O diabo mora nos detalhes

Publicado em coluna Brasília-DF

O país assiste já meio anestesiado aos desdobramentos da Lava-Jato. Porém, nessa “missa de réquiem” da classe política, de uma forma geral, há alguns aspectos que os citados vão reclamar assim que forem chamados a falar a respeito. Por exemplo, a validade das provas. Há quem esteja convicto de que o acordo de colaboração premiada da Odebrecht, cuja lista de 108 políticos sob investigação começa a surgir, foi feito mediante o compromisso dos 78 colaboradores de não questionem a validade das provas.

Os políticos, entretanto, não têm essa obrigação e se preparam para, logo na largada, pedir que se anule tudo o que tiver sido obtido por debaixo dos panos. E há quem diga inclusive que, se a Odebrecht foi obrigada a concordar em não questionar as provas, logo, há algo a esconder por parte dos investigadores. Essa novela vai começar em breve.

Se não votar a reforma…

Presidentes de partidos da base aliada do governo têm chamado seus parlamentares com a seguinte conversa: se quiser acesso ao fundo partidário, é melhor votar a reforma previdenciária.

… adeus tudo!

No tête-à-tête entram também os cargos que cada um mantém na administração pública. E ainda a tese de que, se não houver uma reforma capaz de recuperar a economia, não haverá discurso para a eleição da própria base.

E o Renan, hein?

Enquanto a lista de Edson Fachin circulava, o líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), estava em Alagoas, em reuniões com prefeitos e o governador Renan Filho. A preocupação dele é com as bases eleitorais. Afinal, Renan não tem saída: ou ele é candidato ao Senado ou estará fora de qualquer disputa eleitoral. É que, com o filho candidato à reeleição, o senador está legalmente impedido de concorrer a outro cargo que não o que ocupa atualmente.

Resta um

Com a inclusão do ex-prefeito do Rio Janeiro Eduardo Paes na lista de investigados, o partido volta os olhos para o ministro do Esporte, Leonardo Picciani, como um provável candidato a governador pelo partido. Se nada acontecer com ele até 2018, é o nome.

Corujão

O listão do ministro Edson Fachin mudou a rotina dos deputados com voos marcados para horários nobres. Não foram poucos que, antes de deixar o plenário ontem à tarde, pediam às secretárias por telefone: “Me põe no último voo ou no primeiro da madrugada”. Tudo, menos ter que enfrentar o eleitor no aeroporto.

CURTIDAS
Ação & reação/ O Senado nem piscou diante da lista do ministro Edson Fachin. Continuou em sessão como se nada tivesse acontecido. Na Câmara, o plenário esvaziou na hora. Ninguém quer ser obrigado a ficar dando explicação. Foram todos comer chocolate, que é considerado antidepressivo.

Ora…/ Voo 6232, da Avianca, do Santos Dumont para Brasília, 11h10. Passada meia hora da decolagem, o comandante pergunta se havia algum médico a bordo. Nada. O jeito foi voltar ao Rio para socorrer uma jovem com falta de ar.

…Pois!/ Diante do retorno, os passageiros quiseram saber se o avião não tinha um kit de primeiros socorros. Sim, tinha. Porém, os comissários só podem abri-lo na presença de um médico.

Imagine o resto…/ Até o deputado Mauro Pereira (PMDB-RS), da base fiel ao presidente Michel Temer, tem dito em conversas reservadas que está com dificuldades em votar a reforma da Previdência.