade da reta quando uma matéria do UOL publicou que o hotel em que a Seleção Brasileira treinou em Viamão (RS) antes do embarque para Assunção tinha como um dos sócios Lúcio, escolhido para ser auxiliar pontual nos jogos contra Uruguai e Paraguai. Em vez de dividir a responsabilidade com Gilmar Rinaldi, jogou a bomba nas mãos do diretor. “Essa não é muito a minha área, é do Gilmar, é técnico. O que eu observo é que tem de ter o campo de treinamento bom, junto com a sala de musculação, as melhores condições. Essa estrutura foi usada pela Fifa em Copa do Mundo, já estive com o Internacional treinando. Temos uma equipe de pessoas que vai observar os hotéis, os campos de treinamento, e depois só me passam a questão técnica, que eu analiso. E a parte burocrática é com o Gilmar”.

7. Copas Américas

Amistosos à parte, a Seleção Brasileira foi um fiasco em jogos e torneios oficiais. Perdeu duas Copas Américas em um ano. Pior do que isso: não chegou sequer às semifinais. Em 2015, só venceu Peru e Venezuela. Perdeu para a Colômbia e empatou com Paraguai, sendo eliminado nos pênaltis. Na Copa América Centenário deste ano, goleou o Haiti por 4 x 1. E só. Empatou com o Equador e perdeu para o Peru. O Brasil caiu na fase de grupos pela primeira vez desde 1987. Só fez gols no Haiti. E o Haiti só balançou a rede do Brasil.

8. Eliminatórias

Dezoito pontos disputados e apenas nove conquistados em seis rodadas. As únicas vitórias foram sobre o Peru e a Venezuela, ambos em casa, além de empates contra Uruguai, Argentina e Paraguai. Pela primeira vez, desde 1993, a Seleção está fora da zona de classificação para a Copa do Mundo. Não acontecia desde que Dunga vestia a camisa 8 naquele time do Carlos Alberto Parreira, que depois conquistou o tetracampeonato, nos Estados Unidos. É a pior campanha verde-amarela nas Eliminatórias no atual formato, em vigor desde a seletiva para o Mundial da França-1998.

9. Enfraquecimento

Dunga caiu no mesmo conto que demitiu Emerson Leão. Lembram da Copa das Confederações de 2001? Leão foi para o torneio no Japão e na Coreia do Sul com um time alternativo. Abriu mão de praticamente todos os titulares e foi com um time modesto para o torneio. Foi eliminado pela França nas semifinais, perdeu a decisão do terceiro lugar para a Austrália e… foi demitido no aeroporto pelo então presidente Ricardo Teixeira. Entrou Luiz Felipe Scolari. Dunga também acreditou que não cairia na Copa América Centenário com uma Seleção remendada, com jogadores que tinham idade olímpica. Pensou que só cairia no caso de insucesso na caça ao inédito ouro nos Jogos Olímpicos do Rio-2016.

10. Incapacidade

A Copa América foi a prova definitiva para o presidente Marco Polo Del Nero de que Dunga não conseguiria consertar a Seleção Brasileira a ponto de blindá-lo da avalanche de denúncias e investigações que rondam seu gabinete na CBF e o apartamento na Barra da Tijuca — a ponto de não viajar para fora do país. Só um treinador que ajude — ainda que indiretamente — o Brasil a conquistar a inédita medalha de ouro e a tirar a levar Seleção Brasileira do sexto lugar nas Eliminatórias Sul-Americanas à Copa do Mundo da Rússia-2018 pode amenizar a turbulência administrativa.